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Crítica/"Beleza Pura"
Comédia romântica sofre com "tema"
Trama de estréia de Andrea Maltarolli ficaria bem sem a ambição de discutir assuntos da atualidade, mania das novelas
BIA ABRAMO
COLUNISTA DA FOLHA
Emplacar uma novela de
cara tem sido uma tarefa bastante árdua nesse
quadro geral de perda de audiência da Globo. Fazer isso
com uma autora nova e um
elenco sem muitas estrelas podem torná-la impossível.
Os dois primeiros capítulos
de "Beleza Pura" sugerem, entretanto, que desse quadro de
condições adversas talvez possa surgir uma daquelas novelas
que vão ganhando o espectador
aos poucos. Talvez pelo fato de
a autora Andrea Maltarolli estar estreando no horário das sete e no formato novela, as cenas
iniciais mostraram despretensão e agilidade.
A trama é centrada num clichê de redenção moral e existencial: Guilherme, o engenheiro simpático-mas-individualista, interpretado por Edson Celulari, empreende uma
jornada em direção ao bem depois de ter sua vida transtornada por uma fatalidade. Como
prêmio, ele vai ganhar a mocinha da história, Joana, a médica vivida por Regiane Alves. No
meio, serão atrapalhados por
rivais amorosos -Renato, o
médico apaixonado por Joana
vivido por Humberto Martins,
e a Norma (Carolina Ferraz),
engenheira que quer conquistar Guilherme.
O modelo é das comédias românticas hollywoodianas e estaria bem se ficasse nas intrigas
amorosas e na transformação
existencial que o protagonista
deve enfrentar.
Da estética para a ética
Mas o diabo é que se convencionou que as novelas devem
ter um "tema" -neste caso, segundo entrevistas da autora
que antecederam a estréia, trata-se da "estética como um caminho para a ética" ou algo assim-, e daí pode se temer pelos
resultados.
Além de determinar um universo de forma inverossímil e
artificial, essa ambição de "discutir" temas contemporâneos
acaba servindo de camisa-de-força para o desenvolvimento
da narrativa. Os diálogos, que já
não são bons, ficam piores, as
questões são tratadas no seu nível mais raso etc. Na verdade, o
melhor que se pode esperar é
que o tema fique ali no fundo,
como paisagem, e não atrapalhe muito.
De resto, é fiar-se na supervisão de Silvio de Abreu para garantir a qualidade dos núcleos
ou personagens cômicos da novela. O salão de beleza almodovariano da personagem de Zezé
Polessa e sua filha desmiolada,
a perua obcecada por tratamentos estéticos da ótima comediante Maria Clara Gueiros,
prometem.
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