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RC muda para permanecer o mesmo no show "Pra Sempre"
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
O gari que irá limpar os beats
eletrônicos deixados pelos Chemical Brothers hoje, em sua passagem pelo Pacaembu, tem sangue de plebeu, mas status mais
que nobre: chama-se Roberto
Carlos, codinome "Rei".
O espanador ultra-romântico
das batidas quebradas (e já algo
anacrônicas) dos reis magos da
eletrônica sobe no sábado ao mesmo palco. Mas o faxineiro capixaba de Cachoeiro do Itapemirim
também parece disposto a visitar,
ainda que de leve, a fonte da juventude (esse mesmo mito pop
que vem tornando cada dia mais
datado o niilismo decadente da
música eletrônica).
Pelo menos é o que promete o
maestro de RC, Eduardo Lages, 57
(o "Rei" em si não costuma dar
entrevistas exclusivas, a não ser
para a Rede Globo, da qual é funcionário): "Pra Sempre" é um
show mais alegre, em que Roberto Carlos está mais leve, aparentemente mais feliz. Tem uma sessão
de rock'n'roll, é mais movimentado". Mas "sem perder o romantismo", esclarece.
Seguindo sua veterana filosofia
de mudar para permanecer o
mesmo, Roberto deve cantar, por
exemplo, a profana "Ilegal, Imoral ou Engorda" (76), que toma
espaço do até pouco hipertrofiado segmento religioso de seus
shows (desse, só o clássico soul-gospel-pop "Jesus Cristo", de 70,
está previsto no roteiro de "Pra
Sempre").
"Eu pedi, insisti muito para incluir "Ilegal, Imoral ou Engorda",
que ele nunca cantou em show e é
muito atual", diz Lages, que explica que o repertório foi resolvido
entre os dois durante cerca de um
mês. "Sugeri que ele voltasse a
certas músicas que havia parado
de cantar em razão do sofrimento
todo por que passou. É seu melhor show em muito tempo, traz
de volta o Roberto Carlos de que
todo mundo gosta. Para mim é o
melhor show dos 27 anos em que
trabalho com ele."
Propagandas à parte, Lages conta que RC se mostrou disposto a
voltar às canções de sua fase "sensual" -nesse contexto, retornam
ao estrelato "Os Seus Botões"
(76), "Cavalgada" (77), "Outra
Vez" (77), "Café da Manhã" (78).
Também as onipresentes homenagens à mulher morta Maria
Rita voltam mais comedidas
-devem aparecer em "Pra Sempre" e "Acróstico" (com o cantor
ao piano), ambas de seu disco
mais recente. "Até as pessoas que
são resistentes a esse negócio... a
essa fase... são unânimes em dizer
que estão bonitas", Lages faz malabarismo com as palavras.
E completa: "Musicalmente não
tenho muito a ver com essas canções, não me enchem os ouvidos.
Mas é uma coisa muito pessoal,
que respeito, só quem passou pelo
que ele passou pode ter a medida
exata e participar daquilo".
Mas o que encheria os ouvidos
de Lages, que vem atuando há 27
anos na padronização dos arranjos do Rei e se diz "empolgado"
com "mudanças muito boas de
arranjos e pequenas surpresas reservadas ao público"?
"Minha predileta, pela harmonia e pela qualidade musical, é
"Olha" (75). Gosto muito de "Debaixo dos Caracóis dos Seus Cabelos" (71). E gosto muito de algumas que ele ainda não está cantando, que têm muito a ver com a
minha juventude." Cita, entre essas últimas, as proscritas "Quero
que Vá Tudo pro Inferno" (65) e "Namoradinha de um Amigo Meu" (66).
Lages sabe, como todos sabemos, que Roberto é um homem
difícil de ser convencido de qualquer coisa -principalmente de
voltar a proferir a palavra "inferno", a mesma que o alçou ao status com o qual é tratado até hoje,
quase 40 anos depois da sagração
como "rei da juventude".
Mais uma mudancinha? A Nestlé, atual patrocinadora do eterno
garoto-propaganda, comemora a
iniciativa de tentar aproximar um
público de menor poder aquisitivo, que pode até hoje trocar ingressos de arquibancada por R$ 10 e latas de produtos da marca.
A assessoria da Nestlé afirma
que foram colocados à disposição
mais 3.000 ingressos nesse sistema (antes eram 10 mil). Afirma
que na sexta-feira já havia vendido mais de 50% daqueles 10 mil,
mas não forneceu números atualizados de vendagem do show até
a conclusão desta edição.
Mais silêncio vem da gravadora
Sony, que não responde nada sobre informações de que o show do
Pacaembu seria gravado para virar um DVD e de que, não, o Rei
não estaria gravando nenhum novo CD para o final de 2004.
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