São Paulo, quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

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Comida

É imoral e engorda

Musa do "food porn", movimento que mistura erotismo e gastronomia, Nigella estréia programa no GNT; nos EUA, quem apimenta a fantasia dos espectadores é Giada De Laurentiis

Kevin Winter/Getty Images
A musa do "food porn" Nigella Lawson no programa de Jay Leno

EDUARDO SIMÕES
JANAINA FIDALGO
DA REPORTAGEM LOCAL

A mulher de cabelos e olhos negros, seios fartos e corpo calipígio leva o dedo indicador até os lábios carnudos e, com a ponta da língua, lambe, lançando um olhar safado para a câmera. A mulher em questão não é nenhuma estrela de filme erótico. É Nigella Lawson, a cozinheira e apresentadora inglesa, musa maior do "food porn", espécie de movimento de fetichização da comida -que vai da apresentação luxuriante dos pratos às apresentadoras de televisão. E faz sua cama em blogs de gastronomia, vídeos e comunidades na internet, a maioria em inglês.
A sensualidade da cena descrita acima é uma marca registrada de Nigella, que estréia mais um programa, "Nigella Express", no dia 29 deste mês, no canal pago GNT. Afora lamber os dedos, a inglesa por vezes tem sua imagem desfocada no vídeo -como se desse ao espectador espaço para fantasias gastro-libidinosas. E não raro é permissiva e, num arroubo de gula noturna, deixa sua cama para fazer uma boquinha na geladeira. Ou até preparar algo como uma suculenta rabanada com calda de morango, receita exibida em seu novo programa.

Pronta para o forno
Casada com o publicitário Charles Saatchi, dono da galeria londrina que leva seu nome e apadrinhou artistas plásticos como Damien Hirst, Nigella é mãe de duas crianças e filha de Nigel Lawson, barão e ex-membro do parlamento britânico.
Em novembro do ano passado, a cozinheira deu entrevista à edição inglesa da revista "Esquire". O jornalista que a entrevistou abriu a reportagem afirmando que, após apenas três minutos em sua companhia, já estava sofrendo de "sobrecarga sensorial". Em parte por conta do "muffin de banana e manteiga de amendoim" que ela oferecera. E, sobretudo, por seu "decote cavernoso" e "pele de alabastro", atributos que a fazem parecer ter 27, e não 47 anos.
Nigella, que aparece na "Esquire" embalada num vestido tomara-que-caia de papel alumínio e é chamada de a "gostosa da culinária", justifica seu sex appeal: "Eu não sou chef, então só posso cozinhar se experimentar. Realmente não entendo como outras pessoas cozinham sem provar, pois para mim meter o dedo e lambê-lo fazem parte do preparo. Além disso, quando você lida com comida, não está sempre exibindo sua natureza sensual?", indaga.
O chef brasileiro Alex Atala, que em 2006 posou seminu na capa da revista "Trip", diz que a gastronomia está atualmente no centro das atenções, e associá-la ao sexo vende bem. Para Atala, Nigella não chega a ser uma musa. Mas mistura volúpia, com sua "figura meio maternal", e indulgência, ao "levantar no meio da noite só para comer um bolo de chocolate".
"Se pé pode [ser alvo de fetiche], por que comida não pode?", questiona o chef, com uma ressalva para si mesmo. "No D.O.M. temos uma preocupação de sublinhar o prazer de comer, mas não os outros. O que a Nigella vende não é o sexo óbvio. Ela põe uma certa água na boca usando outros artifícios. É, literalmente, uma mulher de peito grande, não tem mais o que falar."

Polpetone
Nigella não é a única musa do "food porn". Nos Estados Unidos, a ítalo-americana Giada De Laurentiis, 37, neta do produtor Dino de Laurentiis e da atriz Silvana Mangano, também confunde os apetites do espectador em seus programas do canal Food Network. Loira de olhos azuis, formada pela famosa escola francesa Le Cordon Bleu, a chef também já fez ensaio sensual para a "Esquire" lambuzada em molho de tomate, dando uma indefectível mordiscada nos dedos.
Em reportagem do ano passado, o jornal "New York Times" comparou o visual de apresentadoras como Nigella e Giada ao estilo provocante e retrô de Marilyn Monroe. Se nos anos 60 as feministas queimaram seus sutiãs, agora é a vez dessas musas atearem fogo aos aventais e adotarem blusas com decote V, muito justas e curtas. Uma guarnição e tanto.


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