São Paulo, segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

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CRÍTICA TEATRO

José Celso une bossa nova e fábula japonesa em "Taniko"

LUIZ FERNANDO RAMOS
CRÍTICO DA FOLHA

Todos os caminhos no Oficina levam a Dionísio. "Taniko - O Rito do Mar" reapresenta na perspectiva do teatro oriental as mesmas pulsões que caracterizaram a Usyna Uzona nas duas últimas décadas. A cena teatral transformada em rito festivo e afetivo.
A dramaturgia de José Celso Martinez Correa e Camila Mota (diretora assistente, atriz e colaboradora maior de fase recente) parte do texto original do poeta e filósofo japonês Zeami (1363-1443).
Também ator e dançarino, Zeami inventou com suas peças o teatro Nô, cujas formas se codificariam como teatralidade plena nos séculos seguintes. Zé Celso foi buscar em outro inventor do mesmo quilate, o cantor João Gilberto, a chave para abrir o Nô a novas possibilidades.
A bossa nova, e sua proximidade de um ver e ouvir mais lento e mais sutil, conversa com a fábula sintética de Zeami. Ela imprime o tônus e o ritmo da encenação.

ÉPICO
A trama, fulminante como um traço caligráfico no papel, aceita graciosamente as novas camadas que Zé Celso traz, na legítima e incontornável oferta de sua própria imaginação.
A primeira adaptação brasileira foi feita por seu irmão, Luiz Antônio, também encenador, cuja morte trágica, assassinado em 1987, foi uma razão crucial para Zé Celso voltar ao teatro e reiniciar a trajetória que agora culmina.
Nessa sua versão, a lenda do menino que cruza os mares para alcançar "os Santos", mas morre antes, sugere diálogo de amor fraterno.
A característica sobreposição de planos e registros do discurso cênico do diretor sobressai mais nítida na simplicidade e economia do Nô, pois de um fio narrativo tão fino não se pode abusar nos borrões.
Em paralelo, a estratégia épica, com menos diálogos, distancia da tensão dramática de outros espetáculos, mais longos e dialogados.
O coro, mola mestra que impulsiona o Oficina, está, em registro joão gilbertiano, mais concentrado e contido, sem perder a antiga ginga e a presença.
Marcelo Drummond, corifeu protagonista, brilha na suavidade. A montagem é uma bela vitória do projeto do "Teatro Musical Brasyleiro" sobre o de outros coros à Broadway ou mesmo cânones europeus.
A tenda que navegou pelo país alojou-se modesta ao lado do teatro de Lina Bo Bardi. No caso de "Taniko", serviu à prospecção do entorno, num histórico cordão de mais de mil espectadores percorrendo o circuito entre os dois espaços.
Com plateia dos quatro lados, areja o retângulo habitual da pista do teatro. Ainda não é o sonhado "Teatro de Estádio", para as massas, mas confirma a dionisíaca sina de congraçar para consagrar.

TANIKO - O RITO DO MAR
AVALIAÇÃO ótimo



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