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Decadência sem elegância
Sob pressão, redes podem tirar do ar João Kléber, Ratinho e Márcia, ícones da baixaria televisiva
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Imagine uma televisão sem João
Kléber, Ratinho e Márcia
Goldschmidt. Pois o sonho de
consumo da patrulha antibaixaria
tem chance de se realizar. Os três
grandes ícones da programação
trash brasileira sofreram fortes
golpes recentemente e correm o
risco de levar cartão vermelho das
emissoras que hoje os abrigam.
Com a possível queda do "império" surgido há quase dez anos
e marcado por brigas no palco,
testes de DNA e de fidelidade, pegadinhas e dramas forjados, surge
a nova fase do mau gosto, movida
a auto-ajuda e a fofoca de pseudo-celebridades.
Da nova vertente, os maiores representantes são Luciana Gimenez, com o "Superpop" (Rede
TV!), e Gilberto Barros, do "Boa
Noite, Brasil" (Band).
No sapato da, digamos, "velha-guarda" trash há três pedras: 1) o
ibope já não é mais o mesmo dos
áureos tempos; 2) grandes anunciantes se afastaram pressionados
pela campanha Quem Financia a
Baixaria É contra a Cidadania, da
Câmara dos Deputados; 3) o Ministério Público criou uma estrutura de controle da programação
e endureceu com as redes.
Pára, pára, pára
É exatamente essa lista tríplice
de argumentos que faz com que a
cúpula da Rede TV! esteja seriamente inclinada a se livrar de João
Kléber e de seu bordão "pára, pára, pára" a partir de 2006.
No Ibope, seu desempenho já
não é dos melhores.
A situação de João Kléber se agravou muito na semana passada,
quando a Justiça tirou a Rede TV!
do ar em São Paulo em razão de
seu programa "Tarde Quente".
Desta vez, a denúncia foi por
ofensa a homossexuais, mas o
apresentador já foi acusado de
humilhar mulheres, de armar o
"Teste de Fidelidade" e outras brigas e até de simular o próprio desmaio ao vivo. Liderou por várias
vezes o ranking da baixaria da Câmara dos Deputados. Diante de
tanta confusão e de uma imagem
cada vez pior, João Kléber perdeu
um de seus grandes financiadores, a Marabraz.
Assim que foi informada da liminar que determinava a suspensão do "Tarde Quente" por 60
dias, a direção da rede de móveis
decidiu cortar o patrocínio ao
programa do apresentador. Em
comunicado, a empresa afirmou
que sua "missão é trabalhar para
o bem-estar de seus consumidores e da comunidade". "Por isso,
em virtude das ações contra a veiculação de programas que incentivam a baixaria na TV, a empresa
optou por atender aos anseios da
comunidade, suspendendo o patrocínio ao programa "Tarde
Quente", de João Kléber."
Esse pode ter sido o xeque-mate
contra o apresentador. A Folha
deixou recado em seu celular, mas
não obteve retorno até a conclusão desta edição, na noite de quinta. A assessoria de imprensa da
Rede TV! afirmou que o apresentador estava em Portugal, onde
seu programa é exibido com sucesso de audiência.
Em junho deste ano, quando liderou o ranking da campanha
contra a baixaria, o apresentador
deu a seguinte declaração à Folha:
"Eu procurei a organização da
campanha para me informar sobre os critérios do ranking, mas
percebi que se pretende interferir
na liberdade de criação e de expressão artística, como que querendo impor ao telespectador o
que ele deve ou não assistir. Ao
que parece, a grande inovação
tecnológica chamada controle remoto não chegou ao conhecimento de alguns".
Na toca
Espécie de "pai" de João Kléber,
Carlos Massa, o Ratinho, há tempos já não é mais o mesmo que
surrava a mesa com um cassetete,
gritava sem parar e quebrava televisores diante das câmeras. Sua
mudança para um programa
mais "light" é reflexo da pressão
de ações judiciais por danos morais, falta de anunciantes de grande porte e queda de audiência.
Diante disso, Silvio Santos colocou em prática sua especialidade:
mudar várias vezes o programa
de formato e de horário.
Só neste ano, o "Programa do
Ratinho" foi trocado quatro vezes
de lugar na grade de programação. Terminou fora do horário
nobre (ocupado por Ana Paula
Padrão e novelas) e teve de engolir o vespertino, com menos telespectadores. Além disso, Silvio
Santos cogitou trocar seu nome
para "Isto É Brasil", "Ratinho Late
Show" e até "Ratinho Charmoso"
(numa tentativa de "suavizar" a
imagem do apresentador). Resolveu manter o clássico, mas mudar
o formato. Ratinho é agora âncora de um "jornalístico" popular,
com reportagens de comportamento e auto-ajuda de saúde.
Diante de tantas mudanças,
Carlos Massa está enfraquecido
nos bastidores e enfrenta especulações de novas trocas de horário
e até da possibilidade de Silvio
Santos não renovar seu contrato.
Ratinho foi procurado pela Folha por meio de sua assessoria de
imprensa, que não retornou as ligações até a conclusão desta edição. A assessoria do SBT nega que
a emissora tenha planos de tirar o
"Programa do Ratinho" do ar.
Afirma que "o conteúdo foi alterado, o que gerou qualificação de
público e de anunciantes".
Saias
Representante feminina da década trash, Márcia Goldschmidt
já foi apelidada de "João Kléber de
saias" e, assim como ele, vive uma
crise profissional. Neste ano, a
Bandeirantes a vendeu como a
"Oprah" brasileira (em referência
à bem-sucedida apresentadora
norte-americana), apostando numa "plástica" capaz de tirar de
Márcia a imagem de "barraqueira". Não colou. Dois meses após a
estréia de seu "Jogo da Vida" diário, a direção da Band decidiu suspender as gravações. As reprises
vão ao ar até dezembro, e em 2006
o programa sai do ar.
A reportagem deixou recado no
celular da apresentadora, mas
também não obteve resposta. Em
agosto, ao ser questionada pela
Folha se conseguiria apagar sua
imagem do passado, ela respondeu: "Acho que essa imagem não
existe, é uma percepção errada. A
Band não apostaria numa apresentadora com uma imagem prejudicial. Pode ser que em algum
momento tratar da realidade tenha sido considerado barraco,
mas então a vida é um grande barraco e não posso fazer nada".
Por último, há Sérgio Mallandro, com um programa trash independente exibido aos sábados
na Gazeta, que, não raro, registra
traço de audiência no Ibope.
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