São Paulo, terça-feira, 20 de novembro de 2007

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Antologia reúne grandes tiradas do "Planeta Diário"

Jornal comandado pelos humoristas Reinaldo Figueiredo, Hubert e Cláudio Paiva era "filho rebelde" de "O Pasquim'

Publicação circulou com "notícias exclusivas" como "Papa põe ovo na Missa do Galo" e "Nelson Ned é o novo Menudo", entre 1984 e 1992

MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DA REPORTAGEM LOCAL

Na segunda metade da década de 1980, nenhum jornal deu furos como ele. "Nelson Ned é o novo Menudo", "Ozzy Osbourne morde Ivan Lins" e "Papa põe ovo na Missa do Galo" foram algumas das "notícias" em primeira mão que só "O Planeta Diário" deu, com sua filosofia de "jornalismo mentira, humorismo verdade", que mais tarde se tornaria slogan.
É parte da história dessa publicação mensal -metade do que hoje é a bem-sucedida trupe Casseta & Planeta- que a editora Desiderata reuniu na recém-lançada coletânea "O Planeta Diário - O Melhor do Maior Jornal do Planeta". O livro é uma espécie de seqüência natural para as antologias do "Pasquim" que a editora lançou, já que o "Planeta" é filho direto deste, de onde vieram seus três criadores -Cláudio Paiva, Hubert Aranha e Reinaldo Figueiredo.
Um filho rebelde, como Hubert explica à Folha. "Tínhamos vontade de fazer um humor diferente do que fazíamos no "Pasquim". Achamos que o jornal estava ficando muito politizado, queríamos um humor mais descompromissado e tínhamos limitações no jornal, não dava para fazer uma revolução ali, a deles já tinha sido na década de 70."
Em dezembro de 1984, sairia a primeira das 84 edições (até 1992) da idéia de revolução humorística do trio. "O Planeta Diário" chegou às bancas com seu nome roubado do jornal das histórias do Super-Homem, de onde vinha também o editor Perry White -pseudônimo sob o qual a trinca escreveria uma coluna semanal de humor na Folha, até o conglomerado Warner/DC, dono da marca do Homem de Aço, vetar seu uso.

Test-drive da abertura
As manchetes da primeira edição -como "Maluf se entrega à polícia" e "Newton Cruz prende Deus"- já mostravam o tipo de humor abusado que o "Planeta" queria inaugurar. "Fizemos o test-drive da abertura política. Era a época em que estavam alardeando que a imprensa voltaria a ter liberdade. A graça era falar o que ninguém falava", explica Reinaldo.
O teste foi bem-sucedido, não apenas em termos de liberdade de expressão ("Nunca tivemos problemas com o governo", diz Reinaldo), mas também nas vendas em banca.
"Em um ano, já tínhamos tiragem de 120 mil exemplares, todo mundo queria participar, os artistas faziam nossas fotonovelas", diz Hubert. Entre as celebridades que toparam participar estavam atores como Fernanda Montenegro, Ítalo Rossi e Sérgio Britto, músicos como Os Paralamas do Sucesso e Cazuza e parceiros da "Casseta Popular", como Bussunda.
Entre os maiores sucessos do jornal estavam os folhetins de Eleonora V. Vorsky (escritos por Alexandre Machado, hoje roteirista de seriados como "Os Normais" e "O Sistema"), "A Vingança do Bastardo" e "Calor na Bacurinha - A Biografia da Prima Roshana" -ambos editados em livro, posteriormente.

Politicamente correto
Quem acompanha o "Casseta & Planeta" certamente notará diversas semelhanças. Mas, se o humor com políticos e celebridades continua no mesmo tom, é nítido que a síndrome do politicamente correto de anos recentes cobrou seu preço. Textos do jornal como "Candidatos epilépticos se debatem na TV" e "África do Sul proíbe negros de cagar na entrada e na saída" não têm mais vez na TV.
"Hoje pensamos nas pessoas, é um público maior, tem certos assuntos que são mais difíceis, como religião. É difícil colocar isso na TV, porque muita gente vai se sentir ofendida, não podemos fazer algo para ofender as pessoas", diz Hubert.


O PLANETA DIÁRIO
Autores:
Cláudio Paiva, Hubert Aranha e Reinaldo Figueiredo
Editora: Desiderata
Quanto: R$ 50, em média (348 págs.)


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