Mostra homenageia Consciência Negra

SILAS MARTÍ
DE SÃO PAULO

De um lado, uma família se reúne na praia do Não Retorno. Do outro, uma multidão encara o mar do Benin, alguns olhos colados na lente, diante do portal erguido para marcar a saída dos escravos que não voltariam.
São dois os artifícios de Ricardo Teles nas imagens que mostra agora na Pinacoteca do Estado em comemoração ao Dia da Consciência Negra.
Estourando o contraste entre preto e branco, o fotógrafo tenta anular traços de exotismo que talvez saturassem uma imagem colorida demais. Também inverte a operação básica da fotografia.
Em seus retratos, não é a lente que invade o personagem, mas os sujeitos que devolvem o olhar à objetiva, algo entre a calma e o transe das cerimônias religiosas.
Teles não foge da estética cunhada pelos fotógrafos viajantes, não deixa de enfileirar instantes decisivos de uma terra estranha para o deslumbre de olhos brancos.
São funerais no Congo, um banho de mar em Angola, as rodas de vodu no Benin -a rotina intercalada aos momentos de ruptura catártica.
Mas toda a potência dessas explosões ganha um ar prosaico no preto e branco, que traduz a realidade estranha à do fotógrafo e do observador, anulando toda a distância entre os continentes.
Nas imagens de rotina, como as crianças na escola, meninos no mar ou reuniões de família, alguns olhares conseguem rasgar essa casca lúdica do exotismo. Personagens ganham densidade e volume diante da lente, mesmo que por poucos instantes.

RICARDO TELES

QUANDO abertura hoje, às 11h; de ter. a dom., 10h às 18h; até 9/1
ONDE Pinacoteca do Estado (pça. da Luz, 2, tel. 3324-1000)
QUANTO R$ 6, grátis hoje


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