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CINEMA
Membros de organização libanesa falam sem remorso sobre mortes de 1982
Filme relembra massacre de refugiados palestinos
ANDREW HAMMOND
DA REUTERS
Vinte e três anos depois de assassinar refugiados palestinos a
golpes de facão, os criminosos libaneses responsáveis pelas mortes não demonstram remorso ao
relembrar o massacre em um documentário perturbador que está
em exibição no Oriente Médio.
A diretora alemã Monika Borgmann mostra, em "Massaker",
seis dos autores da chacina falando pela primeira vez sobre o papel
que desempenharam em um dos
mais infames massacres acontecidos durante a guerra civil que devastou o Líbano entre 1975 e 1990.
Depois de diversos meses de
trabalho para localizar e fazer
contato com membros das Forças
Cristãs Libanesas, organização
paramilitar apoiada por Israel,
Borgmann conseguiu convencê-los a falar sobre a chacina.
"Foi um longo processo de
construção de um relacionamento de confiança mútua. A atitude
que eles assumiram era que não
deveríamos ser tratados como
cúmplices, mas não estávamos lá
para julgá-los", disse a diretora
em Dubai (Emirados Árabes Unidos), recente parada do filme.
Centenas de refugiados palestinos foram mortos brutalmente
por membros de forças paramilitares libanesas nos campos de refugiados de Sabra e Shatila, durante a invasão israelense ao Líbano, em 1982. A chacina se prolongou por diversos dias.
O documentário incomoda devido à falta quase total de remorso
de parte dos matadores, cujos rostos sempre ficam na sombra. Falando numa sala, com o barulho
do trânsito de Beirute e raios de
sol se infiltrando pelas janelas fechadas, eles desenharam diagramas mostrando como se moveram de setor a setor dos campos,
"fazendo a limpa" em cada área.
Os matadores manuseavam fotografias do massacre e tentavam
lembrar se estavam presentes em
certas cenas, enquanto a câmera
focalizava seus músculos, a maneira como seguravam um cigarro ou mãos acariciando um gato.
Um deles conta como agarrou
um idoso e abriu-lhe o ventre em
forma de cruz. "Você está sendo
executado em nome de Bashir
Gemayel", pronunciou, em referência ao presidente do Líbano
morto dias antes do massacre.
"Com um enforcamento ou a tiros, a pessoa simplesmente morre, mas aquele tipo de morte vale
o dobro. Você morre duas vezes,
porque também morre de medo",
disse em tom brincalhão, descrevendo a carne e os ossos à mostra.
A atrocidade continua a ser motivo de controvérsia. As Forças
Cristãs Libanesas comandadas
por Gemayel haviam decidido fazer causa comum com o Exército
israelense, para expulsar do Líbano a Organização para a Libertação da Palestina (OLP). Os responsáveis pelo assassinato de Gemayel jamais foram identificados.
Enfurecidos, os partidários de Gemayel se vingaram dando início a
uma orgia de violência nos campos de refugiados.
No filme, os homens falam de
seu obsessivo amor por Gemayel,
de seu ódio pelos palestinos e de
como se acostumaram à violência, à medida que a guerra prosseguia e as atrocidades ficavam cada
vez mais graves. Eles oferecem detalhes ocasionais sobre as conexões entre Israel e a organização
que os israelenses ajudavam a
treinar. Descrevem viagens a Israel e filmes lá vistos sobre a tentativa nazista de exterminar os judeus na Segunda Guerra.
Os milicianos revelaram seus
esforços frenéticos para ocultar o
maior número possível de cadáveres antes da chegada da imprensa, o que ajuda a explicar por
que até hoje não foi determinado
o número preciso de mortos.
Um deles diz que o Exército israelense forneceu às forças libanesas grandes sacos plásticos para
os corpos. Eles contam ter usado
produtos químicos para destruir
muitos deles. Vários mencionam
o fato de que oficiais do Exército
israelense se reuniram com líderes das forças paramilitares na
noite anterior ao massacre.
Nenhum dos assassinos foi levado à Justiça. "Todos levam vidas normais. Um deles se tornou
motorista de táxi", diz a diretora.
Tradução Paulo Migliacci
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