São Paulo, sábado, 20 de novembro de 2004

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"JACK KEROUAC - O REI DOS BEATNIKS"

Mito beat volta à cena em biografia

JOCA REINERS TERRON
ESPECIAL PARA A FOLHA

Mitos como "Jack Kerouac -O Rei dos Beatniks" estão sempre em trânsito. Enquanto persistirem os espíritos românticos, permanecerão as lendas como ele, Morrison, Cobain, além do pai de todos, Rimbaud. Assim previu Henry Miller, "Creio que há muitos Rimbaud neste mundo, e que seu número crescerá sempre". O próprio Miller era um perpetrador do gene.
E de novo Jack está de volta. Os indícios de seu retorno se espalham por aí desde o ano passado. Primeiro o monólogo "Kerouac", de Maurício Mendonça, com direção de Fauzi Arap e, mais recentemente, a edição de títulos fora de catálogo.
Porém, ao contrário de lá fora, por aqui não existem aquelas biografias recheadas de fotos, que turbinam ainda mais o mito. O único livro do gênero publicado no Brasil ("Kerouac, uma Biografia", de Ann Charters) está fora das estantes há anos.
Daí a importância deste novo livro de Antonio Bivar, além de dar um gás na lendária coleção Encanto Radical, da Brasiliense. Com velocidade igual à vida do escritor nascido em Lowell, Massachusetts, em 1922, Bivar nos narra as desventuras picarescas de Jack da infância assombrada pelo catolicismo materno e pela doença do irmão mais velho Gerard (morto de febre reumática aos 9 anos), até a ênfase na cena beat do decênio de 1950.
Kerouac namorou o fracasso desde cedo. Filho de imigrantes franco-canadenses que mudaram para a Nova Inglaterra em busca de trabalho, seu pé-frio deu mostras da temperatura tão cedo quanto pôde. Depois de se destacar como zagueiro no time de futebol da Universidade de Columbia, ainda no primeiro ano Jack quebrou a tíbia, encerrando sua carreira de atleta. Em plena Nova York dos anos 40, não lhe restou nada, a não ser assistir shows de Lester Young e Duke Ellington no Apollo, além de testemunhar o surgimento do bebop de Charlie Parker e Dizzy Gillespie.
Mas o azar não era a única especialidade de Kerouac: apesar de seus esforços para ser convocado para a guerra, nada conseguiu, a não ser um emprego na marinha mercante. Depois de algumas viagens e da desistência da carreira no mar, Jack deixou o emprego. Na viagem seguinte, seu navio afundou e mil homens morreram.
Depois disso Kerouac cravou fundo a sola na boemia, conheceu Ginsberg, Burroughs, e pronto: o Olimpo beatnik estava armado. Faltava apenas surgir seu alter ego ideal, Neal Cassady. Com ele, Kerouac inauguraria a dupla que protagonizou livros como "On the Road" e "Visions of Cody". O fim dessa estrada, em Lowell, deu numa ressaca nada idealizável e na morte, bêbado, aos 47 anos.


Joca Reiners Terron é autor de "Hotel Hell" (ed. Livros do Mal), entre outros livros

Jack Kerouac - O Rei dos Beatniks
   
Autor: Antonio Bivar
Editora: Brasiliense
Quanto: R$14,70 (128 págs.)



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