São Paulo, quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

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Crítica/"Beleza Pura"

Comédia romântica sofre com "tema"

Trama de estréia de Andrea Maltarolli ficaria bem sem a ambição de discutir assuntos da atualidade, mania das novelas

BIA ABRAMO
COLUNISTA DA FOLHA

Emplacar uma novela de cara tem sido uma tarefa bastante árdua nesse quadro geral de perda de audiência da Globo. Fazer isso com uma autora nova e um elenco sem muitas estrelas podem torná-la impossível.
Os dois primeiros capítulos de "Beleza Pura" sugerem, entretanto, que desse quadro de condições adversas talvez possa surgir uma daquelas novelas que vão ganhando o espectador aos poucos. Talvez pelo fato de a autora Andrea Maltarolli estar estreando no horário das sete e no formato novela, as cenas iniciais mostraram despretensão e agilidade.
A trama é centrada num clichê de redenção moral e existencial: Guilherme, o engenheiro simpático-mas-individualista, interpretado por Edson Celulari, empreende uma jornada em direção ao bem depois de ter sua vida transtornada por uma fatalidade. Como prêmio, ele vai ganhar a mocinha da história, Joana, a médica vivida por Regiane Alves. No meio, serão atrapalhados por rivais amorosos -Renato, o médico apaixonado por Joana vivido por Humberto Martins, e a Norma (Carolina Ferraz), engenheira que quer conquistar Guilherme.
O modelo é das comédias românticas hollywoodianas e estaria bem se ficasse nas intrigas amorosas e na transformação existencial que o protagonista deve enfrentar.

Da estética para a ética
Mas o diabo é que se convencionou que as novelas devem ter um "tema" -neste caso, segundo entrevistas da autora que antecederam a estréia, trata-se da "estética como um caminho para a ética" ou algo assim-, e daí pode se temer pelos resultados.
Além de determinar um universo de forma inverossímil e artificial, essa ambição de "discutir" temas contemporâneos acaba servindo de camisa-de-força para o desenvolvimento da narrativa. Os diálogos, que já não são bons, ficam piores, as questões são tratadas no seu nível mais raso etc. Na verdade, o melhor que se pode esperar é que o tema fique ali no fundo, como paisagem, e não atrapalhe muito.
De resto, é fiar-se na supervisão de Silvio de Abreu para garantir a qualidade dos núcleos ou personagens cômicos da novela. O salão de beleza almodovariano da personagem de Zezé Polessa e sua filha desmiolada, a perua obcecada por tratamentos estéticos da ótima comediante Maria Clara Gueiros, prometem.


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