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POLÍTICA DIGITAL
Claudio Prado fala sobre projeto do MinC de distribuir 262 kits multimídia para regiões carentes do país
"Vamos criar os campinhos de várzea da cultura"
DA REPORTAGEM LOCAL
Alheio à saraivada de balas que
atingiram o Ministério da Cultura
em 2004 por conta da polêmica
Ancinav, um legítimo hippie da
década de 70 arquitetava a entrada do Brasil em uma nova era.
Não a de Aquário, mas a digital.
Coordenador do setor de políticas digitais do MinC, o ex-produtor de Mutantes, Novos Baianos,
dos lendários festivais de Wight,
Glastonbury e de Águas Claras,
Claudio Prado, 61, tem posições
pouco ortodoxas quando o assunto é a crise atual da indústria
fonográfica ("a pirataria é um
apêndice do monopólio"), o impasse nas discussões sobre TV digital ("há uma nova lógica, e há
uma lógica antiga que quer se
manter do jeito que está") e a própria dinâmica dentro do Ministério da Cultura ("ainda se compra
papel carbono no MinC").
Entre os projetos de que participou nos últimos quase dois anos,
desde a criação da Coordenadoria
de Políticas Digitais, no início de
2003, esteve o lançamento nacional das licenças alternativas de direito autoral Creative Commons e
a criação dos Pontos de Cultura,
um dos braços do programa Cultura Viva, que promoverá a doação de "kits de cultura digital"
-computadores, câmeras de vídeo e ilha de edição- para 262
projetos aprovados pelo MinC em
setembro do ano passado.
Na semana passada, o programa, que conta com verba de R$ 37
milhões, firmou uma parceria
com o Ministério das Comunicações para que os conteúdos produzidos nos Pontos de Cultura sejam também distribuídos via internet, rádios e TVs digitais.
Leia a seguir, trechos da entrevista de Prado à Folha.
(DA)
Folha - Que importância você vê
nos Pontos de Cultura?
Claudio Prado - O que a mágica
digital permite é que um moleque
que está lá num estúdio nos Bororos ou na periferia de São Paulo,
onde tiver um Ponto de Cultura,
grave um negócio dele e disponibilize [na internet] no mesmo lugar que o [Gilberto] Gil. O Ponto
de Cultura democratiza a idéia de
estúdio e de rádio. Onde tiver um
pequeno kit multimídia, no Piauí,
haverá um embrião de um estúdio que pode ir ao ar em Tóquio.
Se vai ao ar ou não, isso é outra
questão, mas certamente os chicos sciences da vida vão aparecer
nesses lugares, os talentos vão
passar por ali. Estamos criando os
campinhos de várzea da cultura.
Folha - E como fazer o brasileiro
trocar a bola pelo computador?
Prado - Eu acho que a dificuldade está muito mais no raciocínio
de que você precisa aprender tudo o que não sabe para poder chegar a isso. E não é assim. Se você
enfiar o negócio lá, é fácil: aperta o
botão e gravou. É muito mais fácil
nesses lugares do que num lugar
onde o cara está iniciado. Nossa
idéia é a autonomia, cada ponto
tem que ser dono do seu processo.
O equipamento é doado, e também vamos doar a capacitação,
que gera a autonomia dele e do vizinho dele. Não estamos montando um sistema que está preso a
uma pirâmide e vai depender de
capital federal para manutenção.
Folha - Como implantar isso, considerando que o acesso à internet
no país ainda é escasso?
Prado - Temos um convênio
com o Ministério das Comunicações para que cada Ponto de Cultura tenha uma antena de satélite,
o que não é ideal, mas é uma alternativa para certos lugares onde
outras formas de acesso não são
possíveis. Mas, por trás disso tudo, existe uma luta no sentido de
que exista uma política pública de
banda larga no Brasil. E não acredito que essa política pública possa nascer de outro lugar que não
do governo. É ele que tem que fazer e, obviamente, tem que fazer.
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