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ARTES VISUAIS
Com inauguração hoje, instalação na clarabóia integra exposição comemorativa de três anos do espaço em SP
Nuno Ramos faz chover dentro do CCBB
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
Chove dentro do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), mas a
água que escorre da clarabóia em
uma queda de 20 metros no vão
central do local não é fruto de vazamento, e sim uma das quatro
instalações, a mais impactante,
que o artista plástico Nuno Ramos inaugura hoje, parte integrante das comemorações de três
anos da instituição.
A água, no caso, ganha um caráter purificador: "Esse espaço merece uma lavada, é preciso vencer
seu caráter institucional", afirma
Ramos, 44. Não se trata de uma
crítica direta ao CCBB, mas a uma
relação perversa que, segundo
constata o artista, se desenhou recentemente: "A arte vem sofrendo um processo de institucionalização muito forte. Há um lado
positivo, com recursos generosos,
que criam um artista vitaminado,
mas há também uma falta de conflito perigosa".
Esse caráter ambivalente, de
apontar situações contraditórias
convivendo numa mesma obra,
marca as quatro instalações de
Ramos. Ao redor do cofre do
CCBB, no subsolo, o artista apresenta "Alvorada", envolvendo as
paredes do local com terra e usando a própria terra para escrever
em positivo, de um lado, e negativo, do outro, "Alvorada lá no
morro que", trecho da canção de
Cartola e Elton Medeiros.
A terra, símbolo da segurança e
da estabilidade, torna-se, na posição vertical, um elemento instável, de risco. "A matéria é ambígua, conforme a escala, tento controlá-la, mas nunca perdi a sua literalidade", diz.
Dentro do cofre, há a projeção
de um vídeo, no qual pessoas se
sucedem gritando "alvorada" enquanto recebem um tiro na cabeça. "A morte é um tema presente
nessa mostra. Mas eu a vejo como
possibilidade de reconstrução,
sou um artista da reorganização",
conta Ramos.
Pacificador dos conflitos
Ao reunir materiais com características distintas, caso do mármore aquecido que derrete o
breu, em "Choro Negro", no terceiro andar, o artista se define como uma espécie de pacificador
dos conflitos: "Tudo aqui está em
suspensão, eu busco a conciliação
entre as partes". Já em "Casco",
no segundo andar, o artista apresenta barcos enterrados na areia,
instalação complementada por
um outro vídeo, que tem por tema um naufrágio.
O nome da mostra vem do poema de Carlos Drummond de Andrade, "Morte das Casas de Ouro
Preto", recitado por um coro
masculino por meio de alto-falantes no meio da "chuva". "Ele é o
grande poeta que nós temos, e
creio que minha tarefa é ser um
poeta, o mais claro possível", explica Nuno Ramos.
MORTE DAS CASAS. Mostra com quatro
instalações do artista plástico Nuno
Ramos, que comemora três anos do
espaço. Onde: Centro Cultural Banco do
Brasil (r. Álvares Penteado, 112, centro,
SP, tel. 0/xx/11/3113-3651). Quando:
abertura hoje, às 11h; de ter. a dom., das
10h às 21h. Até 20/6. Quanto: grátis.
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