São Paulo, quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

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Filme em que EUA é vilão tem debate "desconfiado"

"Novo Século Americano" atrai visões opostas de Fernando Meirelles e Luiz Felipe Pondé

Cineasta diz "desconfiar de jornais e jornalistas'; filósofo rechaça teorias conspiratórias e compara documentário à tese dos "Sábios de Sião"

DA REPORTAGEM LOCAL

A desconfiança foi o tom predominante do debate ocorrido anteontem à noite, em São Paulo, a respeito do documentário "Novo Século Americano", do italiano radicado nos EUA Massimo Mazzucco, que tem estreia prevista para esta sexta.
O filme foi exibido no projeto Folha Documenta, no Cine Bombril, com debate subsequente entre o cineasta Fernando Meirelles, que distribui o documentário no Brasil; o filósofo Luiz Felipe Pondé, colunista da Folha; o ator Paulo Betti, narrador da versão brasileira do título, e Donald Ranvaud, produtor do longa.
No documentário, Mazzucco mostra uma visão desabonadora da política externa americana, apontando interesses econômicos por trás de iniciativas militares cujos objetivos declarados são a defesa do país, como a Guerra do Iraque.

Teorias conspiratórias
É do mesmo diretor o documentário "Engano Global", que defende a tese de que os ataques do 11 de Setembro foram engendrados pela própria administração norte-americana.
"Tenho tendência a duvidar de teorias conspiratórias", afirmou Pondé. O filósofo associou "Novo Século Americano" aos "Sábios de Sião, aquela tese que circulou, no passado, de um grupo de sujeitos que montaram uma teoria supostamente científica de que os judeus iriam dominar o mundo".
Meirelles disse: "Fora o tema, que é tocante, algo que me pegou muito nesse filme é [a demonstração de] como a informação é manipulada. Cada dia desconfio mais de jornais e de jornalistas". Foi aplaudido.
Paulo Betti também conquistou a plateia, com um comentário em que relacionou o filme ao comercial da marca Bombril, exibido antes da sessão.
"Vimos uma propaganda em que o [ator Carlos moreno, garoto-propaganda da] Bombril aparece satisfeito por ter eliminado a concorrência. Acho que isso tem muito a ver com esse filme", afirmou Betti.
Ao produtor Donald Ranvaud coube o papel de porta-voz de Mazzucco. Defendeu-o, por exemplo, da comparação com o documentarista Michael Moore ("Fahrenheit - 11 de Setembro"), feita por uma espectadora. "Michael Moore é exatamente o oposto do que a gente gosta. Não há nenhum protagonismo do diretor nem de ninguém nesse filme", disse.
Segundo Ranvaud, "Novo Século Americano" foi feito em colaboração com 7.000 "cidadãos conscientes" recrutados por Mazzucco via internet. Os colaboradores enviaram ao diretor informações e imagens.
"Recebemos 400 vídeos de soldados americanos no Iraque", disse o produtor, afirmando que foram descartadas as imagens mais chocantes, que tornariam o filme "impossível de ver". Meirelles disse que "o processo como o filme foi feito é muito inspirador" para ele.


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