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Decifra-me ou te devoro
Sob ameaça de perder audiência
e com o avanço da web, TVs
apostam em conteúdo
multiplataforma
ANDRÉA MICHAEL
COLUNISTA DA FOLHA
De olho no telespectador que
nunca se sentou no sofá -e
atrás daquele que de lá fugiu-,
as emissoras de TV abrem caminho no terreno sem lei da
internet, usam a rede como
vitrine para a programação e despertam para
novos concorrentes
-companhias de telefonia e sites como
Google e Facebook.
"Haverá uma demanda cada vez mais
baixa pela TV aberta
nas novas gerações.
Emissoras tradicionais,
como a Globo, precisarão
mudar suas práticas. O mais
significativo em termos de
mercado é que novas empresas, como as de telefonia, o
Google e o Facebook, terão
uma importância que nunca tiveram," diz Charo Chalezquer,
professora da Universidade de
Navarra (Espanha).
Coordenadora do Fórum Gerações Interativas, ela pesquisa
tendências de comportamento
e consumo de mídia entre jovens ibero-americanos.
Não há, no Brasil, estudos
que identifiquem eventual correlação entre os fenômenos simultâneos da queda de audiência de canais abertos em horário nobre e aumento do público
da internet na última década.
Entre 2001 e 2009, as cinco
maiores emissoras perderam,
juntas, 4,3 pontos de audiência,
o que significa, para a Grande
SP, perder um público de cerca
de 258 mil domicílios.
Por outro lado, conforme dados do Ibope NetRatings, saltou de 4,9 milhões para 28,5
milhões a quantidade de internautas no Brasil nos últimos
nove anos -que passaram a dedicar, em vez de sete, 29 horas
do mês à web.
Os reflexos de tais mudanças
nas perspectivas de investimento em mídia fazem da internet ponto fora da curva. Dados da PricewaterhouseCoopers LLP e da Wilkofsky Gruen
Associates sobre o comportamento do mercado publicitário
na América Latina entre 2009 e
2013 indicam aumento de 1,9%
no bolo publicitário. Mas, se a
análise se detiver à rede, o
acréscimo será de 17,4% -contra 1,4% do que vai para a TV.
Para a Globo, que tem metade da audiência da TV aberta, é
fundamental atrair os jovens.
Sem conquistar tal segmento, a chamada geração digital,
os índices de público da TV
aberta serão proporcionalmente piores no futuro. Diante do
enigma a decifrar, a emissora
foi buscar essa turma na rede.
"Antes, havia horas diferentes para jornal, TV, rádio. Agora, é tudo ao mesmo tempo. A
Globo se firmou nessa mudança ao colocar a TV dentro da rede e a rede na TV. Grande
exemplo é o "Big Brother Brasil'", diz Max Primo, professor
da Universidade Federal do RS.
No programa, a votação dos
internautas é decisiva para eliminar os "brothers". No Twitter, o público troca ideias com o
diretor Boninho e sugere trilhas para as festas do reality.
Mas a regra são exemplos capengas. No SBT, o Twitter aparece na tela no "Esquadrão da
Moda", mas não oferece ao telespectador oportunidade para
interagir de fato.
O mesmo vale para o blog
www.sonhosdeluciana.com.
br, no qual Luciana (Alinne
Moraes), de "Viver a Vida", "recebe" e "responde" mensagens
como se a trama fosse real.
A Globo concebeu a ideia como uma extensão da história,
um espaço para aumentar o envolvimento dos telespectadores. Faz sucesso, mas não é integrativo.
Segundo Joe Michaels, vice-presidente sênior do MSN, essa
vitrine pode até servir como
um começo, mas passará a ser
problema para a televisão caso
a internet seja usada só como
chamariz para a programação.
"O público hoje é capaz de
concentrar a atenção, ao mesmo tempo, em diversas mídias.
Nosso desafio está em entregar
nossos produtos às gerações
interativas no maior número
de plataformas possíveis, como
já fazemos -sempre respeitando a origem do nosso negócio,
que é a TV aberta", afirma
Willy Haas, diretor-geral de comercialização da Globo.
Nesse turbilhão, o valor dos
anúncios será rediscutido. Como diz o professor Marcelo
Coutinho, da Fundação Getúlio Vargas, "está superada a fórmula do custo [da propaganda]
por mil [telespectadores]".
Quanto mais concentrada
for a audiência, mais poder de
cobrar tem a emissora. Por outro lado, o preço do anúncio é
proporcionalmente menor em
mercados fragmentados.
O resultado é que, em 2009,
segundo a Folha apurou, a Globo, dona da metade da audiência, ficou com 73% da verba publicitária de R$ 13 bilhões destinada às TV abertas.
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