São Paulo, sexta-feira, 20 de outubro de 2006 |
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Zeca Pagodinho renova a tradição em novo "Acústico"
Cantor adapta repertório e grava sambas antigos em projeto com clima de gafieira; MTV exibe o programa no domingo
LUIZ FERNANDO VIANNA DA SUCURSAL DO RIO A letra de "Cabô, Meu Pai" (Moacyr Luz/Aldir Blanc/Luiz Carlos da Vila) diz que "A tradição é lanterna/ Vem do ancestral, é moderna/ Bem mais que o modernoso". A faixa é um dos destaques de "Acústico MTV - Zeca Pagodinho 2 - Gafieira", CD que faz do sambista tradicional Zeca o primeiro artista a bisar a série mais conhecida da modernosa MTV. O especial irá ao ar no domingo, às 19h, e o DVD será lançado em novembro. Em tempos em que a indústria fonográfica caduca pateticamente processando quem baixa músicas pela internet e, de outro lado, qualquer ruído vira a maior sensação dos últimos tempos da última semana, Zeca tem a virtude rara de trafegar por todos os lados. É campeão de vendas, popular entre as juventudes abastada e necessitada, e ainda renova a cada disco o que há melhor na linha do tempo do samba. No seu segundo "Acústico", Zeca veste o personagem do crooner de gafieira, tradição da música brasileira riquíssima, mas que não vive um momento de grande projeção. Acompanhado de 31 músicos (afora participações especiais), sendo 15 de sopro, o cantor adapta para o formato peças de seu repertório e lança novas. Nos dois grupos, há altos e baixos. Entre as inéditas, o grande destaque, com toda pinta de sucesso, é "Ratatúia" -gíria para bando, corja. A divertida história de um homem levado à bancarrota pela família da mulher é bem superior à outra novidade da dupla Roberto Lopes/Canário, "Exaustino", sobre um preguiçoso contumaz. "Quando a Gira Girou", mesmo sem uma letra brilhante, é um samba-de-roda com a pegada forte da dupla Serginho Meriti/Claudinho Guimarães. Já "Sururu na Feira" não repete os melhores momentos do Trio Calafrio (Luiz Grande/Marcos Diniz/Barbeirinho do Jacarezinho). Entre as já antigas é que aparece uma das melhores criações do trio, "Dona Esponja". Essa necessidade de gravadora e emissora de haver sucessos recentes no repertório até funciona em "Quem É Ela?" (Zeca/Dudu Nobre), samba que ganha novo vigor com o arranjo de gafieira, mas prejudica em "O Pai Coruja", produto inferior da fórmula de Zé Roberto. O disco se sai melhor quando Zeca tira do baú algumas peças antigas, como "Judia de Mim" (parceria com Wilson Moreira), "Ai que Saudade do Meu Amor" (com Arlindo Cruz) e "Casal Sem-vergonha" (Arlindo/Acyr Marques). Acompanhado da Velha Guarda da Portela, ele ainda regrava "Lenço", um dos melhores sambas de Monarco e Chico Santana. Sem Miltinho É pena que, dentre as coisas que foram cortadas do CD (e estarão no DVD), esteja o encontro de Zeca com Miltinho, representante de primeira dos tempos de apogeu da gafieira. Era o encontro-conceito do projeto, mas sucumbiu aos critérios técnicos e comerciais da edição. Apesar da lacuna, restaram no CD outras versões fundamentais. Na abertura, Zeca emenda "Beija-me" (Roberto Martins/ Mário Rossi), em leve e excelente interpretação, com "Pisei num Despacho" (Geraldo Pereira/Elpídio Vianna). Na parte final, canta "Tive Sim" (Cartola), em que mostra o ótimo cantor romântico que é. A voz de Zeca, aliás, se mostra em vários momentos um tanto enfraquecida pelo tempo -e pelo que fez com ela. Mas seu segredo não está tanto na potência das cordas vocais, e sim na divisão, na malícia e no saber o que está cantando. "Cabô, Meu Pai" é uma exceção, pois já ganhara gravações de Moacyr Luz e do Toque de Prima, mas mesmo assim, sem ser inédita, Zeca resolveu interpretá-la. Talvez por causa do que se disse acima. Ele sabe o que está cantando, e sabe "que a tradição é lanterna/ Vem do ancestral, é moderna/ Bem mais que o modernoso". Zeca agrada à platéia sem tirar os pés do passado que o formou. ACÚSTICO MTV - ZECA PAGODINHO 2 - GAFIEIRA Artista: Zeca Pagodinho Gravadora: Universal Quanto: R$ 30, em média Texto Anterior: CDs Próximo Texto: Por que ouvir Índice |
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