São Paulo, quarta-feira, 20 de outubro de 2004

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RC muda para permanecer o mesmo no show "Pra Sempre"

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

O gari que irá limpar os beats eletrônicos deixados pelos Chemical Brothers hoje, em sua passagem pelo Pacaembu, tem sangue de plebeu, mas status mais que nobre: chama-se Roberto Carlos, codinome "Rei".
O espanador ultra-romântico das batidas quebradas (e já algo anacrônicas) dos reis magos da eletrônica sobe no sábado ao mesmo palco. Mas o faxineiro capixaba de Cachoeiro do Itapemirim também parece disposto a visitar, ainda que de leve, a fonte da juventude (esse mesmo mito pop que vem tornando cada dia mais datado o niilismo decadente da música eletrônica).
Pelo menos é o que promete o maestro de RC, Eduardo Lages, 57 (o "Rei" em si não costuma dar entrevistas exclusivas, a não ser para a Rede Globo, da qual é funcionário): "Pra Sempre" é um show mais alegre, em que Roberto Carlos está mais leve, aparentemente mais feliz. Tem uma sessão de rock'n'roll, é mais movimentado". Mas "sem perder o romantismo", esclarece.
Seguindo sua veterana filosofia de mudar para permanecer o mesmo, Roberto deve cantar, por exemplo, a profana "Ilegal, Imoral ou Engorda" (76), que toma espaço do até pouco hipertrofiado segmento religioso de seus shows (desse, só o clássico soul-gospel-pop "Jesus Cristo", de 70, está previsto no roteiro de "Pra Sempre").
"Eu pedi, insisti muito para incluir "Ilegal, Imoral ou Engorda", que ele nunca cantou em show e é muito atual", diz Lages, que explica que o repertório foi resolvido entre os dois durante cerca de um mês. "Sugeri que ele voltasse a certas músicas que havia parado de cantar em razão do sofrimento todo por que passou. É seu melhor show em muito tempo, traz de volta o Roberto Carlos de que todo mundo gosta. Para mim é o melhor show dos 27 anos em que trabalho com ele."
Propagandas à parte, Lages conta que RC se mostrou disposto a voltar às canções de sua fase "sensual" -nesse contexto, retornam ao estrelato "Os Seus Botões" (76), "Cavalgada" (77), "Outra Vez" (77), "Café da Manhã" (78).
Também as onipresentes homenagens à mulher morta Maria Rita voltam mais comedidas -devem aparecer em "Pra Sempre" e "Acróstico" (com o cantor ao piano), ambas de seu disco mais recente. "Até as pessoas que são resistentes a esse negócio... a essa fase... são unânimes em dizer que estão bonitas", Lages faz malabarismo com as palavras.
E completa: "Musicalmente não tenho muito a ver com essas canções, não me enchem os ouvidos. Mas é uma coisa muito pessoal, que respeito, só quem passou pelo que ele passou pode ter a medida exata e participar daquilo".
Mas o que encheria os ouvidos de Lages, que vem atuando há 27 anos na padronização dos arranjos do Rei e se diz "empolgado" com "mudanças muito boas de arranjos e pequenas surpresas reservadas ao público"?
"Minha predileta, pela harmonia e pela qualidade musical, é "Olha" (75). Gosto muito de "Debaixo dos Caracóis dos Seus Cabelos" (71). E gosto muito de algumas que ele ainda não está cantando, que têm muito a ver com a minha juventude." Cita, entre essas últimas, as proscritas "Quero que Vá Tudo pro Inferno" (65) e "Namoradinha de um Amigo Meu" (66).
Lages sabe, como todos sabemos, que Roberto é um homem difícil de ser convencido de qualquer coisa -principalmente de voltar a proferir a palavra "inferno", a mesma que o alçou ao status com o qual é tratado até hoje, quase 40 anos depois da sagração como "rei da juventude".
Mais uma mudancinha? A Nestlé, atual patrocinadora do eterno garoto-propaganda, comemora a iniciativa de tentar aproximar um público de menor poder aquisitivo, que pode até hoje trocar ingressos de arquibancada por R$ 10 e latas de produtos da marca.
A assessoria da Nestlé afirma que foram colocados à disposição mais 3.000 ingressos nesse sistema (antes eram 10 mil). Afirma que na sexta-feira já havia vendido mais de 50% daqueles 10 mil, mas não forneceu números atualizados de vendagem do show até a conclusão desta edição.
Mais silêncio vem da gravadora Sony, que não responde nada sobre informações de que o show do Pacaembu seria gravado para virar um DVD e de que, não, o Rei não estaria gravando nenhum novo CD para o final de 2004.


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