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Diretor de "A Primeira Noite de um Homem" (67) lança no Brasil seu "Perto Demais"
Alice & Dan & Anna & Larry
SÉRGIO DÁVILA
DA CALIFÓRNIA
Hollywood e a Terra seriam um
lugar melhor se houvesse mais diretores como o alemão naturalizado americano Mike Nichols, de
"Perto Demais" ("Closer", no original), que estréia hoje no Brasil.
Em 73 anos de vida e 40 de carreira, produziu apenas 19 longas,
e nenhum deles é desprezível. Pelo contrário, há jóias como os
clássicos "Quem Tem Medo de
Virginia Woolf" (66), "A Primeira
Noite de um Homem" (67), "Ardil 22" (70) e -por que não?-
"Lembranças de Hollywood" (90)
e "Segredos do Poder" (99).
Quando não tem o que dizer nas
telas, se cala. Ou produz peças
memoráveis na Broadway ("Descalços no Parque", "Um Estranho
Casal"). Ou minisséries como
"Uma Lição de Vida" e "Angels in
America" (total de 11 Emmy).
No ano passado, ele decidiu que
tinha algo a dizer. E dirigiu "Closer", após assistir em Londres à
bem-sucedida peça homônima
de Patrick Marber. Trocou algumas coisas (no teatro, Clive Owen
interpretava o papel que no filme
é de Jude Law) e... fez um dos
grandes filmes do ano. Para adultos, sem efeitos especiais, nem baseado em HQs ou livros para
crianças -só isso já faria de Nichols um pária no cinema atual.
Ou não? "Dirigir é criar eventos", disse em entrevista da qual a
Folha participou, em Los Angeles. "[Elia] Kazan dizia que dirigir
é transformar psicologia em comportamento, o que é uma boa definição." Realmente, a máquina
faz de "Perto Demais" um filme-evento, mas no fundo se trata de
uma obra simples, com quatro
personagens principais, que se
amam como na "Quadrilha" de
Drummond e passam 104 minutos se desentendendo.
O problema é que os quatro personagens -Alice, que ama Dan,
que ama Anna, que não sabe se
ama Larry- são interpretados,
respectivamente, por Natalie
Portman, Jude Law, Julia Roberts
e Clive Owen. Como dirigir tantos
egos? Nichols tenta matar a charada. "Dirigir atores, sejam eles famosos ou não, é meio parecido
com viver. Vocês tem de se amar
para dar certo. E, pelo menos durante o filme, nós nos amamos."
Tanto que, a pedido de Portman,
Nichols cortou as cenas em que
ela aparecia completamente nua.
"Natalie é minha amiga de muitos anos. Fizemos "A Gaivota", de
Tchecov, no projeto Shakespeare
in the Park, no Central Park, há alguns anos, com Christopher Walken, Meryl Streep, Philip Seymour Hoffman, foi uma coisa gigantesca", ele explica. "E ela estava perfeita. Foi vendo-a atuar ali,
no parque, ao ar livre, com a luz
do fim do dia do verão de cenário,
que eu pensei que tinha de fazer
um filme com ela. Quando vi a peça, pensei imediatamente nela no
papel da stripper. O script original
pedia nudez completa, filmamos
tudo, sem que eu dissesse uma palavra. No final, tirei as cenas mais
diretas. Assim deve ser a relação,
mútua. Você não exige nada dos
atores, eles que devem fazer."
E ilustra com uma história.
"Sempre me lembro do que me
contou uma amiga que foi assistente de direção de William Wyler
em "Jezebel" (1938). No filme, Bette Davis tinha de descer uma escada. Willy era conhecido por fazer
20, 30 tomadas de cada cena. Agora, já estava na 65ª e continuava
filmando. Minha amiga pergunta:
"O que você quer da cena, Willy?".
Ele responde: "Numa das primeiras tomadas, Bette fez um gesto
com o vestido que achei interessante, mas a luz não estava boa.
Estou esperando que ela repita o
gesto". "E por que você não manda
ela repetir?", pergunta ela. "Porque
aí ela estaria fingindo, e não
atuando, e isso estragaria tudo.'"
Mike Nichols se prepara para a
estréia do musical "Spamalot" em
Nova York -sua versão e de Eric
Idle para o teatro do filme "Monty
Python em Busca do Cálice Sagrado" (1975). A peça recebeu boas
críticas em Chicago. "Quando
cheguei para ensaiar pela primeira vez com o elenco, pensei em
piadas, nonsense, todos aqueles
chavões que nos vêm à cabeça
quando ouvimos o nome Monty
Python", disse. "Até que percebi:
é tudo sobre classe. Claro! Estamos falando de britânicos, para
eles tudo é questão de uma classe
se sobrepondo ou explorando a
outra. Daí em diante foi fácil."
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