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Atores e diretores renovam legião "gringa" em SP
No Teatro Oficina, alemã Juliane Elting já interpretou vaca e cavalo; italiana Valentina Lattuada tem papel central em montagem do CPT
"Delegação" estrangeira conta ainda com Mauro Vedia (uruguaio), Thomas Holesgrove (australiano) e Alvise Camozzi (italiano)
CRISTINA LUCKNER
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma se juntou à trupe do
Teatro Oficina depois de ser "a
única alemã de quem eles conseguiram tirar a roupa" e, três
anos (e papéis de vaca e cavalo)
depois, não se acanha em soltar
gírias como "truta" e "firmeza".
A outra saiu de Milão "na louca" em 2006 e, "inventando palavras e acertando algumas", foi
parar no Centro de Pesquisa
Teatral de Antunes Filho.
Na ala masculina da imigração para os palcos paulistanos,
há quem tenha vindo do Uruguai "atrás do trio elétrico". Ou
da Austrália, por obra dos orixás. Ou da Itália, por amor.
Mais de 65 anos após a chegada do ator e diretor polonês
Zibgniew Ziembinski (1908-1978), um dos fiadores do teatro brasileiro moderno (leia
mais ao lado), nomes como Juliane Elting, Valentina Lattuada, Mauro Baptista Vedia, Thomas Holesgrove e Alvise Camozzi renovam a legião estrangeira nas coxias de São Paulo.
Em maio de 2004, Juliane
abriu uma revista teatral e leu
sobre o Oficina, que apresentava "Os Sertões" na Alemanha.
Foi aos quatro dias de espetáculo. O convite para fazer parte
do grupo veio do diretor Zé Celso Martinez Corrêa. Ela recusou. No mesmo ano, veio ao
Brasil a passeio e deixou para
visitar o teatro no fim, "como se
quisesse evitar o destino".
De volta à Alemanha, foi a
outra apresentação do Oficina,
em outubro de 2005, e rendeu-se. Por aqui, brinca que se especializou em interpretação de
"quadrúpedes". "O Zé Celso era
rígido comigo por causa da língua. Um ator sem sua língua se
sente um nada. Não há como se
esconder atrás das palavras."
Peça sem falas
Para o australiano Thomas
Holesgrove, 35, radicado na cidade desde 2002, o paliativo foi
escrever uma peça sem diálogos, "Nasos e Flora".
Mais tarde, por conta das diferenças de fonemas entre português e inglês, estudou novas
técnicas vocais. "Tive de reaprender a usar o fôlego, a boca e
a ressonância da voz", conta.
Holesgrove mudou-se para o
Brasil quando conheceu Luciana, sua esposa, e os orixás -ela
pesquisava as religiões africanas. Aqui, criaram a companhia
Arte Tangível. "Me interessei
imediatamente pela pesquisa
do candomblé. Está aí uma diferença grande entre fazer teatro no Brasil e na Austrália:
aqui se dá importância a grupos
de pesquisa de teatro."
A abertura à experimentação
é também o diferencial da cena
local em relação à italiana, diz o
ator e diretor Alvise Camozzi,
34, que chegou em 2001 e já trabalhou com Gabriel Villela
("Fausto Zero") e Renato Borghi ("Timão de Atenas"):
"O Brasil te estimula a buscar
outras possibilidades. No meu
país, não teria tido a oportunidade de estrear na direção, porque há uma casta de diretores
que dominam o circuito".
Ele diz, entretanto, que é
mais fácil fazer turnês com espetáculos na Itália, graças aos
mecanismos de financiamento
e distribuição. Outras diferenças são a quase inexistência de
testes para elencos teatrais no
Brasil, além da (salutar, ele crê)
ausência, por aqui, de uma "língua teatral empostada".
Criação de atmosferas
O uruguaio Mauro Baptista
Vedia, 44 (sendo 20 de Brasil),
diretor de "A Festa de Abigaiu",
diz que, por um tempo, ser estrangeiro o prejudicou. "Não
conhecia os códigos. Depois,
percebi que podia até me ajudar ser de fora e que São Paulo
tinha um quê de Montevidéu
que cresceu uma barbaridade."
Para ele, a marca do teatro
brasileiro é a "fantástica capacidade de criação de atmosferas, de mise-en-scène". Vedia
só faz ressalvas à direção de
atores, "que ficou subestimada
nos últimos anos".
Crítica que certamente não
se aplica ao teatro de Antunes
Filho, a cujo rigor a italiana Valentina Lattuada, 27, foi apresentada em 2006, um mês e
meio depois de chegar a São
Paulo. Ela gostou. "Sou CDF.
Preciso de precisão, pontualidade, o que encontrei no CPT."
A atriz afirma que, em seu
país, há menos diversidade no
circuito teatral alternativo.
"Aqui, se há uma idéia, há um
jeito de fazer. A cidade é efervescente. Na Itália, é como se
tivesse uma coisa cínica, velha,
parada, "vamos ficar no que a
gente já sabe"."
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