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Antologia reúne grandes tiradas do "Planeta Diário"
Jornal comandado pelos humoristas Reinaldo Figueiredo,
Hubert e Cláudio Paiva era "filho rebelde" de "O Pasquim'
Publicação circulou com
"notícias exclusivas" como
"Papa põe ovo na Missa do
Galo" e "Nelson Ned é o novo
Menudo", entre 1984 e 1992
MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DA REPORTAGEM LOCAL
Na segunda metade da década de 1980, nenhum jornal deu
furos como ele. "Nelson Ned é o
novo Menudo", "Ozzy Osbourne morde Ivan Lins" e "Papa
põe ovo na Missa do Galo" foram algumas das "notícias" em
primeira mão que só "O Planeta Diário" deu, com sua filosofia
de "jornalismo mentira, humorismo verdade", que mais tarde
se tornaria slogan.
É parte da história dessa publicação mensal -metade do
que hoje é a bem-sucedida trupe Casseta & Planeta- que a
editora Desiderata reuniu na
recém-lançada coletânea "O
Planeta Diário - O Melhor do
Maior Jornal do Planeta".
O livro é uma espécie de seqüência natural para as antologias do "Pasquim" que a editora
lançou, já que o "Planeta" é filho direto deste, de onde vieram seus três criadores -Cláudio Paiva, Hubert Aranha e Reinaldo Figueiredo.
Um filho rebelde, como Hubert explica à Folha. "Tínhamos vontade de fazer um humor diferente do que fazíamos no "Pasquim". Achamos que o
jornal estava ficando muito politizado, queríamos um humor
mais descompromissado e tínhamos limitações no jornal,
não dava para fazer uma revolução ali, a deles já tinha sido
na década de 70."
Em dezembro de 1984, sairia
a primeira das 84 edições (até
1992) da idéia de revolução humorística do trio. "O Planeta
Diário" chegou às bancas com
seu nome roubado do jornal
das histórias do Super-Homem, de onde vinha também o
editor Perry White -pseudônimo sob o qual a trinca escreveria uma coluna semanal de
humor na Folha, até o conglomerado Warner/DC, dono da
marca do Homem de Aço, vetar
seu uso.
Test-drive da abertura
As manchetes da primeira
edição -como "Maluf se entrega à polícia" e "Newton Cruz
prende Deus"- já mostravam o
tipo de humor abusado que o
"Planeta" queria inaugurar.
"Fizemos o test-drive da
abertura política. Era a época
em que estavam alardeando
que a imprensa voltaria a ter liberdade. A graça era falar o que
ninguém falava", explica Reinaldo.
O teste foi bem-sucedido,
não apenas em termos de liberdade de expressão ("Nunca tivemos problemas com o governo", diz Reinaldo), mas também nas vendas em banca.
"Em um ano, já tínhamos tiragem de 120 mil exemplares,
todo mundo queria participar,
os artistas faziam nossas fotonovelas", diz Hubert. Entre as
celebridades que toparam participar estavam atores como
Fernanda Montenegro, Ítalo
Rossi e Sérgio Britto, músicos
como Os Paralamas do Sucesso
e Cazuza e parceiros da "Casseta Popular", como Bussunda.
Entre os maiores sucessos do
jornal estavam os folhetins de
Eleonora V. Vorsky (escritos
por Alexandre Machado, hoje
roteirista de seriados como "Os
Normais" e "O Sistema"), "A
Vingança do Bastardo" e "Calor
na Bacurinha - A Biografia da
Prima Roshana" -ambos editados em livro, posteriormente.
Politicamente correto
Quem acompanha o "Casseta
& Planeta" certamente notará
diversas semelhanças. Mas, se
o humor com políticos e celebridades continua no mesmo
tom, é nítido que a síndrome do
politicamente correto de anos
recentes cobrou seu preço.
Textos do jornal como "Candidatos epilépticos se debatem
na TV" e "África do Sul proíbe
negros de cagar na entrada e na
saída" não têm mais vez na TV.
"Hoje pensamos nas pessoas, é
um público maior, tem certos
assuntos que são mais difíceis,
como religião. É difícil colocar
isso na TV, porque muita gente
vai se sentir ofendida, não podemos fazer algo para ofender
as pessoas", diz Hubert.
O PLANETA DIÁRIO
Autores: Cláudio Paiva, Hubert Aranha e Reinaldo Figueiredo
Editora: Desiderata
Quanto: R$ 50, em média (348 págs.)
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