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Galeria reúne modernismo fotográfico
Exposição em SP traz 80 imagens de 24 fotógrafos ligados a fotoclubes espalhados pelo Brasil entre as décadas de 40 e 70
Thomaz Farkas, German Lorca, Eduardo Salvatore e José Yalenti são alguns dos
nomes que têm fotografias presentes na mostra
EDER CHIODETTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Fragmentar, abstrair, recriar
e depurar o mundo visível até
que o mesmo se transforme
num jogo lírico de formas, linhas, sombras e luzes. O dom
de iludir da fotografia é o mote
da mostra "Fragmentos: Modernismo na Fotografia Brasileira", que é aberta hoje, às 11h,
na galeria Bergamin, em São
Paulo.
Com curadoria do fotógrafo
Iatã Cannabrava e assistência
de Verônica Volpato, a exposição traz 80 imagens de 24 fotógrafos que integraram fotoclubes espalhados pelo Brasil entre as décadas de 40 e 70.
Os fotoclubes, que resistem
ao tempo -existem atualmente cerca de 40 deles no país-,
surgiram na Europa e nos EUA
com maior intensidade no início do século 20. Freqüentados
por amadores que se reuniam
para fotografar temas semelhantes, tinham por hábito realizar salões competitivos. Por
muito tempo predominou entre eles a corrente pictorialista,
na qual os padrões da pintura
acadêmica balizavam o julgamento das mesmas.
Se por um lado é certo que essa corrente teria atrasado a
evolução da fotografia como
uma linguagem autônoma,
também é correto pensar que
essa foi a primeira vez em que a
fotografia se libertou do realismo e da obrigação de documentar o mundo para alçar vôos na
direção do imaginário e da abstração. De qualquer forma, a
persistência em imitar os temas e a abordagem da pintura
tornou a produção dos fotoclubes, após algum tempo, retrógrada e repetitiva.
Com o surgimento das vanguardas estéticas, capitaneadas
pelos surrealistas que na década de 20 fizeram uma livre tradução dos ensinamentos de
Sigmund Freud para sacudir as
artes em geral, a fotografia passou a buscar, de fato, sua especificidade e uma autonomia de
expressão como nunca houvera
na história.
Se na Europa esse movimento ocorreu no esteio do manifesto surrealista de 1924, sobretudo na obra de Man Ray, no
Brasil essa onda demoraria
quase 30 anos para chegar e
questionar o tipo de fotografia
praticada nos fotoclubes. Como mostram os pesquisadores
Helouise Costa e Renato Rodrigues no livro "A Fotografia Moderna no Brasil" (Cosacnaify),
essa nova estética chegaria no
Foto Cine Clube Bandeirante,
em São Paulo, pelas mãos do artista Geraldo de Barros (1923-1998), que logo conseguiria novos -e poucos-
adeptos.
O que a presente mostra traz
de novo, após a pesquisa realizada por Cannabrava, é que essas experimentações ocorreram de forma esporádica e em
tempos diferentes, em vários
fotoclubes espalhados pelo
Brasil. Na exposição, há fotógrafos que atuavam em Curitiba, Rio de Janeiro, Londrina e
várias cidades do interior de
São Paulo.
A pesquisa consumiu milhares de ligações telefônicas da
equipe de Cannabrava para localizar familiares de fotógrafos
já mortos.
Em alguns casos, os parentes,
sem conhecer o valor das obras,
guardavam os originais em sacos
de lixo. José Yalenti (1895-1967)
e Paulo Pires são
os dois fotógrafos
com o maior número de obras na
mostra, que também traz nomes
consagrados, como Thomaz Farkas, German Lorca, Gaspar Gasparian e Eduardo
Salvatore e o próprio Geraldo de
Barros, entre outros.
Essa produção
ocorreu de forma
marginal dentro
dos fotoclubes, sob fortes críticas dos conservadores na época. Vistas agora reunidas, em
perspectiva histórica, dão a falsa idéia de um movimento consistente. Não foi.
A turma ligada ao Bandeirante aderiu de forma entusiasmada aos preceitos do concretismo. Mais que uma releitura
tardia do modernismo -a fotografia ficou de fora da Semana
de Arte Moderna de 1922-,
Cannabrava diz que especificamente em São Paulo essas experimentações traduziram de forma precisa o abrupto desenvolvimento urbano e industrial da cidade. "O
experimentalismo tinha como matriz a
mudança comportamental da sociedade",
avalia o curador.
FRAGMENTOS: MODERNISMO NA FOTOGRAFIA BRASILEIRA
Quando: abertura hoje, às
11h de seg. a sex., das 11h
às 19h; sáb., das 11h às
15h; até 26/05
Onde: galeria Bergamin (r.
Rio Preto, 63, SP, tel. 0/xx/11/3062-2333)
Quanto: entrada franca
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