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Na onda dos musicais
Com "My Fair Lady", "Miss Saigon" e "Peter Pan", aumenta a aposta milionária no gênero teatral
GUSTAVO FIORATTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A estréia de "My Fair Lady"
no próximo dia 8, no teatro Alfa, é uma evidência de que os
musicais de orçamentos milionários conquistam público em
São Paulo. Com direção de Jorge Takla e custos iniciais calculados em R$ 4 milhões, essa é a
terceira opção no roteiro da capital para quem quer assistir a
um espetáculo americano sem
ter de viajar aos EUA.
As outras duas montagens
em cartaz são "O Fantasma da
Ópera", no teatro Abril, e
"Sweet Charity", no Citibank
Hall. Ainda vêm por aí, via CIE-Brasil, "Miss Saigon", com estréia prevista para junho, e "Peter Pan", cuja temporada deve
começar em julho no Credicard
Hall. "Miss Saigon" vai custar
R$ 12 milhões -cifra que bate
os investimentos feitos em "O
Fantasma da Ópera", que chegaram a R$ 10 milhões.
Mas Takla não montou "My
Fair Lady" no esquema de franquias que a CIE costuma empreender. Ou seja, não transpôs
a produção americana, detalhe
por detalhe, para solo nacional.
"Essa é uma montagem legitimamente brasileira da peça",
diz ele. O espetáculo tem cenário e figurino originais, assinados por Daniela Thomas e Fábio Namatami. Tem também
"um ritmo mais ágil e mais latino", diz. "No fim das contas,
não é nada diferente de montar
um Shakespeare."
O que segue inalterado são as
músicas de Frederick Loewe,
com texto e letras de Alan Jay
Lerner, responsáveis pelo sucesso de "My Fair Lady" desde
1956 -em montagens no palco
e no cinema. Adaptado de "Pigmaleão", peça do irlandês Bernard Shaw, o musical conta a
história de uma vendedora de
flores de modos não muito elegantes. Um professor de línguas especializado em fonética
aposta com um amigo que pode
transformar a moça em "lady".
O visual, com Londres ao
fundo, responde por parte do
impacto. Um dos pontos altos
da montagem é uma troca de
cenário realizada em 40 segundos: sai de cena a ambientação
de uma biblioteca de dois andares, com mezanino, estantes,
mesas e cadeiras. A cortina se
fecha. Quando volta a ser aberta, um salão de baile todo branco, com uma imensa escadaria,
já está no palco.
Para quem torce o nariz diante da possibilidade de ver os
musicais se multiplicarem por
aqui, vale ouvir Cláudio Botelho, experiente diretor do gênero que, além de assinar a tradução de "My Fair Lady" e de "O
Fantasma da Ópera", co-dirigiu
"Sweet Charity". "Essa é uma
postura muito atrasada. Os musicais são apenas um gênero em
um cenário que agrega vários
outros tipos de teatro."
Para Cláudio, a presença de
técnicos americanos orientando profissionais brasileiros na
execução de produções de
grande porte deixa uma herança proveitosa. "Sinto que os intérpretes, hoje, chegam às audições já sabendo cantar", diz.
"Há dez anos, um ensaio de
som era um pesadelo. Os americanos nos ensinaram como
agilizar o processo."
Cláudio provou os benefícios
desse intercâmbio ao produzir
e dirigir "Sassaricando", comédia musical pontuada por marchinhas, sucesso no Rio de Janeiro, que deve chegar a São
Paulo no segundo semestre.
Ainda entre os projetos do diretor, está o musical "7", inspirado na história de Branca de Neve, "só que mais violento", que
terá música de Ed Motta.
Há, porém, quem levante dúvidas sobre os valores destinados a essas produções, em parte
provenientes de renúncia fiscal
do governo, por meio da Lei
Rouanet.
"Acho ingênuo considerar
que uma produção peca só porque foi cara. Mas é necessário
que os investidores e o governo
tenham consciência do valor
que eles estão destinando ao
entretenimento e ao experimento artístico", diz o diretor
Felipe Hirsch, da Sutil Cia. de
Teatro. Dos R$ 12 milhões que
devem ser investidos até o final
da temporada de "My Fair
Lady", segundo a produção,
50% serão capitalizados pela
Lei Rouanet.
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