|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Cinema é comentário social, diz diretora
Cineasta Kathryn Bigelow assina "Guerra ao Terror", primeiro filme sobre o Iraque a acumular prêmios e boas críticas
Produção estreia em 5/2 nos cinemas, após ter saído em DVD; ex-mulher de James Cameron, diretora vai filmar na fronteira Brasil-Paraguai
Fotos Divulgação
|
|
Cena de "Guerra ao Terror", que saiu em DVDe vai para o cinema após sucesso em premiações
FERNANDA EZABELLA
DA REPORTAGEM LOCAL
O escritório de Kathryn Bigelow está de cabeça para baixo.
Prêmios se acumulam pelos
cantos, ao lado de convites para
cerimônias que não param de
chegar. É o ápice de uma trajetória de cinco anos que ninguém sabe quando vai passar.
Bigelow tem 1,82 metro de altura, voz doce e calma, porte de
atriz de cinema, embora seja diretora de filmes de aventura,
não raro bastante violentos, como aquele que revelou Keanu
Reeves ao mundo, "Caçadores
de Emoção" (1991), ou "Jogo
Perverso" (1989), com Jamie
Lee Curtis de policial.
Agora, aos 58 anos, ela conseguiu o que muitos marmanjos
vinham tentando: foi ao Oriente Médio fazer o primeiro filme
sobre o conflito do Iraque a dominar a temporada de prêmios.
"Guerra ao Terror" (no original, "The Hurt Locker", expressão para "grande sofrimento")
registra a rotina de uma unidade antibombas dos EUA em
Bagdá. Já acumula 16 estatuetas de melhor direção e outras
30 em categorias diversas.
"Tem sido uma experiência
gratificante e bem surreal.
Acho que esse filme pegou no
nervo das pessoas", diz a diretora americana, por telefone,
de sua casa em Los Angeles
(EUA). "É uma lente de aumento numa situação bastante difícil e verdadeira no Iraque."
Por causa dos "baixos resultados comercias" de outros longas sobre conflitos recentes,
"Guerra ao Terror" foi direto
para DVD no Brasil, em meados de 2009, explica o distribuidor. Com a consagração no
exterior e maior acesso ao material, a Imagem Filmes resolveu levá-lo aos cinemas em 5/2.
Como Bigelow diz, seu filme
não é um panfleto político contra a guerra, e sim a história de
soldados num combate que, ao
contrário do Vietnã, não tem
alistamento obrigatório. "Não
vou generalizar, mas, para alguns indivíduos, o combate pode ser uma coisa sedutora."
Tampouco divaga entre dramas de soldados que voltam para casa, como os inéditos "Entre Irmãos" e "The Messenger".
"Estou interessada em cinema como comentário social. E
como entretenimento também, é claro", diz. "O filme deixa você ver pela perspectiva do
soldado e formar sua opinião.
[...] Mostra a futilidade desse
conflito em particular, você sai
do cinema mais informado."
De fato, o filme traz diversas
cenas em que o espectador se
vê na pele do soldado, em direção a uma mina de explosivos.
Bigelow conta que essa ideia de
um "cinema totalmente imersivo" já estava no roteiro de
Mark Boal, jornalista que passou semanas com o Exército
em Bagdá, em 2004.
Em 2005, Boal e Bigelow começaram a trabalhar no roteiro, que só filmaram em 2007,
após dedicar o ano anterior a
levantar fundos. Bigelow se recuperava de um filme de grande orçamento catástrofe de bilheterias, "K19- The Widowmaker" (2002), com Harrison
Ford, e passou os anos seguintes vivendo de comerciais.
Verão de 46ªC
"Guerra ao Terror", que competiu em Veneza 2008, foi feito
com US$ 11 milhões, uma mixaria se comparado a "Avatar", de
mais de US$ 200 mi. Mas ambos têm se enfrentado em prêmios e podem repetir a briga no
Oscar -nunca uma mulher ganhou em direção. Curioso também é que ela e James Cameron, de "Avatar", são mais que
amigos: casaram-se em 1989 e
ficaram juntos por dois anos.
"É uma coincidência bastante estranha, mas uma disputa
extraordinária", fala a diretora,
cujo ex-marido foi quem insistiu para ela filmar o projeto.
Num vídeo na web, Cameron
diz sobre a obra: "Tem grandes
chances de ser o "Platoon" da
Guerra do Iraque".
Festas de gala com celebridades em nada têm a ver as dificuldades que Bigelow passou
durante os cinco meses na Jordânia. Ela filmou num acampamento de refugiados palestinos, na fronteira com o Iraque,
em pleno verão de 46ºC.
"As vestimentas antibomba
eram de verdade, com mais de
40 quilos. Foi uma experiência
penosa para Jeremy Renner, fiquei bem tensa por ele", diz a
diretora sobre o ator principal.
A próxima aventura de Bigelow será em outra fronteira, entre Brasil, Argentina e Paraguai. O roteiro de "Triple Frontier" está sendo trabalhado por
Boal, em segredo. "O projeto
está muito embrionário, mas
quero continuar com essa ideia
de comentário social."
Texto Anterior: Mônica Bergamo Próximo Texto: Frase Índice
|