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O papel da arte
Editora Cosac & Naify chega à marca dos 300 títulos lançados e torna-se "sucesso de crítica"
CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL
A editora Cosac & Naify chegou
ao mercado em 1996 com pinta de
conto de fadas. Desde que jogou
suas tranças, com um sofisticado
livro impresso na Itália sobre o artista brasileiro Tunga, o selo colheu dois tipos de comentários.
Se para muitos virou de imediato a princesa das editoras nacionais, como a primeira casa a levar
a sério os livros de arte no país,
para outros não resistiria nada;
logo logo viraria sapo.
Ganharam os que apostaram
em Rapunzel. Sete anos depois de
sua estréia a editora acaba de
romper a marca de 300 títulos lançados com a reputação precoce de
uma das mais importantes da história recente do livro no país.
O sucesso do selo criado pelo
historiador da arte Charles Cosac
não pode ser medido por listas de
mais vendidos. Das suas três centenas de lançamentos, menos de
5% já fizeram alguma visita às relações de best-sellers.
Os termômetros são os do chamado "sucesso de crítica": a) prêmios, como o Jabuti de Livro do
Ano de Ficção 2003 para o infantil
"Bichos que Existem & Bichos
que Não Existem", do articulista
da Folha Arthur Nestrovski; b)
vendas de títulos para o exterior,
como "Paulo Mendes da Rocha",
monografia recém-comercializada para a editora da Universidade
de Princeton (EUA); c) ampla repercussão na mídia, que pode ser
medida pelas 4.400 menções à
editora no site Google.
Outro número recém-colhido
pela editora também aponta o
"para o alto e avante" em um setor onde ela não brilhava alguns
anos atrás. Segundo Marcelo Rogozinski, diretor-financeiro da
Cosac, a empresa cresceu 28% de
2002 para 2003, no contrapé de
uma queda geral do mercado editorial na casa dos 15%.
Com todas as glórias comerciais, a Cosac ainda não saiu de
seu desvio para o vermelho. "Ainda somos deficitários, mas a editora vem crescendo absurdamente e já mostrou que é viável financeiramente", afirma Ivo Camargo, diretor-comercial (ex-Companhia das Letras).
O "crescimento absurdo" coincide com a aposta da editora em
um plural. Na virada do ano 2000
para 2001 começou a deixar para
trás o rótulo de editora "de arte"
para assumir o posto de editora
"das artes".
O timoneiro desse processo foi
um poeta e professor de literatura
brasileira da Universidade de São
Paulo, Augusto Massi. Chamado
para trabalhar em uma coleção literária, a chamada "Prosa do
Mundo", ele conseguiu emplacar
logo de saída os maiores sucessos
de venda da editora. Os dois títulos iniciais da série de clássicos,
um deles do aqui desconhecido
autor dinamarquês Jens Peter Jacobsen (1847-85), levaram poucas
semanas para esgotarem.
Massi foi então convidado por
Cosac para assumir o comando
total da editora. E topou.
A primeira tarefa foi uma faxina
burocrática. "A editora já era arrojada, com design primoroso.
Mas os livros não tinham orçamento, contrato. Pagavam exorbitâncias, até R$ 15 mil, por um
prefácio qualquer", lembra Massi.
O segundo momento foi o da
abertura do leque. "Resolvemos
apostar em áreas nas quais o Brasil está crescendo e que o mercado
editorial não acompanhava."
E assim o selo Cosac & Naify
passou a ser impresso paulatinamente em livros sobre arquitetura, cinema, dança, moda, design.
Outra linha adotada pelo atual
editor foi a de "agregar valor", trabalhar em parceria com instituições que já tinham destaque, como a Mostra de Cinema de São
Paulo, com quem a Cosac lançou
coleção de livros, ou o Centro
Universitário Maria Antonia,
com quem co-produziu livros e
exposições sobre a arte concreta
de São Paulo e cursos, como um
sobre literatura russa e outro sobre arte italiana (apoiada no lançamento do clássico "História da
Arte Italiana", de Argan).
Massi também pôs suas fichas
na "intelligentsia". Ele chamou
intelectuais como Ismail Xavier
para coordenar a coleção de cinema e agora vai inaugurar uma série de livros latino-americanos
curada pelo crítico Davi Arrigucci
Jr., que terá como um dos destaques o lançamento do esquecido
uruguaio Felisberto Hernandéz.
Charles Cosac, que chegou a falar em fechar a editora em 2001,
diz que isso não passa mais por
sua cabeça. Garante que lá se foi a
vocação de sapo.
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