São Paulo, quinta-feira, 20 de outubro de 2005

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MÚSICA

Aos 79, maior cantor vivo do repertório americano vem pela quarta vez ao Brasil e aprova downloads pela internet

Bennett volta com suas canções atemporais

MÁRVIO DOS ANJOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Manter uma carreira por mais de meio século exige capacidade de se atualizar e de compreender os anseios do público, sem manchar a autonomia do artista. Tony Bennett, 79, fez isso bem.
O cantor, que chega ao Brasil para dois shows em São Paulo (um deles fechado para uma empresa de cartões de crédito) e outro no Rio, soube recomeçar, conquistar fãs após o surgimento do rock, da MTV e, agora, não vê problemas em seduzir o público que faz downloads da internet.
"O problema não é o download, é o imediatismo da música hoje, em que as pessoas fazem música que fica ultrapassada em seis semanas", diz Bennett à Folha. "Cresci numa era em que pensávamos em discos que durassem para sempre. Hoje, está difícil ouvir canções novas realmente boas", afirma, feliz pela facilidade de acesso que os novos fãs têm.
Sobre esse revival das canções dos anos 20, 30 e 40, Bennett não tem dúvidas: "São canções amadas internacionalmente, atemporais. Parece que o mundo todo gosta delas", deleita-se ele, que, nos anos 70, duvidava disso.
O cantor teve de contornar problemas com drogas e precisou da ajuda. Seu filho Danny tomou as rédeas de seus negócios e soube relançar o pai, então uma estrela cadente sem espaço nas rádios.
Hoje, Bennett já retomou seu lugar. Sem a sombra de Frank Sinatra, é indubitavelmente o maior cantor vivo do "great american songbook", esse repertório revisitado até por astros pop como Rod Stewart e Robbie Williams.
"É, eles estão crescendo", analisa Bennett. Tudo isso com uma voz simpática e uma leve inflexão italiana -adquirida no bairro do Queens, em Nova York, quando ainda era um garoto chamado Anthony Dominick Benedetto.
O que faz voltar a Sinatra, também descendente de italianos, igualmente poderoso na interpretação de jazz e standards.
"Em casa, mesmo sendo pobres, meu pai e minha mãe sempre tinham uma vitrola tocando. Crescemos ouvindo as melhores canções, damos importância a melodias como as de Puccini [compositor italiano de óperas]. Acho que é algo que herdamos. Está nos genes, assim como os ingleses são bons em teatro, e os franceses, em pintura", afirma.
Para a voz que imortalizou "I Left My Heart in San Francisco" e "Rags to Riches", o grande desafio de uma carreira com shows lotados ao redor do mundo é se manter em forma. Ainda assim, não sente nostalgia de seus primeiros anos, em que uma voz potente de tenor ainda não tinha dado lugar a um registro médio mais sutil.
"Se você só canta de um jeito, acho que o público só compraria um disco seu", declara. "Os críticos dizem que hoje canto até melhor do que quando jovem. Acho que meu legado é esse: se você se cuidar e gostar de entreter as pessoas, será sempre bem-vindo."
Tudo parece fácil na rotina de Bennett, que admite que sua vida tem sido muito agradável ultimamente, não só como músico mas também na carreira de pintor.
"Recentemente, em Washington, tive a honra de ter um quadro meu comprado pelo Museu Smithsonian. Não esperava que um dia estaria ao lado dos melhores artistas americanos", diz, com inegável orgulho. Admirador do Brasil e amigo de João Gilberto, ele já dedicou ao Rio alguns de seus quadros.
Para os velhos fãs, a quarta vinda de Bennett ao Brasil deverá guardar surpresas, mesmo num repertório bastante conhecido.
"O que tento fazer é o inesperado, imprevisível. Gosto de mudar, cantar um jazz, depois uma balada, algumas canções de musicais, e tenho comigo músicos realmente talentosos", diz ele, que se apresentará aqui com um quarteto de piano, baixo, bateria e guitarra.
É uma formação clássica de jazz, uma das maiores paixões de Bennett, ao lado do beisebol. Ele se mostra sensibilizado com o desastre do furacão Katrina em New Orleans, berço do gênero.
"Aquelas pessoas nunca tiveram uma chance. Era uma área formada apenas por filhos de escravos. Ninguém construiu nada naquela área senão eles. É uma pena que muitas pessoas no mundo se achem superiores demais e tentem manter as outras abaixo delas", lamenta ele.


Tony Bennett
Quando:
amanhã, às 22h, em SP, e sábado, no Rio, às 22h30
Onde: Credicard Hall (av. das Nações Unidas, 17.955, Vila Almeida, região sul, São Paulo, tel. 0/xx/11/6846-6000) e Claro Hall (av. Ayrton Senna, 3000, Cj. 1005, Barra da Tijuca, Rio, 0/xx/21/2156-7300)
Quanto: R$ 150 a R$ 500


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