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"JACK KEROUAC - O REI DOS BEATNIKS"
Mito beat volta à cena em biografia
JOCA REINERS TERRON
ESPECIAL PARA A FOLHA
Mitos como "Jack Kerouac
-O Rei dos Beatniks" estão
sempre em trânsito. Enquanto
persistirem os espíritos românticos, permanecerão as lendas como ele, Morrison, Cobain, além
do pai de todos, Rimbaud. Assim
previu Henry Miller, "Creio que
há muitos Rimbaud neste mundo, e que seu número crescerá
sempre". O próprio Miller era um
perpetrador do gene.
E de novo Jack está de volta. Os
indícios de seu retorno se espalham por aí desde o ano passado.
Primeiro o monólogo "Kerouac",
de Maurício Mendonça, com direção de Fauzi Arap e, mais recentemente, a edição de títulos fora
de catálogo.
Porém, ao contrário de lá fora,
por aqui não existem aquelas biografias recheadas de fotos, que
turbinam ainda mais o mito. O
único livro do gênero publicado
no Brasil ("Kerouac, uma Biografia", de Ann Charters) está fora
das estantes há anos.
Daí a importância deste novo livro de Antonio Bivar, além de dar
um gás na lendária coleção Encanto Radical, da Brasiliense.
Com velocidade igual à vida do
escritor nascido em Lowell, Massachusetts, em 1922, Bivar nos
narra as desventuras picarescas
de Jack da infância assombrada
pelo catolicismo materno e pela
doença do irmão mais velho Gerard (morto de febre reumática
aos 9 anos), até a ênfase na cena
beat do decênio de 1950.
Kerouac namorou o fracasso
desde cedo. Filho de imigrantes
franco-canadenses que mudaram
para a Nova Inglaterra em busca
de trabalho, seu pé-frio deu mostras da temperatura tão cedo
quanto pôde. Depois de se destacar como zagueiro no time de futebol da Universidade de Columbia, ainda no primeiro ano Jack
quebrou a tíbia, encerrando sua
carreira de atleta. Em plena Nova
York dos anos 40, não lhe restou
nada, a não ser assistir shows de
Lester Young e Duke Ellington no
Apollo, além de testemunhar o
surgimento do bebop de Charlie
Parker e Dizzy Gillespie.
Mas o azar não era a única especialidade de Kerouac: apesar de
seus esforços para ser convocado
para a guerra, nada conseguiu, a
não ser um emprego na marinha
mercante. Depois de algumas viagens e da desistência da carreira
no mar, Jack deixou o emprego.
Na viagem seguinte, seu navio
afundou e mil homens morreram.
Depois disso Kerouac cravou
fundo a sola na boemia, conheceu
Ginsberg, Burroughs, e pronto: o
Olimpo beatnik estava armado.
Faltava apenas surgir seu alter ego
ideal, Neal Cassady. Com ele, Kerouac inauguraria a dupla que
protagonizou livros como "On
the Road" e "Visions of Cody". O
fim dessa estrada, em Lowell, deu
numa ressaca nada idealizável e
na morte, bêbado, aos 47 anos.
Joca Reiners Terron é autor de "Hotel
Hell" (ed. Livros do Mal), entre outros livros
Jack Kerouac - O Rei dos Beatniks
Autor: Antonio Bivar
Editora: Brasiliense
Quanto: R$14,70 (128 págs.)
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