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Orquestra de
meninos do
CE lança CD
PAULO MOTA
da Agência Folha, em Fortaleza
A sinfonia fina de uma orquestra
formada por meninos pobres da
periferia de Fortaleza vai poder ser
escutada em todo o país.
No próximo mês, os 80 músicos
da orquestra sinfônica da Escola
de Música do Ancuri, em Fortaleza, iniciam os ensaios para a gravação do seu primeiro CD. O lançamento está previsto para o final do
ano.
A Fundação Cultural da Prefeitura, que mensalmente investe R$
35 mil na escola, deve financiar o
disco. O repertório prevê desde
clássicos como Mozart e Bach, a
nomes da MPB como Luis Gonzaga e Luis Assunção.
O presidente da fundação, Cláudio Pereira, diz que a ``cor local''
dos arranjos criados pelos meninos do Ancuri faz a diferença.
``Recentemente o pessoal da Orquestra da Baviera ouviu a música
deles e ficou maravilhado'', disse.
Criada em 1991 pelo frei franciscano Wilson Fernandes, a escola
difunde música erudita para 180
alunos que moram perto de Ancuri, um dos bairros mais pobres da
periferia de Fortaleza.
O vice-diretor da escola, Josué
Costa, diz que a instituição foi
criada para a visita do papa João
Paulo 2º a Fortaleza, em 1980.
Encarregado pela Igreja de formar uma orquestra para se apresentar exclusivamente para o Papa, Fernandes tentou manter a orquestra funcionando depois da visita, mas teve dificuldades para encontrar músicos em Fortaleza.
``A orquestra morreu dois anos
depois da visita do papa, também
por falta de recursos financeiros.
Em 1991, o frei voltou de um curso
de pós-graduação em música na
França e fundou sua própria escola'', diz Costa.
Na Escola do Ancuri, a idade mínima para matricula é de 6 anos.
Nas aulas, os alunos recebem noções de teoria da música, num curso com duração de seis anos, e audições de músicas clássicas.
Costa diz que a realidade de dificuldades econômicas dos alunos
não interfere na assimilação do
conteúdo. ``Eles estranham no começo, mas, depois, assoviam o bolero de Havel com a mesma naturalidade com que cantam um forró'', diz Costa.
Na área de difusão, a escola mantém uma banda de música com 40
integrantes e uma orquestra de
flautas com 45 componentes.
A regência dos dois grupos e da
orquestra sinfônica é feita por três
ex-alunos da ``orquestra do papa'', que fizeram cursos de
pós-graduação na França.
A manutenção e fabricação de
parte dos instrumentos é feita pelos próprios alunos, numa oficina
anexa à escola.
Os integrantes da banda de música recebem uma bolsa de R$ 250
mensais, mas os componentes das
orquestras nada ganham.
Costa diz que a principal dificuldade da escola é manter os alunos
depois que eles atingem a adolescência.``A pressão da família por
trabalho é grande e muitos abandonam a música'', diz Costa.
A orquestra sinfônica dos meninos do Ancuri não cobra nada por
suas apresentações e costuma se
exibir em praças de bairros populares e instituições de Fortaleza.
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