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Novo trash aposta em fofoca de famosos e auto-ajuda
DA REPORTAGEM LOCAL
Enquanto João Kléber, Ratinho
e Márcia Goldschmidt estão em
baixa, a TV tem cada vez mais
"opções" de programas com fofocas de celebridades e auto-ajuda.
O "Superpop", de Luciana Gimenez (Rede TV!), é o "rei" dos
artistas que estão fora da mídia.
Coloca, por exemplo, ex-chacretes diante de uma saraivada de
perguntas "construtivas" sobre
seu passado sexual e a dificuldade
de sobreviver após a fama. Com a
desculpa de "prestar serviço", expõe casais com pouca roupa no
palco para "ensinar" posições sexuais e abusa de mulheres seminuas para as "dicas de estética".
Seu grande concorrente é Gilberto Barros, do "Boa Noite, Brasil". Apresentador da Band, ele foi
o substituto de Ratinho na Record
em 1998 (estreou o "Leão Livre",
no lugar do "Ratinho Livre"). Barros também coloca "celebridades" como ex-"Big Brothers" e ex-"Casa dos Artistas" para "abrir o
jogo sobre a vida pessoal e profissional". Os quase famosos fazem
cara de nojo ao degustar comidas
exóticas como olho de cobra.
Classificado como programa feminino, o "Bom Dia, Mulher"
(Rede TV!), de Olga Bongiovanni,
tem derrapado para a baixaria. Há
um mês, colocou no ar a ex-mulher de um cantor que o acusava
de ser homossexual. Pela "entrevista", sofreu uma ação judicial.
Outra novidade da Rede TV! é o
"Encontro Marcado", com Luiz
Gasparetto (fundador de um centro espírita), e o claro investimento na auto-ajuda eletrônica.
No SBT, há o "Casos de Família", no qual a apresentadora, Regina Volpato, é uma espécie de
"juíza" dos convidados, que lavam roupa suja no ar. Na semana
passada, uma moça acusava o
marido de ser pior que o ex "na
intimidade". Na cama, explicou,
"o Brasil só entra em campo por
cinco minutos". "Com meu ex era
[sic] duas horas. Pra que eu quero
cinco minutos, Regina?", questionava a mulher, em plena tarde,
horário liberado para crianças.
Há ainda o espaço garantido
dos telefofoqueiros "clássicos",
como Sonia Abrão, na Record, e
Leão Lobo, na Bandeirantes.
Fenômeno cíclico
A baixaria na TV é um fenômeno cíclico, na opinião de especialistas consultados pela Folha. O
sociólogo Laurindo Lalo Leal,
professor da USP e um dos criadores da ONG TVer, acredita que
"estão em baixa os ícones da baixaria, mas ela volta de outra forma". "Sempre existiram na TV
episódios de mau gosto. Mas a
baixaria se acentuou com a disputa mais acirrada por audiência, e o
ciclo iniciado por Ratinho há dez
anos só começa a cair agora em
razão da pressão de campanhas,
ONGs e do Ministério Público."
Para ele, a sociedade passou a
pressionar as TVs por estar mais
consciente de que são concessões
públicas. "Mas a briga por uma
TV melhor será permanente."
Para o sociólogo Sérgio Miceli,
também professor da USP e autor
de um ensaio sobre o poder da
TV, o Ministério Público endureceu desde 2003, quando Gugu Liberato exibiu a falsa entrevista
com a facção criminosa PCC.
"Aquele episódio foi pedagógico
do limite a que a coisa pode chegar. Isso trouxe também uma autodomesticação das redes." Mas,
opina, novos nomes virão. "A TV
é mais do mesmo. Não há muita
saída, ela tem de ser assim mesmo."
(LM)
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