São Paulo, sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Crítica/"Polícia, Adjetivo"

Comparar filme de Porumboiu com "Tropa de Elite" é exercício irresistível

RICARDO CALIL
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Seria uma forçação de barra definir o filme romeno "Polícia, Adjetivo" como uma antítese do brasileiro "Tropa de Elite". São propostas de cinema tão diferentes, sobre realidades tão díspares, que qualquer tipo de contraposição soaria banal.
Mas, mesmo com o risco de uma injustiça, pode ser interessante colocar os filmes lado a lado para melhor iluminar certas características do romeno, dirigido por Corneliu Porumboiu ("A Leste de Bucareste"). No centro das duas produções, existe um policial em crise com sua instituição, designado para combater o tráfico de drogas. Em "Tropa de Elite", o capitão Nascimento tem uma certeza: o consumidor também é criminoso porque patrocina a violência do traficante. Em "Polícia, Adjetivo", Cristi (Dragos Bucur) luta justamente para não criminalizar um usuário.
O policial é designado para investigar uma denúncia contra um adolescente que fuma haxixe e oferece a droga com frequência a dois amigos.
Na Romênia, é o suficiente para levá-lo à cadeia. Cristi passa oito dias seguindo o jovem, buscando provas para inocentá-lo e pedindo mais tempo a seus superiores para que possa encontrar os traficantes.
Ele argumenta que a prisão arruinaria a vida do adolescente e que a Romênia irá se adaptar em breve à legislação da União Europeia, que não prevê punição aos consumidores.
Mais do que as divergências ideológicas de seus protagonistas em relação ao combate às drogas, interessam as diferenças cinematográficas entre as duas produções. "Tropa de Elite" adere às convenções do filme policial hollywoodiano, com ação frenética e olhar moralizador. "Polícia, Adjetivo" quer ser um antipolicial, disposto a mostrar uma investigação como um processo tedioso, arbitrário, quando não absurdo -filmada com o realismo seco, os planos longos e estáticos que caracterizam a maioria das produções recentes do badalado cinema romeno.
O clímax de "Polícia, Adjetivo" é uma interminável discussão semântica entre Cristi e seu chefe, sobre palavras como consciência, lei, moral e policial (tanto o substantivo, como o adjetivo, de onde vem o título do filme). Toda a complexidade dos questionamentos do protagonista, toda a irracionalidade que envolve as discussões sobre o combate às drogas, todo o teatro das relações entre a lei e a sociedade estão contidos nessa sequência simples e brilhante.
É muito mais do que "Tropa de Elite" conseguiu com seus tiroteios e frases de efeito. Pronto, a contraposição, mesmo que injusta, foi feita.


POLÍCIA, ADJETIVO

Direção: Corneliu Porumboiu
Produção: Romênia, 2009
Onde: no Espaço Unibanco Augusta 2 e Frei Caneca Unibanco Arteplex 4
Classificação: 14 anos
Avaliação: bom




Texto Anterior: Romeno confirma vocação para o absurdo
Próximo Texto: Frases
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.