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CINEMA
Estréia hoje, com Johnny Depp, "O Último Portal", filme do mesmo diretor de "A Morte e a Donzela"
"O inferno são os outros", diz Polanski
JAVIER RIOYO
do "El País"
Ele é genioso e apaixonado.
Nervoso, volúvel, simpático ou irritável em questão de segundos.
Vive feliz em seu retiro em Ibiza,
uma casa projetada pelo arquiteto
catalão Paco de la Guardia de
acordo com os desejos do controvertido diretor. Em uma região
tranquila e luxuosa, no alto de
uma colina, com vista inesquecível para o Mediterrâneo, Roman
Polanski tem seu refúgio de verão,
seu paraíso particular, desde o começo dos anos 80.
Uma residência que mistura o
estilo de Ibiza com reminiscências japonesas ou mexicanas. A
entrevista acontece à beira da piscina, enquanto tomamos chá gelado e comemos torta de maçã, e
sua filha de seis anos solicita a
atenção do pai, e a atriz Emmanuelle Seigner, mulher do diretor,
passa por perto, sem que possamos evitar olhar para a linda francesa. Para ela, somos invisíveis.
Pergunta - Como o senhor
descobriu o livro "El Club Dumas", de Arturo Pérez Reverte,
em que baseia seu novo filme,
"O Último Portal"?
Roman Polanski - Primeiro recebi o roteiro de Enrique Urbizu,
que me pareceu muito interessante. Mais tarde li, em francês, o livro de Pérez Reverte. Gostei muito do texto, me pareceu uma viagem apaixonante, e convidei um
roteirista com quem costumo trabalhar, John Brownjohn. Agora, o
filme está pronto para estrear.
Pergunta - O senhor conhecia
bem a história da Inquisição, o
famoso Santo Ofício, a lenda negra da Espanha?
Polanski - Se conheço? Sabe,
sou diretor de cinema. Acredito
que todo mundo conheça as histórias sinistras da Inquisição. Na
verdade, ela era bastante internacional, também sofremos sua presença na Polônia. Sei que ela começou na Espanha, mas se difundiu bastante, deu-se a conhecer
rapidamente, e muita gente teve
de fugir dela, especialmente os judeus. Ah, e não se esqueça de que
o primeiro grande inquisidor,
Torquemada, era judeu.
Pergunta - Você filmou outra
vez uma história diabólica?
Polanski - Entendo, vejo que
quer me colocar, como todos os
outros, uma vez mais do lado do
diabo. Olha o Polanski lá, com
seus infernos e demônios. Por que
usar a expressão "outra vez"? Isso
é o que dizem de mim na França.
Mas quantos filmes diabólicos dirigi? Não havia diabo em "A Morte e a Donzela" ou em "Tess" ou
em "A Faca na Água".
Pergunta - Eu queria falar do
mal, do metafórico, de homens
enfrentando forças extremas.
Polanski - Por certo, a metáfora
do mal me interessa. É verdade
também que, em "O Último Portal", a presença do diabo é uma
realidade mais precisa. Trata-se
de um livro com o qual se pode
invocar o demônio, e ele é o tema
central do filme. É possível que eu
prefira esses temas. De qualquer
forma, me divertem. Mas não sou
religioso, não sou supersticioso.
Não tenho interesse em metafísica, em esoterismo, mas talvez
possa dizer que são temas que me
divertem de alguma maneira. É
possível que eu tenha de consultar
um psicanalista para saber porque faço filmes desse estilo.
Pergunta - O senhor é racionalista, não acredita no diabo
nem no inferno. Crê que o inferno são os outros?
Polanski - Sim, sempre gostei
dessa frase, o inferno são os outros. É fato, o inferno nem sempre
parece algo metafórico. Eu não
conheço o inferno verdadeiro.
Pergunta - Qual foi o motivo
para que o senhor quisesse
adaptar o texto para o cinema?
Polanski - O que me fascinou
foi a trama do livro, a viagem, a
busca. Em "El Club Dumas", há
diversas intrigas, mas nós elegemos a principal, a história do corso e do livro dos nove portais para
o reino das sombras. Daí vem o título do filme, "O Último Portal",
em lugar de "El Club Dumas",
porque escolhemos só uma das
intrigas para o filme. Preferi me
concentrar na história de um objeto que venero, o livro. É também
um filme de suspense. Há uma
história de investigação, uma trama de filme noir como em "Chinatown". Naquele filme não havia
elementos sobrenaturais, mas tínhamos um detetive particular.
Nesse o temos, igualmente, mas
especializado em investigar livros, um detetive particular especializado em livros antigos.
Pergunta - Você ficou cinco
anos sem filmar. Por que tanto
tempo entre um filme e outro?
Polanski - Quando comecei minha carreira, tudo era mais fácil
no cinema. Agora um projeto pode demorar três ou quatro anos.
O cinema ficou mais caro, os riscos são maiores e é mais difícil
montar um projeto. A tecnologia
mudou muita coisa no cinema.
Tradução Paulo Migliacci
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