São Paulo, sábado, 21 de março de 2009

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No mundo do príncipe

No Ano da França no Brasil, chegam ao país uma série de lançamentos e uma megaexposição em homenagem ao personagem de Saint-Exupéry

Divulgalção
‘Ela nunca está em casa quando lhe telefono... À noite também ainda não chegou... Não telefona... Estou muito zangado com ela!’, escreve Saint-Exupéry, no livro que sai agora

RAQUEL COZER
DA REPORTAGEM LOCAL

Livro de cabeceira de misses e referência para Paulo Coelho, "O Pequeno Príncipe" deve se tornar onipresente no país neste ano. Uma série de lançamentos e uma megaexposição na Oca, no parque Ibirapuera, celebram a obra infanto-juvenil e seu autor, Antoine de Saint-Exupéry (1900-1944), na esteira do Ano da França no Brasil.
A começar por um conciso volume epistolar, "O Amor do Pequeno Príncipe: Cartas a uma Desconhecida". O livro sai pela Nova Fronteira na próxima semana e mostra o escritor e aviador, no auge de seus 43 anos, usando sua "criança interior" para conquistar uma moça que conhecera na Argélia, durante uma missão de guerra.
Pouco se sabe sobre a destinatária, cuja filha colocou as missivas em leilão em 2007. O certo é que era casada, tinha 24 anos e atuava na Cruz Vermelha -e que não era a mulher de Saint-Exupéry, Consuelo.
Numa das cartas, Saint "Príncipe" Exupéry desenha uma "menininha" para ser sua "amiga como o Pequeno Príncipe", já que a amada não atende a seus chamados. "Ela nunca está em casa quando lhe telefono [...]. Estou muito zangado!".
As cartas foram escritas pouco após a publicação de "O Pequeno Príncipe" (1943) e pouco antes da morte do autor, que entre um e outro desenho participava de ações de guerra -em 1944, seu avião desapareceu; em 2000, um alemão avisou: "Podem parar de procurar. Eu derrubei Saint-Exupéry".
Esse Saint-Exupéry aviador é o destaque de sete relançamentos da Nova Fronteira, começando com "Cartas à Sua Mãe". São romances, volumes epistolares e memórias "que têm uma descrição muito pessoal da guerra", segundo a diretora editorial Izabel Aleixo.

Esboço do príncipe
Outro lançamento prova que o aviador era obcecado fazia tempo pela imagem do menino de cachos indóceis. "A História de uma História" (Pedra n'Água), organizada por Sheila Dryzun, inclui um bilhete de 1940 com um esboço do príncipe, um carneiro e uma rosa.
Dryzun, 58, representante da família de Saint-Exupéry no Brasil, lança em abril a biografia numa caixa com outro título, "Mutirão Poético". Para este, enviou "O Pequeno Príncipe" a "pessoas interessantes", com frases selecionadas, para que escrevessem a partir disso.
Atenderam ao convite Maurício de Sousa, Fernando Meirelles, Luis Fernando Verissimo, Pelé e outros. Rita Lee, por exemplo, escreve que o "Pequeno Príncipe é um grande sábio que sabe que nada sabe, mas continua sempre querendo saber mais". Já Supla inclui uma letra de música própria: "Brave child, wild child, love child".
Mário Prata conta a história de um restaurante perto de sua casa, em Florianópolis, chamado Zé Perry, em homenagem, conforme lhe informou o garçom, "a um piloto francês que adorava vir visitar a ilha".

Exposição
De fato, nomeado diretor da Aeroposta Argentina, empresa embriã da Air France, o aviador esteve em Natal, no Rio e em Florianópolis durante os anos 30. "Em Floripa, ele ia frequentemente com os pescadores tirar as redes da água e bater papo", diz à Folha, da França, François d'Agay, 84, sobrinho de Saint-Exupéry e presidente da associação que cuida de boa parte do legado do escritor.
D'Agay colabora com Sheila Dryzun na organização de "O Pequeno Príncipe na Oca", mostra com montagem de Daniela Thomas e Felipe Tassara, que fará do museu, em outubro, uma espécie de "planeta" do personagem. "Já na entrada o visitante vai deparar com a Paris de 1900, e o subsolo será o deserto do Saara, em que Saint-Exupéry caiu [em 1934]", diz Dryzun. Haverá ainda uma "enorme caixa do carneiro", com desenhos do autor nunca publicados no Brasil, e o Cine Petit, com documentários e filmes baseados na obra dele.
A Agir, que publica "O Pequeno Príncipe" desde os anos 50, já lançou neste ano uma versão em HQ e prepara, para outubro, uma edição em "pop up" (em que as imagens "saltam" conforme se vira as páginas). O livro está na 48ª edição e é o mais vendido da editora -6 milhões de exemplares.


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