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Compositor faz parte do inconsciente coletivo brasileiro
RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
É preciso cautela para ouvir o
samba triste e elegante de Cartola. Você pode achar que está
preparado para a beleza de "O
Mundo É um Moinho", "Peito
Vazio" ou "Acontece". Mas
qualquer desatenção, nem percebe e pronto: emoção querendo vazar do peito.
Com delicadeza forte, Cartola vai no mais profundo de cada
um. Seus sambas lentos e lânguidos, de melodias invulgares
e letras diretas, transbordam
amor e humildade. Os versos
originais e profundamente líricos têm, ao mesmo tempo, melancolia zen e alegria de viver.
Cartola existe no inconsciente coletivo. O pedreiro, guardador, contínuo do morro carioca, boêmio por vocação, talentoso por natureza. De pouca
educação formal, mas com a sabedoria das esquinas da vida.
Sambista que não estudou, mas
admira os melhores poetas.
Fins dos anos 20, Mário Reis
foi ao morro buscar seus sambas. Anos 60, Nara Leão o lançava como novidade. Aos 65
anos, primeiro disco. Décadas
depois, não faltam intérpretes e
ouvintes para suas canções.
Geração após geração, sua
obra continua nosso ideal mais
realizado. Os poucos discos,
gravados nos últimos anos de
vida, são especial pedra de toque para tudo que veio depois.
Quando entraram em estúdio, em 1974, Dino, Meira, Canhoto, Copinha, Marçal, Luna e
Raul de Barros, para gravar um
primeiro LP de Cartola cantando sua música, não podiam
imaginar que, àquela altura, estariam criando os padrões máximos de excelência no samba.
Certa vez, disse que não saía
mais na Mangueira. "Minha escola agora sou eu, meu violão e
minha patroa". Na verdade,
sempre foi. Cartola reside na
sua própria categoria, não vale
dizer que está entre os maiores.
É o parâmetro de maior.
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