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MÚSICA
Aos 79, maior cantor vivo do repertório americano vem pela quarta vez ao Brasil e aprova downloads pela internet
Bennett volta com suas canções atemporais
MÁRVIO DOS ANJOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Manter uma carreira por mais
de meio século exige capacidade
de se atualizar e de compreender
os anseios do público, sem manchar a autonomia do artista. Tony
Bennett, 79, fez isso bem.
O cantor, que chega ao Brasil
para dois shows em São Paulo
(um deles fechado para uma empresa de cartões de crédito) e outro no Rio, soube recomeçar, conquistar fãs após o surgimento do
rock, da MTV e, agora, não vê
problemas em seduzir o público
que faz downloads da internet.
"O problema não é o download,
é o imediatismo da música hoje,
em que as pessoas fazem música
que fica ultrapassada em seis semanas", diz Bennett à Folha.
"Cresci numa era em que pensávamos em discos que durassem
para sempre. Hoje, está difícil ouvir canções novas realmente
boas", afirma, feliz pela facilidade
de acesso que os novos fãs têm.
Sobre esse revival das canções
dos anos 20, 30 e 40, Bennett não
tem dúvidas: "São canções amadas internacionalmente, atemporais. Parece que o mundo todo
gosta delas", deleita-se ele, que,
nos anos 70, duvidava disso.
O cantor teve de contornar problemas com drogas e precisou da
ajuda. Seu filho Danny tomou as
rédeas de seus negócios e soube
relançar o pai, então uma estrela
cadente sem espaço nas rádios.
Hoje, Bennett já retomou seu
lugar. Sem a sombra de Frank Sinatra, é indubitavelmente o maior
cantor vivo do "great american
songbook", esse repertório revisitado até por astros pop como Rod
Stewart e Robbie Williams.
"É, eles estão crescendo", analisa Bennett. Tudo isso com uma
voz simpática e uma leve inflexão
italiana -adquirida no bairro do
Queens, em Nova York, quando
ainda era um garoto chamado
Anthony Dominick Benedetto.
O que faz voltar a Sinatra, também descendente de italianos,
igualmente poderoso na interpretação de jazz e standards.
"Em casa, mesmo sendo pobres, meu pai e minha mãe sempre tinham uma vitrola tocando.
Crescemos ouvindo as melhores
canções, damos importância a
melodias como as de Puccini
[compositor italiano de óperas].
Acho que é algo que herdamos.
Está nos genes, assim como os ingleses são bons em teatro, e os
franceses, em pintura", afirma.
Para a voz que imortalizou "I
Left My Heart in San Francisco" e
"Rags to Riches", o grande desafio
de uma carreira com shows lotados ao redor do mundo é se manter em forma. Ainda assim, não
sente nostalgia de seus primeiros
anos, em que uma voz potente de
tenor ainda não tinha dado lugar
a um registro médio mais sutil.
"Se você só canta de um jeito,
acho que o público só compraria
um disco seu", declara. "Os críticos dizem que hoje canto até melhor do que quando jovem. Acho
que meu legado é esse: se você se
cuidar e gostar de entreter as pessoas, será sempre bem-vindo."
Tudo parece fácil na rotina de
Bennett, que admite que sua vida
tem sido muito agradável ultimamente, não só como músico mas
também na carreira de pintor.
"Recentemente, em Washington, tive a honra de ter um quadro
meu comprado pelo Museu
Smithsonian. Não esperava que
um dia estaria ao lado dos melhores artistas americanos", diz, com
inegável orgulho. Admirador do
Brasil e amigo de João Gilberto,
ele já dedicou ao Rio alguns de
seus quadros.
Para os velhos fãs, a quarta vinda de Bennett ao Brasil deverá
guardar surpresas, mesmo num
repertório bastante conhecido.
"O que tento fazer é o inesperado, imprevisível. Gosto de mudar,
cantar um jazz, depois uma balada, algumas canções de musicais,
e tenho comigo músicos realmente talentosos", diz ele, que se apresentará aqui com um quarteto de
piano, baixo, bateria e guitarra.
É uma formação clássica de jazz,
uma das maiores paixões de Bennett, ao lado do beisebol. Ele se
mostra sensibilizado com o desastre do furacão Katrina em New
Orleans, berço do gênero.
"Aquelas pessoas nunca tiveram uma chance. Era uma área
formada apenas por filhos de escravos. Ninguém construiu nada
naquela área senão eles. É uma
pena que muitas pessoas no mundo se achem superiores demais e
tentem manter as outras abaixo
delas", lamenta ele.
Tony Bennett
Quando: amanhã, às 22h, em SP, e
sábado, no Rio, às 22h30
Onde: Credicard Hall (av. das Nações
Unidas, 17.955, Vila Almeida, região sul,
São Paulo, tel. 0/xx/11/6846-6000) e
Claro Hall (av. Ayrton Senna, 3000, Cj.
1005, Barra da Tijuca, Rio, 0/xx/21/2156-7300)
Quanto: R$ 150 a R$ 500
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