São Paulo, terça-feira, 20 de setembro de 2011

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Michelangelo 3.0

Jeff Koons, que integra a mostra de 60 anos da Bienal, se compara a mestre renascentista e fala de amor por Cicciolina


‘Saint Benedict’, pintura de Jeff Koons que estará na mostra em homenagem aos 60 anos da Bienal de São Paulo

SILAS MARTÍ
DE SÃO PAULO

Quando tinha 17 anos, Jeff Koons ligou para um hotel em Nova York para falar com o hóspede Salvador Dalí (1904-1989). Foi atendido, e logo o garoto estava frente a frente com o surrealista espanhol.
"Ele vestia um casaco de pele de búfalo e um prendedor de gravata cravejado de diamantes", conta Koons em entrevista à Folha. "Decidi naquele momento que também seria um artista assim."
Koons soube moldar a extravagância a seu favor e segue uma lógica hiperbólica: excessos kitsch, vulgaridade e total falta de vergonha.
Na virada do século, esse americano de 56 anos foi um dos pivôs da entrada das artes visuais na indústria do entretenimento, com poderosas linhas de montagem, orçamentos inflados e estratégias agressivas de marketing que emulam as de Hollywood. Os valores de suas obras -uma delas foi arrematada, em um leilão há três anos, por nada menos que US$ 26 milhões (R$ 46 milhões)- poderiam até bancar um filme.
Entre seus trabalhos mais conhecidos estão cachorrinhos metálicos gigantes, esculturas e pinturas em que aparece transando com a estrela pornô Cicciolina, sua ex-mulher, e uma estátua dourada de Michael Jackson com seu chimpanzé de estimação. Treze de suas obras serão exibidas no país na mostra em homenagem aos 60 anos da Bienal de São Paulo, que começa na próxima terça com um amplo apanhado da arte-espetáculo surgida nos Estados Unidos pré-crise.
"Na cultura americana, você não é artista se não dialoga com Hollywood", resume Koons. "Por isso contratei a Cicciolina como modelo, a mulher como 'ready-made'."
Foi na sessão de fotografias em seu estúdio, diante de 150 assistentes, que ele caiu de amores pela ex-atriz pornô. "Flertamos e ficamos muito apaixonados."
Embora vendido ao mercado da arte como fotogramas de uma fita pornográfica que nunca existiu, Koons chama a série que fez com Cicciolina de diálogo franco com o barroco e o rococó, enxergando ali, sem modéstia, ecos de mestres franceses como Fragonard, Boucher e Manet.
"Sou um artista romântico, não gosto de ficar sozinho no ateliê. Por isso, estou rodeado de gente que me apoia nessa estética", diz Koons. "Não é uma fábrica, não fazemos produtos. Pensamos cada trabalho com o maior grau possível de poesia."
E também a maior escala possível de grandeza. "Nunca faço nada grande só para ser grande, mas certas ideias merecem mais força", afirma. "Sei que artistas competem com política, com a indústria do entretenimento, e sempre quis estar na linha de frente." Se a América adotou celebridades como figuras de culto, Koons esculpiu o ícone desse movimento.
Michael Jackson e seu macaquinho Bubbles são feitos de cerâmica dourada, posando juntos num chão forrado de pétalas de flor reluzentes.
"Ele é uma espécie de Cristo contemporâneo, o tipo de adulação que damos a celebridades é semelhante ao culto a figuras espirituais no passado", diz Koons. "De certa forma, essa obra é próxima da 'Pietà' do Michelangelo."

Leia íntegra da entrevista
folha.com/no977440



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