São Paulo, sexta-feira, 21 de abril de 2000


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ANÁLISE

No conjunto, diretor é inconstante

INÁCIO ARAUJO
Crítico de Cinema

A Palma de Ouro em Cannes em 1962 não marcou a carreira de Anselmo Duarte apenas pelo lado positivo: "O Pagador de Promessas" foi visto pelo cinema novo como uma expressão acadêmica, e Anselmo acabou como uma figura quase marginal da grande década do cinema brasileiro.
Existe certa injustiça nessa avaliação. Revisto hoje, "Pagador" aparece como um filme sincrético, que herda um tanto da Vera Cruz, mas associa essa herança à vontade de mostrar o "Brasil real". Disso resulta uma narrativa clássica, mas não acadêmica, apoiada numa dramaturgia populista, mas não acrítica.
A leveza e o sentido de observação que caracterizam "Pagador" já eram perceptíveis em "Absolutamente Certo", que incorporava ao cinema a crescente influência da TV. O olhar crítico ganharia maior desenvoltura em "Vereda da Salvação".
Duarte deve ser compreendido como um cineasta que entende sua arte como grande diversão popular -nesse sentido, é oposto ao cinema novo. É nessa direção que se encaminham seus dois principais trabalhos da virada de década: "Quelé do Pajeú" (1969) e "Um Certo Capitão Rodrigo" (1973).
Apesar do sentido do grande espetáculo, essas duas superproduções são parcialmente frustradas e não correspondem à expectativa que se poderia ter a partir dos filmes anteriores.
O retorno aos filmes menores, com "O Crime do Zé Bigorna" (1977), é um fracasso em toda a linha: não funciona comercialmente e deixa a impressão de que personagens, situações e enredo têm existência meramente convencional. No ano seguinte, com "Os Trombadinhas", o diretor encerra prematuramente uma carreira que começara com a consagração precoce.
Fazendo um balanço geral, Anselmo Duarte é um diretor inconstante. Mas isso é tão frequente entre cineastas brasileiros que vem ao caso perguntar o que se deve ao diretor e o que às fragilidades do cinema nacional e do próprio Brasil -onde o sucesso é estigmatizado.


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