São Paulo, quarta-feira, 21 de março de 2007

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Crítica/artes plásticas

Cor é destaque de exposição de Hélio Oiticica em Houston

Museu que comprou coleção de Leiner contribui para institucionalizar artista carioca

ENVIADO ESPECIAL A HOUSTON

"The Body of Color" (o corpo da cor) é o título da exposição do artista carioca Hélio Oiticica (1937-1980), exibida pelo Museum of Fine Arts de Houston -o mesmo que adquiriu a coleção de arte construtiva do colecionador Adolpho Leirner.
A mostra reúne trabalhos produzidos entre 1955 e 1965. É uma exposição ousadamente conservadora e aponta para uma nova fase na ascendente valorização internacional do artista: sua definitiva institucionalização no campo da arte.
Depois da retrospectiva que circulou pela Europa e EUA a partir de 1992, tornou-se claro o caráter de radical experimentalismo do artista. Desde então, museus estrangeiros de grande relevância passaram a correr atrás do prejuízo e a adquirir suas obras. Foram os casos da Tate, de Londres, e do MoMA, de Nova York, que passaram a exibir Hélio Oiticica em suas coleções permanentes.
Oiticica tem sido visto como precursor de processos imersivos e interativos, com obras como as "Cosmococas" ou os "Parangolés", e da crítica ao objeto artístico, por meio da defesa da dissolução da arte em sua inserção no cotidiano.
"The Body of Color", que segue para a Tate Gallery em junho, é uma exposição ousada por caminhar por um viés até então pouco abordado, o rigor formal na pesquisa de Oiticica com a cor. Mas, por isso, é também conservadora, já que de certa forma aloca o artista em um campo do qual ele buscou escapar.
Contudo, esse é apenas o primeiro segmento de uma exposição que deve ter continuidade. Segundo a curadora Mari Carmen Ramírez, a mostra aborda o que ela denomina como o lado "sistemático" de Oiticica. A segunda parte já tem nome, "The Space of Senses" (o espaço dos sentidos), mas não tem ainda previsão para ser concretizada.
Organizada de forma cronológica, a exposição, com 220 trabalhos, grande parte restaurados e inéditos, tem início com obras que faziam parte do Grupo Frente, de 1955 e 1956, mas o destaque é a apresentação por completo da Série Branca, de "Bilaterais", de 1959, nunca apresentada em seu conjunto e seguindo as orientações do artista: deveriam estar dispostas em uma sala cinza claro.
Toda a exposição, aliás, tem uma montagem que respeita as concepções do artista, revelando uma pesquisa detalhada de suas propostas, como apresentar os "Metaesquemas", um impressionante grupo de 49 deles, sem molduras e colocados diretamente na parede.
Sem dúvida, a cor é uma das questões centrais na obra de Oiticica. Mesmo em seus momentos mais radicais, como nos "Parangolés", a curadora enfatiza as texturas que o artista buscava com as cores. Ou então nos "Bólides", realizados de 1963 a 1967 (há 30 deles), nos quais fica clara a importância da cor na poética de Oiticica, mesmo em estado de dissolução, já que muitos dos objetos usados, como garrafas e vasilhas, continham só pigmento -não eram mais formalmente pinturas.
Os trabalhos expostos em "The Body of Color" atestam a tese da curadora, sem violar a obra de Oiticica, mas a formalidade dessa primeira fase obscurece sua radicalidade. Sem a segunda parte prevista, a exposição só institucionaliza Oiticica, obscurecendo seu experimentalismo. Nesse sentido, é o mercado quem mais sai ganhando.
(FABIO CYPRIANO)

THE BODY OF COLOR
Avaliação:
Bom

O jornalista FABIO CYPRIANO viajou a Houston a convite do Museum of Fine Arts


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