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Crítica/artes plásticas
Cor é destaque de exposição de Hélio Oiticica em Houston
Museu que comprou coleção de Leiner contribui para institucionalizar artista carioca
ENVIADO ESPECIAL A HOUSTON
"The Body of Color"
(o corpo da cor) é o
título da exposição
do artista carioca Hélio Oiticica
(1937-1980), exibida pelo Museum of Fine Arts de Houston
-o mesmo que adquiriu a coleção de arte construtiva do colecionador Adolpho Leirner.
A mostra reúne trabalhos
produzidos entre 1955 e 1965. É
uma exposição ousadamente
conservadora e aponta para
uma nova fase na ascendente
valorização internacional do
artista: sua definitiva institucionalização no campo da arte.
Depois da retrospectiva que
circulou pela Europa e EUA a
partir de 1992, tornou-se claro
o caráter de radical experimentalismo do artista. Desde então,
museus estrangeiros de grande
relevância passaram a correr
atrás do prejuízo e a adquirir
suas obras. Foram os casos da
Tate, de Londres, e do MoMA,
de Nova York, que passaram a
exibir Hélio Oiticica em suas
coleções permanentes.
Oiticica tem sido visto como
precursor de processos imersivos e interativos, com obras como as "Cosmococas" ou os "Parangolés", e da crítica ao objeto
artístico, por meio da defesa da
dissolução da arte em sua inserção no cotidiano.
"The Body of Color", que segue para a Tate Gallery em junho, é uma exposição ousada
por caminhar por um viés até
então pouco abordado, o rigor
formal na pesquisa de Oiticica
com a cor. Mas, por isso, é também conservadora, já que de
certa forma aloca o artista em
um campo do qual ele buscou
escapar.
Contudo, esse é apenas o primeiro segmento de uma exposição que deve ter continuidade. Segundo a curadora Mari
Carmen Ramírez, a mostra
aborda o que ela denomina como o lado "sistemático" de Oiticica. A segunda parte já tem nome, "The Space of Senses" (o
espaço dos sentidos), mas não
tem ainda previsão para ser
concretizada.
Organizada de forma cronológica, a exposição, com 220
trabalhos, grande parte restaurados e inéditos, tem início com
obras que faziam parte do Grupo Frente, de 1955 e 1956, mas
o destaque é a apresentação por
completo da Série Branca, de
"Bilaterais", de 1959, nunca
apresentada em seu conjunto e
seguindo as orientações do artista: deveriam estar dispostas
em uma sala cinza claro.
Toda a exposição, aliás, tem
uma montagem que respeita as
concepções do artista, revelando uma pesquisa detalhada de
suas propostas, como apresentar os "Metaesquemas", um impressionante grupo de 49 deles,
sem molduras e colocados diretamente na parede.
Sem dúvida, a cor é uma das
questões centrais na obra de
Oiticica. Mesmo em seus momentos mais radicais, como
nos "Parangolés", a curadora
enfatiza as texturas que o artista buscava com as cores. Ou então nos "Bólides", realizados de
1963 a 1967 (há 30 deles), nos
quais fica clara a importância
da cor na poética de Oiticica,
mesmo em estado de dissolução, já que muitos dos objetos
usados, como garrafas e vasilhas, continham só pigmento
-não eram mais formalmente
pinturas.
Os trabalhos expostos em
"The Body of Color" atestam a
tese da curadora, sem violar a
obra de Oiticica, mas a formalidade dessa primeira fase obscurece sua radicalidade. Sem a
segunda parte prevista, a exposição só institucionaliza Oiticica, obscurecendo seu experimentalismo. Nesse sentido, é o
mercado quem mais sai ganhando.
(FABIO CYPRIANO)
THE BODY OF COLOR
Avaliação: Bom
O jornalista FABIO CYPRIANO viajou a Houston
a convite do Museum of Fine Arts
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