São Paulo, sábado, 21 de fevereiro de 1998

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JAZZ
Trombonista, inventor do "souzabone", esteve em São Paulo e registrou músicas para álbum do selo Mix House
Raul de Souza vem ao Brasil gravar CD

CARLOS BOZZO JUNIOR
especial para a Folha

Raul de Souza, 54, carioca, é considerado pela crítica internacional um dos maiores trombonistas do jazz.
Já tocou com Sonny Rollins, Freddie Hubbard, George Duke, Chick Corea, Jimmy Smith e outros que fazem parte do rebanho que reúne as vacas sagradas da arte do improviso.
Um sem-número de participações em discos, além de nove álbuns solos, fizeram desse multiinstrumentista, compositor e inventor do "souzabone" (um trombone elétrico em dó com válvula cromática) merecedor de vários prêmios nacionais e internacionais.
Raul, radicado na França, foi convidado pela produtora musical engenheira de som Cilene Peres para vir ao Brasil e gravar um CD, pelo selo Mix House, nos moldes do grupo liderado por Sérgio Mendes na década de 60, o Sérgio Mendes Bossa Rio, do qual o trombonista participou conquistando um disco de ouro na época.
A Folha acompanhou uma das sessões de gravação realizada no estúdio Mosch, em São Paulo, e entrevistou Raul, que após a gravação retornou a Paris.
O CD, que deve se chamar "Raul de Souza Bossa 2000", deve ser lançado no segundo semestre desse ano.
O repertório inclui oito temas a serem definidos, divididos entre canções de Tom Jobim, Taiguara, Djavan, Toninho Horta e Johnny Alf, entre outros.
Leia a seguir, trechos da entrevista concedida por Souza.

Folha - Por que você mudou do Brasil?
Raul de Souza -
Pelo problema de falta de cultura. O povo sofre uma lavagem cerebral com essas merdas de samba da bundinha, samba de não-sei-de-quê... Aqui o cara passa de palhaço a cantor. O Brasil é um país, uma nação, não é uma província. Ninguém dá valor à música, e música é vida. Um povo sem música não vive, vegeta. Folha - Então, por que gravar no Brasil?
Souza -
Porque fui convidado. E a idéia do CD é muito boa. Fiquei muito atraído pelo fato de gravar músicas do Djavan, do Taiguara e do Jobim, em linguagem instrumental, com músicos excelentes como esses que participam do CD. E, além do mais, vou tocar meu "souzabone".
Folha - Como é a história que aconteceu com você e o Roberto nas filmagens de "Roberto Carlos em Ritmo de Aventura"?
Souza -
(rindo) Eu estava cansado de correr de bandidos o filme inteiro. Aí, houve essa cena, em que o Roberto entrava num carro para fugir dos bandidos... Eu já tinha tomado umas cervejas, e fazia um calor danado, pensei: "Nessa eu não corro mais". Quando gritaram: "Ação!", em vez de sair correndo a pé, entrei com ele no carro, e disse: "Malandro, um rei jamais foge só. Pisa aí" (rindo). Acabei dando uma "canja" no carro.
Folha - O "souzabone" já te deixou rico?
Souza -
Não, porque ainda não encontrei quem o fabricasse. Este aqui (mostrando o instrumento) é o único no mundo, e com ele já gravei muitos discos.



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