São Paulo, quarta-feira, 21 de abril de 2004

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ARTES VISUAIS

Com inauguração hoje, instalação na clarabóia integra exposição comemorativa de três anos do espaço em SP

Nuno Ramos faz chover dentro do CCBB

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Chove dentro do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), mas a água que escorre da clarabóia em uma queda de 20 metros no vão central do local não é fruto de vazamento, e sim uma das quatro instalações, a mais impactante, que o artista plástico Nuno Ramos inaugura hoje, parte integrante das comemorações de três anos da instituição.
A água, no caso, ganha um caráter purificador: "Esse espaço merece uma lavada, é preciso vencer seu caráter institucional", afirma Ramos, 44. Não se trata de uma crítica direta ao CCBB, mas a uma relação perversa que, segundo constata o artista, se desenhou recentemente: "A arte vem sofrendo um processo de institucionalização muito forte. Há um lado positivo, com recursos generosos, que criam um artista vitaminado, mas há também uma falta de conflito perigosa".
Esse caráter ambivalente, de apontar situações contraditórias convivendo numa mesma obra, marca as quatro instalações de Ramos. Ao redor do cofre do CCBB, no subsolo, o artista apresenta "Alvorada", envolvendo as paredes do local com terra e usando a própria terra para escrever em positivo, de um lado, e negativo, do outro, "Alvorada lá no morro que", trecho da canção de Cartola e Elton Medeiros.
A terra, símbolo da segurança e da estabilidade, torna-se, na posição vertical, um elemento instável, de risco. "A matéria é ambígua, conforme a escala, tento controlá-la, mas nunca perdi a sua literalidade", diz.
Dentro do cofre, há a projeção de um vídeo, no qual pessoas se sucedem gritando "alvorada" enquanto recebem um tiro na cabeça. "A morte é um tema presente nessa mostra. Mas eu a vejo como possibilidade de reconstrução, sou um artista da reorganização", conta Ramos.

Pacificador dos conflitos
Ao reunir materiais com características distintas, caso do mármore aquecido que derrete o breu, em "Choro Negro", no terceiro andar, o artista se define como uma espécie de pacificador dos conflitos: "Tudo aqui está em suspensão, eu busco a conciliação entre as partes". Já em "Casco", no segundo andar, o artista apresenta barcos enterrados na areia, instalação complementada por um outro vídeo, que tem por tema um naufrágio.
O nome da mostra vem do poema de Carlos Drummond de Andrade, "Morte das Casas de Ouro Preto", recitado por um coro masculino por meio de alto-falantes no meio da "chuva". "Ele é o grande poeta que nós temos, e creio que minha tarefa é ser um poeta, o mais claro possível", explica Nuno Ramos.


MORTE DAS CASAS. Mostra com quatro instalações do artista plástico Nuno Ramos, que comemora três anos do espaço. Onde: Centro Cultural Banco do Brasil (r. Álvares Penteado, 112, centro, SP, tel. 0/xx/11/3113-3651). Quando: abertura hoje, às 11h; de ter. a dom., das 10h às 21h. Até 20/6. Quanto: grátis.


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