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Rei das poltronas vira noites por causa de "Avatar"
Francisco da Silva, o maior fabricante de cadeiras de cinema do país, aprontou 18 novas salas na última semana
Saído de PE, sozinho, aos
14 anos, o empresário descobriu o ofício, em SP, em 1976; hoje, abastece mais de 65% do mercado
ANA PAULA SOUSA
DA REPORTAGEM LOCAL
Quem vai ao escritório de
Francisco Severino da Silva, 51,
de uma coisa não pode se queixar: da falta de conforto. Grandes cadeiras reclináveis, com
encosto para a cabeça e largos
apoios para o braço oferecem-se ao visitante. Quase todas são
vermelhas. E têm porta-copos.
Os pôsteres de "Rambo IV" e
"Uma Noite no Museu" arrematam o ambiente.
Em poucos minutos, descobre-se que há cadeiras como
aquelas espalhadas por todo o
Brasil. Em salas de cinema, é
claro. "A primeira poltrona que
fabriquei foi para um cinema
em Porto Velho, Rondônia."
Hoje, tem mais de 65% do mercado. "É mais fácil falar para
quem eu não trabalhei do que
para quem trabalhei", diz. Todas as redes nacionais, como
Unibanco, Cinesystem, Playarte, Araújo, Roxy, compram suas
poltronas. Com o Cinemark,
ainda não fechou negócio, mas
já foi chamado a Dallas para
uma reunião.
Efeito "Avatar"
De feitio discreto, Silva pensou duas vezes antes de receber
a Folha. Disse estar apurado. E
a semana passada foi, de fato,
caótica. "Até sexta-feira, temos
18 salas para montar por causa
do "Avatar". É uma loucura. Tenho gente em Santos, Praia
Grande, Catanduva, Ilha do
Governador e Itu", contabilizou, na terça-feira.
"É sempre uma agitação
quando chega perto da inauguração", diz. "Nosso lema é não
fazer nada errado e não atrasar.
Mas não adianta ficar nervoso.
Isso eu aprendi na vida."
Nascido em Belo Jardim, a
80 quilômetros de Recife, Silva
resolveu tentar a sorte em São
Paulo em 1972. Tinha 14 anos e
veio sozinho, de caminhão. Levou oito dias. Ao chegar, hospedou-se na casa da irmã, numa
travessa da avenida Sapopemba. Nesta mesma rua, fica o sobrado onde tem o escritório.
Conseguiu o primeiro emprego na feira, com um carrinho de rolimã. Depois, trabalhou numa fábrica de bijuterias
e numa metalúrgica, onde fazia
torneiras. "De nada disso eu
gostei", confessa. Apareceu,
por fim, uma vaga numa indústria que fabricava cadeiras para
cinema. E, enfim, a vida que
idealizou para si começou a tomar forma. "Foi uma época
muito boa. Saí montando poltrona pelo Brasil todo."
Em 1979, achou que era hora
de ter um negócio próprio. De
início, apenas reformava sofás
e cadeiras, mas, em 1985, arriscou outra curva no caminho e
passou a fabricar poltronas para cinema. "No começo foi difícil. Até o cliente acreditar em
você, leva um tempo", diz. Hoje, não há dono de cinema que
não conheça o "Chiquinho da
Santa Clara."
Das poltronas, partiu para
carpete, cortinas, iluminação,
porta-copos e até projetores.
"Se me entregarem o prédio,
deixo o cinema pronto", garante. Ele tem também sete salas
em cidades do interior e uma
participação em empreendimentos maiores, como o do
Shopping Bourbon, fruto dos
equipamentos fornecidos.
Quando para um segundo a refletir sobre o que fez da vida,
Silva esboça um leve sorriso.
"Às vezes, a gente pensa que
tem alguma força. Mas nunca
sabe a força que tem", diz, num
raro momento em que larga a
objetividade. "Como muitos
brasileiros, saí de uma família
pobre e queria fazer alguma
coisa que desse certo."
Seu filme predileto é "Dois
Filhos de Francisco". Seu
hobby é jogar bocha. Seu maior
prazer? "Ah, é montar um cinema e ver prontinho, funcionando. Não tem nada como entrar
e ver a sala lotada, todo mundo
ali sentado."
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