São Paulo, quarta-feira, 20 de outubro de 2010

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CRÍTICA TRAGÉDIA

"RockAntygona" se perde na busca pela verdadeira rebeldia

CHRISTIANE RIERA
CRÍTICA DA FOLHA

Dirigida por Guilherme Leme, "RockAntygona", uma adaptação da tragédia grega "Antígona" de Sófocles, tem a estrutura musical do estilo proposto. Com batida rápida e ritmo marcado, a montagem evolui com som alto e notas persistentes.
Sem o coro, a trama é reduzida aos personagens principais. Antygona perde seus dois irmãos na batalha de Tebas. Por ter defendido a cidade, Etéocles foi sepultado com pompas militares.
No lado oposto, "amigo do inimigo contra a própria terra", lutou Polinices. Seu corpo insepulto servirá de caça aos abutres, segundo decisão irrevogável do rei Creonte. Em defesa de um sepultamento digno para o seu irmão, Antygona despende suas forças para honrar sua família junto à lei dos deuses.

SOM E FÚRIA
No papel da heroína, a atriz Miwa Yanagizawa abre a peça em cólera: "Será que existe alguma desgraça que ainda me resta?".
Simbolizando o enterro do irmão, raro momento dramático é sua travessia por um corredor de pedras, elemento marcante que racha o cenário ao meio e resulta em panorama árido, criado por Aurora dos Campos. Ao fundo, uma mesa comprida deixa claro que este universo é regido pela tecnocracia. No centro, impera Creonte, interpretado por Luis Melo com tom fervoroso e abusivo.
A entrada em cena de seu filho, Hémon (Armando Babaioff), acontece sob acordes de guitarra, que pontuam seus movimentos robóticos.
Sua submissão às ordens paternas será logo destruída pelo espírito de resistência de sua amada, Antygona.
É aqui que a opção pelo rock como linguagem mais aguerrida se manifesta. Se o esforço é encontrar nos jovens a rebeldia, o que fazer com o conflito trágico central, que nasce de leis rígidas por ambos os lados? Antygona segue a tradição dos deuses. Creonte representa a nova ordem, a lei da cidade.
Resta a questão: onde está a verdadeira transgressão?


ROCKANTYGONA
QUANDO sex. e sáb., às 21h, dom., às 19h30; até 14/11
ONDE teatro Sesc Santana (av. Luiz Dumont Villares, 579, tel. 0/xx/11/2971-8700)
QUANTO R$ 20
CLASSIFICAÇÃO 16 anos
AVALIAÇÃO regular




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