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ANÁLISE
No conjunto, diretor é inconstante
INÁCIO ARAUJO
Crítico de Cinema
A Palma de Ouro em Cannes em 1962 não marcou a
carreira de Anselmo Duarte
apenas pelo lado positivo:
"O Pagador de Promessas"
foi visto pelo cinema novo
como uma expressão acadêmica, e Anselmo acabou como uma figura quase marginal da grande década do cinema brasileiro.
Existe certa injustiça nessa
avaliação. Revisto hoje, "Pagador" aparece como um filme sincrético, que herda um
tanto da Vera Cruz, mas associa essa herança à vontade
de mostrar o "Brasil real".
Disso resulta uma narrativa
clássica, mas não acadêmica,
apoiada numa dramaturgia
populista, mas não acrítica.
A leveza e o sentido de observação que caracterizam
"Pagador" já eram perceptíveis em "Absolutamente
Certo", que incorporava ao
cinema a crescente influência da TV. O olhar crítico ganharia maior desenvoltura
em "Vereda da Salvação".
Duarte deve ser compreendido como um cineasta que entende sua arte como grande diversão popular
-nesse sentido, é oposto ao
cinema novo. É nessa direção que se encaminham seus
dois principais trabalhos da
virada de década: "Quelé do
Pajeú" (1969) e "Um Certo
Capitão Rodrigo" (1973).
Apesar do sentido do
grande espetáculo, essas
duas superproduções são
parcialmente frustradas e
não correspondem à expectativa que se poderia ter a
partir dos filmes anteriores.
O retorno aos filmes menores, com "O Crime do Zé
Bigorna" (1977), é um fracasso em toda a linha: não
funciona comercialmente e
deixa a impressão de que
personagens, situações e
enredo têm existência meramente convencional. No ano
seguinte, com "Os Trombadinhas", o diretor encerra
prematuramente uma carreira que começara com a
consagração precoce.
Fazendo um balanço geral,
Anselmo Duarte é um diretor inconstante. Mas isso é
tão frequente entre cineastas
brasileiros que vem ao caso
perguntar o que se deve ao
diretor e o que às fragilidades do cinema nacional e do
próprio Brasil -onde o sucesso é estigmatizado.
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