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Diário da corte
Museu Imperial de Petrópolis inaugura duas exposições que comemoram 200 anos da chegada da família real
MARCOS STRECKER
DA REPORTAGEM LOCAL
É uma espécie de "reality
show" histórico. A intimidade
da corte de d. João 6º poderá
ser parcialmente vivenciada no
Museu Imperial de Petrópolis
(RJ) a partir de sábado, em um
dos principais eventos programados para as comemorações
dos 200 anos da chegada da família real ao Brasil.
Não é exatamente um "Big
Brother", mas objetos pessoais
e um navio cenográfico prometem dar uma experiência mais
pessoal e cotidiana do que significava o universo da corte lusitana no início do século 19, a
única que realizou a experiência singular de se transferir para sua colônia. No caso, para fugir às pressas da ameaça das
tropas napoleônicas.
São duas exposições: "Travessias - Relatos Trágico-Marítimos da Passagem do Atlântico pela Corte Portuguesa e Outros Navegantes (1807-1808)" e
"Sonhos: Os Projetos e Feitos
de um Príncipe Clemente e Inteligente, que Queria Ficar no
Brasil para Sempre".
A reprodução do navio ficou
a cargo do cenógrafo Pedro Girao. Como subsídio para as exposições, a diretora do Museu
Imperial Maria de Lourdes
Parreiras Horta utilizou objetos e documentos representativos de época.
Como destaque, uma das
jóias do acervo do museu, o livro "Exposição Analítica e Justificativa da Conduta e Vida Pública do Visconde do Rio Seco",
de Joaquim José de Azevedo,
nobre português encarregado
por d. João 6º de preparar a viagem da família real ao Brasil em
1807. O livro de 1821, que foi
agora transcrito na íntegra, é
uma tentativa de limpar a imagem do visconde, já que ele virou um dos grandes símbolos
da corrupção e roubalheira do
período joanino.
Documento conhecido dos
historiadores do período, mas
raro (há um exemplar na seção
de obras raras da Biblioteca Nacional), é uma aula de como
funcionavam os bastidores da
corte, da transferência ao Brasil até o retorno de d. João 6º a
Portugal, em 1821.
"O visconde do Rio Seco era
muito rico, é o homem que
coordenou a transmigração da
corte e da Coroa e estava sendo
acusado de desvio de dinheiro.
O documento é um libelo de autodefesa "ultra-atual" para o
Brasil, em que ele relata todos
os serviços que prestou à coroa", diz Maria de Lourdes Parreiras Horta.
Carlota Joaquina
Também estarão na exposição os códices secretos de Carlota Joaquina. Livros encadernados em couro, eles trazem a
transcrição da correspondência em que ela mostra sua conhecida verve venenosa contra
o marido e seus oponentes nas
intrigas palacianas. E, como objeto pessoal do príncipe regente, um dos destaques é a camisola de cambraia de d. João 6º,
uma espécie de parangolé
"avant la lettre", que vai ter
destaque no prédio principal
do museu de Petrópolis, conhecido por obrigar seus visitantes
a usar pantufas.
Já a obra de Pascoe Granfell
Hill, "Cinqüenta Dias a Bordo
de um Navio Negreiro", é um
relato da experiência a bordo
dos navios negreiros. Também
pertencente ao acervo do museu, o livro já foi publicado pela
José Olympio.
Escrito a partir de uma missão da Marinha britânica enviada para interceptar um navio negreiro, foi incluído na exposição para ampliar a percepção do que significava a experiência da travessia do Atlântico no século 19 e para lembrar
que o Rio de d. João 6º já era um
dos grandes portos escravagistas das Américas.
A diretora do museu, um dos
mais populares do Brasil, está
entre os historiadores que procuram dar uma estatura de estadista para d. João 6º. As exposições foram organizadas com
essa percepção. A instituição
lança este ano um DVD com todo seu acervo iconográfico ligado a d. João 6º (mais de 50 imagens, além de documentos).
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