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Crítica / "Strindbergman"
Peça funde violência silenciosa de obras de Strindberg e Bergman
Texto teatral e filme dos artistas suecos se amalgamam e resultam em bela encenação da sondagem da alma humana
LUIZ FERNANDO RAMOS
CRÍTICO DA FOLHA
Teatro e cinema amalgamados fazem o velho
drama luzir. "Strindbergman", que funde as dramaturgias de August Strindberg e
Ingmar Bergman, é um triunfo
da palavra como anzol certeiro
na sondagem da alma humana.
Justapondo a peça "A Mais
Forte", escrita por Strindberg
em 1889, ao contexto dramático de "Persona", filme de Bergman de 1965, o espetáculo sintetiza essas obras-primas em
uma forma híbrida. Em produção francesa, as excelentes atrizes brasileiras Nicole Cordery e
Janaína Suaudeau contracenam ao vivo recuperando os
diálogos do filme e, em cena
gravada, a peça.
Nicole, na cena, é Elisabeth,
grande atriz do teatro que depois de uma crise psíquica afasta-se do convívio humano e silencia completamente. Na tela,
ela é a senhorita Y, que tem encontro casual com a mulher de
seu amante e ouve em silêncio a
rival tagarelar banalidades.
Janaína, na encenação, é Alma, a enfermeira designada para cuidar de Elisabeth, que se
exaspera com o silêncio da paciente na proporção em que seu
afeto por ela se intensifica. Na
projeção é a senhora Y, que enfrenta a interlocutora silenciosa passando da euforia à indignação.
A graça do espetáculo é alternar-se entre essas tramas e planos de representação de modo
a que uma terceira cena se
constitua diante do espectador. Se o tema da estridência potencial do silêncio nas relações
humanas é o que enlaça os dois
fios percorridos, uma sintonia
mais fina associa a peça de
Strindberg ao filme de Bergman.
Trata-se da curiosidade
de ambos pelos seres humanos
e sua capacidade de se infligirem o mal.
Strindberg, em "A Mais Forte", está imbuído das ideias de
Darwin e projeta nas relações
amorosas a violência da seleção
natural. Bergman, em "Persona", descreve um processo
mental de regressão e demonstra suas consequências destrutivas. Esse caráter de relato
científico afirma-se por uma
terceira personagem, "a doutora", na pele da impecável Clara
Carvalho, que narra o episódio
da atriz que silenciou do ponto
de vista de quem a tratou.
As três atrizes se excedem
nas interpretações, mas o espetáculo não teria resultado tão
interessante sem as imagens
projetadas, a cenografia e a iluminação de Nicolas Simonin. A
inspirada solução de um espaço
cênico ao mesmo tempo despojado e funcional, econômico e
exuberante, adequa-se graciosamente com a tela e o discurso
fílmico que ali se consuma.
Os méritos são extensivos à
encenadora Marie Dupleix e a
Didier Moine, que idealizou a
experiência e morreu em 2008.
Mas, como acontece quando
tudo se conjumina em um espetáculo, o grande vitorioso é o
espectador, ao experimentar a
força que a grande dramaturgia
pode alcançar na alquimia de
uma bela encenação.
STRINDBERGMAN
Quando: sex. e sáb., às 21h; dom., às
19h; até 20/12
Onde: Viga Espaço Cênico - sala
principal (r. Capote Valente, 1.323;
tel. 0/xx/11/3801-1843)
Quanto: R$ 30
Classificação: 14 anos
Avaliação: ótimo
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