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Crítica/"A Comédia do Poder"
Chabrol vê com sarcasmo engrenagem da corrupção
CRÍTICO DA FOLHA
O plano de abertura de
"A Comédia do Poder"
já vale o filme: um homem poderoso, denominado "o
Presidente", conversa em seu
escritório, dá ordens à secretária, fala no telefone celular, desce o elevador com outra secretária, mais ordens, mais celular,
mais gente que se admira à sua
passagem. Chega ao andar térreo e, quando se prepara para
sair, recebe a ordem de prisão.
Claude Chabrol entra nessa
história para valer. O Presidente é o primeiro de uma lista de
homens poderosos envolvidos
com grossa corrupção (licitações, propinas etc.). Do outro
lado, existe Isabelle Huppert,
ou Jeanne Charmant-Killman,
uma procuradora conhecida
como "a Piranha" -e não por
conta de suas atividades sexuais: é que ela agarra, morde,
faz sangrar (aliás, sua vida pessoal é um fracasso).
À medida que a procuradora
escava o caso, aparecem inúmeros outros envolvidos. Uma
coisa sem fim, que desemboca
na cúpula do Judiciário. Se o
caso é tão grave, por que comédia? O que há de cômico nisso?
Certamente isso vem do sarcasmo com que Chabrol observa o mundo das altas finanças,
das negociatas -enfim, isso
que parece atualidade planetária- e do combate à corrupção.
Mas isso é periférico. Mais do
que tudo, Chabrol se interessa
pela lógica, por seu vínculo íntimo com a cultura francesa. É a
lógica que guia Charmant-Killman, a paixão por desvendar os
elos da cadeia da corrupção.
Ao mesmo tempo, o autor se
interessa mais ainda por aquele
momento em que a lógica se
rompe, em que o programado
sai dos eixos, vencido pelo acaso. É o que veremos no final-surpresa deste filme. Já era assim em seu "Os Primos" (1959).
É assim aqui também.
(IA)
A COMÉDIA DO PODER
Direção: Claude Chabrol
Quando: hoje, às 17h, e seg., às
15h10, no Unibanco Arteplex; sáb.,
às 17h30, no Espaço Unibanco; e dia
29, às 21h, no Cinemark Santa Cruz
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