São Paulo, quarta-feira, 20 de outubro de 2010

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34ª MOSTRA INTERNACIONAL DE CINEMA DE SP

"Só louco ainda faz cinema no Haiti"

Principal cineasta do país mais pobre da América Latina, Arnold Antonin fala de seu filme "Os Amores de um Zumbi"

Dramalhão trash, que teve financiamento do governo francês, conta o périplo de um zumbi em busca da mulher amada

ROBERTO KAZ
DE SÃO PAULO

Em maio de 2009, o Cine Imperial, único cinema de Porto Príncipe, capital do Haiti, foi tomado por um público ansioso pela estreia de "Os Amores de um Zumbi".
O filme de Arnold Antonin, 68, cineasta-grife do país, conta a história do zumbi Zepherin (Ricardo Lefevre) que, liberado da tumba, protagoniza um périplo em busca de seu grande amor, Swamen (Caroline Pierre).
Na saga algo heroica, Zepherin é sabatinado em uma coletiva de imprensa (isso mesmo) e convidado a se candidatar à Presidência do país, sob a justificativa de que o Haiti "é um lugar de pessoas mortas, onde todos são zumbis".
A história foi filmada em vídeo. Após estrear em 15 países, "Os Amores de um Zumbi" tem sessão marcada para sexta-feira, na Mostra de Cinema de São Paulo.
Antonin, autor de mais de 40 filmes, falou à Folha sobre cinema haitiano, a presença brasileira em seu país (por meio da missão da ONU) e o terremoto que devastou Porto Príncipe, em janeiro.

Folha - Quanto custa fazer um filme no país com o pior índice de desenvolvimento humano da América Latina? Arnold Antonin - Para "Os Amores de um Zumbi", conseguimos 50 mil (R$ 117 mil) com a Embaixada Francesa e colocamos outros US$ 50 mil (R$ 84 mil). O filme ficou em cartaz por dois meses no único cinema que havia no país, antes de ser fechado em dezembro. Filmamos em digital. Não há dinheiro para comprar película. Só louco ainda faz cinema no Haiti.

No filme, o zumbi Zepherin é alçado à posição de presidenciável. Havia uma razão política na escolha de um defunto como protagonista? Havia razões políticas, culturais e estéticas. Na cultura haitiana, o zumbi é figura conhecida, uma espécie de bobo da corte. Queria fazer dele um herói, alguém que é mais vivo do que os vivos, porque guiado pelo amor.

Desde 2004, o Brasil comanda a missão de paz da ONU em seu país. Como o sr. avalia essa presença? Sem a missão, o caos que reina seria pior. Mas deveria haver um projeto de substituição por forças haitianas, o que não foi feito.

Onde o sr. estava quando ocorreu o terremoto que devastou o país, em janeiro? Em casa, com minha mulher. De repente, a mesa começou a tremer. Corremos para fora, pensando a mesma coisa: "Ele chegou". Fazia dois anos que os cientistas alarmavam para a possibilidade de um terremoto. Perdi mais de 20 amigos.

Qual foi sua reação imediata? Liguei para o meu cameraman, para que filmássemos o que estava acontecendo. Na manhã seguinte, comecei a fazer o documentário "Crônica de um Desastre Anunciado, ou "Haiti Apocalipse Now". Alguém precisava retratar a tragédia do ponto de vista haitiano.


OS AMORES DE UM ZUMBI
DIREÇÃO Arnold Antonin
QUANDO dias 22/10 e 23/10, às 23h50, e 24/10, às 22h20, no Unibanco Arteplex
CLASSIFICAÇÃO 16 anos




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