São Paulo, terça-feira, 20 de dezembro de 2005

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Prossegue vaivém em concurso estadual para investimento em cinema; resultado final deve ser divulgado hoje

Secretário anula prêmio para filme de Barreto, mas recua

SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

A Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo excluiu ontem o filme "Infância Roubada", de Bruno Barreto, da relação de premiados em seu concurso de apoio à produção cinematográfica. E voltou atrás, horas depois.
"Infância Roubada" é um dos vencedores do Programa de Fomento ao Cinema Paulista, divulgados pela secretaria, na quinta.
Conforme a Folha informou ontem, o filme havia sido rejeitado pelo júri do concurso, na semana retrasada, mas foi acrescentado à lista de ganhadores em reunião extraordinária, convocada pelo secretário João Batista de Andrade, na última quarta.
Na reunião, o secretário disse aos jurados que dispunha de mais do que a verba de R$ 6,5 milhões prevista. Ficou acertado que o longa de Barreto estaria entre os ganhadores e que os cinco filmes suplentes passariam a titulares.
Em nota divulgada ontem pela manhã, Andrade diz que "o diretor do filme extra selecionado não conseguiu provar residência há três anos em São Paulo, e o filme foi excluído".
O edital do programa exige que os diretores concorrentes residam no Estado há pelo menos três anos. Barreto é carioca, e o eventual descumprimento da regra por sua vitória foi apontado à secretaria por membros do Conselho Paulista de Cinema -profissionais que assessoram o governo nas políticas do setor.
Depois de anunciar a desclassificação de "Infância Roubada", Andrade voltou atrás, ontem, e disse que documentos enviados por Barreto para comprovar sua residência em São Paulo estavam em análise pelo departamento jurídico da secretaria. O secretário afirma que redigiu a nota porque não fora informado do recebimento da documentação.
O anúncio dos valores dos prêmios aos filmes selecionados foi transferido de ontem para hoje. Andrade disse que aguarda investimentos de mais uma empresa no programa.
A verba do concurso provém de estatais e empresas privadas, por meio das leis de renúncia fiscal, que autorizam o uso de parcela do Imposto de Renda em projetos culturais. Até ontem, o volume alcançado era de R$ 8,1 milhões, segundo Andrade.

Bobagem
"Discutir atestado de residência é uma bobagem. O problema não é se Barreto é daqui ou de lá. O problema é interferir na regra do jogo", diz o cineasta Sérgio Bianchi, que concorreu com o filme "Território Livre", não premiado.
Bianchi afirma que a derrota "é uma dor e um ano de castigo [sem filmar]". Sobre o concurso, diz: "É um country clube? Troca-se a regra do jogo no meio, se precisa contemplar os preferidos do rei?".
Andrade diz que "o governo deu uma ajuda para viabilizar os suplentes [alçados à condição de titulares]", porque ele notou que "a soma [dos titulares e suplentes definidos pela comissão julgadora] era exemplar, capaz de satisfazer tanto à expectativa de renovação de linguagem quanto à de bilheteira e marketing".
Os suplentes eram, por "ordem de preferência" do júri: "Cão Sem Dono" (Beto Brant), "Lucineide Falsa Loira" (Carlos Reichenbach), "O Drama das Secas" (Rodolfo Nanni), "Lutas" (Luiz Bolognesi) e "O Passado" (Hector Babenco).
Andrade diz que a secretaria "vende para as empresas" a idéia de que, ao investir no programa, elas podem associar sua imagem "a um filme como "Cidade dos Homens" [de Paulo Morelli, premiado no concurso] ou um filme de [Hector] Babenco, que é um autor, mas com capacidade maior de ação no mercado".
"Carandiru", de Babenco, foi recordista nacional de bilheteria em 2003 (público de 4,6 milhões).
Para o diretor Alain Fresnot, o "cobertor eternamente curto [de recursos] torna impossível haver racionalidade na penúria".
Preterido na disputa com "Chique no Úrtimo", Fresnot diz que a polêmica em torno da vitória de Barreto "é de somenos". O problema, afirma, "é que o país administra cultura como quitandeiro", numa sucessão de concursos com júris "que são muito simpáticos, mas incompetentes".


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