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Crítica/"Polícia, Adjetivo"
Comparar filme de Porumboiu com "Tropa de Elite" é exercício irresistível
RICARDO CALIL
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Seria uma forçação de
barra definir o filme romeno "Polícia, Adjetivo"
como uma antítese do brasileiro "Tropa de Elite". São propostas de cinema tão diferentes, sobre realidades tão díspares, que qualquer tipo de contraposição soaria banal.
Mas, mesmo com o risco de
uma injustiça, pode ser interessante colocar os filmes lado a
lado para melhor iluminar certas características do romeno,
dirigido por Corneliu Porumboiu ("A Leste de Bucareste").
No centro das duas produções, existe um policial em crise com sua instituição, designado para combater o tráfico de
drogas. Em "Tropa de Elite", o
capitão Nascimento tem uma
certeza: o consumidor também
é criminoso porque patrocina a
violência do traficante. Em
"Polícia, Adjetivo", Cristi (Dragos Bucur) luta justamente para não criminalizar um usuário.
O policial é designado para
investigar uma denúncia contra um adolescente que fuma
haxixe e oferece a droga com
frequência a dois amigos.
Na Romênia, é o suficiente
para levá-lo à cadeia. Cristi passa oito dias seguindo o jovem,
buscando provas para inocentá-lo e pedindo mais tempo a
seus superiores para que possa
encontrar os traficantes.
Ele argumenta que a prisão
arruinaria a vida do adolescente e que a Romênia irá se adaptar em breve à legislação da
União Europeia, que não prevê
punição aos consumidores.
Mais do que as divergências
ideológicas de seus protagonistas em relação ao combate às
drogas, interessam as diferenças cinematográficas entre as
duas produções. "Tropa de Elite" adere às convenções do filme policial hollywoodiano,
com ação frenética e olhar moralizador. "Polícia, Adjetivo"
quer ser um antipolicial, disposto a mostrar uma investigação como um processo tedioso,
arbitrário, quando não absurdo
-filmada com o realismo seco,
os planos longos e estáticos que
caracterizam a maioria das
produções recentes do badalado cinema romeno.
O clímax de "Polícia, Adjetivo" é uma interminável discussão semântica entre Cristi e seu
chefe, sobre palavras como
consciência, lei, moral e policial
(tanto o substantivo, como o
adjetivo, de onde vem o título
do filme). Toda a complexidade
dos questionamentos do protagonista, toda a irracionalidade
que envolve as discussões sobre
o combate às drogas, todo o teatro das relações entre a lei e a
sociedade estão contidos nessa
sequência simples e brilhante.
É muito mais do que "Tropa
de Elite" conseguiu com seus
tiroteios e frases de efeito.
Pronto, a contraposição, mesmo que injusta, foi feita.
POLÍCIA, ADJETIVO
Direção: Corneliu Porumboiu
Produção: Romênia, 2009
Onde: no Espaço Unibanco Augusta 2 e
Frei Caneca Unibanco Arteplex 4
Classificação: 14 anos
Avaliação: bom
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