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Comentário/animação
Joseph Barbera está curtindo um filé de brontossauro no Céu
CACO GALHARDO
COLUNISTA DA FOLHA
Anteontem, aos 95 anos,
morreu Joseph Barbera. Isso quer dizer que
desde então está rolando um
tremendo banquete de filé de
brontossauro oferecido por são
Pedro, no melhor restaurante
do Paraíso.
William Hanna, seu eterno
parceiro, já está por lá desde
2001. Juntos, criaram uma genial prole que vai de Flintstones, Manda-Chuva, Tom e
Jerry, Jetsons, Zé Colmeia,
Scooby-Doo até Penélope
Charmosa. Olha que só listei alguns, a relação dos personagens dos estúdios Hanna Barbera é coisa de louco. Estão entre meus melhores amigos de
infância e de toda uma geração.
Não é pouca coisa. Quem é
que nunca assistiu a um episódio dos Flintstones? Ou a um
desenho do Tom e Jerry?
Joseph Barbera trabalhava
em banco, aí veio a Grande Depressão americana e ele partiu
para os "cartoons". Provavelmente o pai o aconselhou: "Escute aqui, rapaz, esse negócio
de mercado financeiro não dá
grana, vá desenhar uns bonecos
engraçados que você fica rico!".
Sábias palavras. Barbera catou o pincel e foi para os estúdios de animação em Hollywood. Seu forte, além dos desenhos, era a criação das histórias
e roteiros. Em um belo dia, conheceu William Hanna, que tinha mais jeito para cuidar dos
negócios. Pediram as contas,
abriram o próprio estúdio e começaram sua revoluçãozinha.
Após eles, a história da animação nunca mais seria a mesma.
Revival
E aí pinta um revival fortíssimo: é muito privilégio crescer
na companhia de Fred Flintstone e Barney Rubble, de El-Roy e Senhor Spacely, de Batatinha e Guarda Belo, Chumbinho e Bacamarte, Salsicha e
Velma, Dick Vigarista e Irmãos
Rocha, Dom Pixote e Coelho
Ricochete, Urso do Cabelo Duro e Jonny Quest, e por aí vai.
Tudo isso é influência constante nas melhores animações
produzidas hoje em dia, e não
tem absolutamente nada a ver
com loiras desmioladas e programas infantis que só incitam
a erotização precoce e tratam a
molecada não como crianças,
mas como consumidores-mirins. Para o inferno com os escroques que infestam as TVs
promovendo todo esse lixo. Cabongue!!!!
O que foi isso, Pepe Legal?
Joseph Barbera se foi, William Hanna também. Pegaram, no melhor estilo Leão da
Montanha, saída pela esquerda. Mas a obra deles continua
por aí. Então temos mais de homenagear os caras. Bandinha
do exército e salva de trocentos
tiros de canhão, por favor!
Meus amigos de infância ficaram definitivamente sem pai
nem mãe, ou melhor, sem pai
nem pai, e não se pode passar
batido por um acontecimento
desses. Tem de homenagear e,
acima de tudo, rever e mostrar
para os filhos, sempre, os bons e
velhos desenhos Hanna-Barbera. São quase todos muito bons.
É o tipo da coisa que não envelhece nunca. Nós, por outro
lado, envelhecemos na marra e
chegamos ao fim, como chegou
o Barbera. Mas certamente, em
meio ao banquete celestial de
filé de brontossauro, em algum
momento ele virou para seu
compadre e sussurrou, com um
sorriso de canto de boca e olhar
cúmplice: "A gente mandou
bem, né?".
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