MARIO GIOIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Alguns dos primeiros planos de "No Meio", documentário de Fabiano Maciel que passa hoje no canal 605 da DirecTV, exibem marcas muito contemporâneas das metrópoles brasileiras. Ao mostrar as fachadas de prédios da avenida Brigadeiro Faria Lima, as imagens revelam desde tentativas arquitetônicas interessantes, como os grafismos geométricos que se inspiram na tradição construtiva brasileira, até resultados de pleno horror, como edifícios "inteligentes" que mimetizam antigos gêneros, como o neoclássico.
Essa síntese de modos de ver a cidade ganha leitura mais particularizada no documentário, que joga foco sobre o morar e, mais especificamente, em casas.
Baseando sua produção mais em depoimentos, não necessariamente de especialistas, com destaque a moradores de residências "especiais", Maciel parece mais interessado em captar como quem efetivamente vive dentro desses espaços se relaciona com eles, minimizando teorias.
Tal opção tem seus trunfos. Aproxima o espectador médio do documentário, que se torna de fácil compreensão. Ao mesmo tempo, a falta de ousadia -apenas em alguns momentos, como quando o arquiteto carioca Luiz Eduardo Indio da Costa fala sobre a reação dúbia de um cliente frente a um projeto de casa e são apresentados efeitos gráficos que imitam uma casa "ideal", logo sucedidos pela janela de uma residência no Alto de Pinheiros- faz com que o título se aproxime do mais comum da produção televisiva. Há também uma trilha sonora "lounge" que parece frisar uma sensação postiça de elegância.
No entanto, ouvir opiniões como as do bem-humorado Sergio Rodrigues, expoente do design brasileiro, e do arquiteto Ruy Ohtake e sua idéia de integração entre arte e arquitetura tem sua pertinência. Mas faltou algo sobre arquitetura popular, que também tem exemplos de qualidade.