São Paulo, sábado, 21 de abril de 2007

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Galeria reúne modernismo fotográfico

Exposição em SP traz 80 imagens de 24 fotógrafos ligados a fotoclubes espalhados pelo Brasil entre as décadas de 40 e 70

Thomaz Farkas, German Lorca, Eduardo Salvatore e José Yalenti são alguns dos nomes que têm fotografias presentes na mostra


EDER CHIODETTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Fragmentar, abstrair, recriar e depurar o mundo visível até que o mesmo se transforme num jogo lírico de formas, linhas, sombras e luzes. O dom de iludir da fotografia é o mote da mostra "Fragmentos: Modernismo na Fotografia Brasileira", que é aberta hoje, às 11h, na galeria Bergamin, em São Paulo.
Com curadoria do fotógrafo Iatã Cannabrava e assistência de Verônica Volpato, a exposição traz 80 imagens de 24 fotógrafos que integraram fotoclubes espalhados pelo Brasil entre as décadas de 40 e 70.
Os fotoclubes, que resistem ao tempo -existem atualmente cerca de 40 deles no país-, surgiram na Europa e nos EUA com maior intensidade no início do século 20. Freqüentados por amadores que se reuniam para fotografar temas semelhantes, tinham por hábito realizar salões competitivos. Por muito tempo predominou entre eles a corrente pictorialista, na qual os padrões da pintura acadêmica balizavam o julgamento das mesmas.
Se por um lado é certo que essa corrente teria atrasado a evolução da fotografia como uma linguagem autônoma, também é correto pensar que essa foi a primeira vez em que a fotografia se libertou do realismo e da obrigação de documentar o mundo para alçar vôos na direção do imaginário e da abstração. De qualquer forma, a persistência em imitar os temas e a abordagem da pintura tornou a produção dos fotoclubes, após algum tempo, retrógrada e repetitiva.
Com o surgimento das vanguardas estéticas, capitaneadas pelos surrealistas que na década de 20 fizeram uma livre tradução dos ensinamentos de Sigmund Freud para sacudir as artes em geral, a fotografia passou a buscar, de fato, sua especificidade e uma autonomia de expressão como nunca houvera na história.
Se na Europa esse movimento ocorreu no esteio do manifesto surrealista de 1924, sobretudo na obra de Man Ray, no Brasil essa onda demoraria quase 30 anos para chegar e questionar o tipo de fotografia praticada nos fotoclubes. Como mostram os pesquisadores Helouise Costa e Renato Rodrigues no livro "A Fotografia Moderna no Brasil" (Cosacnaify), essa nova estética chegaria no Foto Cine Clube Bandeirante, em São Paulo, pelas mãos do artista Geraldo de Barros (1923-1998), que logo conseguiria novos -e poucos-
adeptos. O que a presente mostra traz de novo, após a pesquisa realizada por Cannabrava, é que essas experimentações ocorreram de forma esporádica e em tempos diferentes, em vários fotoclubes espalhados pelo Brasil. Na exposição, há fotógrafos que atuavam em Curitiba, Rio de Janeiro, Londrina e várias cidades do interior de São Paulo.
A pesquisa consumiu milhares de ligações telefônicas da equipe de Cannabrava para localizar familiares de fotógrafos já mortos.
Em alguns casos, os parentes, sem conhecer o valor das obras, guardavam os originais em sacos de lixo. José Yalenti (1895-1967) e Paulo Pires são os dois fotógrafos com o maior número de obras na mostra, que também traz nomes consagrados, como Thomaz Farkas, German Lorca, Gaspar Gasparian e Eduardo Salvatore e o próprio Geraldo de Barros, entre outros.
Essa produção ocorreu de forma marginal dentro dos fotoclubes, sob fortes críticas dos conservadores na época. Vistas agora reunidas, em perspectiva histórica, dão a falsa idéia de um movimento consistente. Não foi.
A turma ligada ao Bandeirante aderiu de forma entusiasmada aos preceitos do concretismo. Mais que uma releitura tardia do modernismo -a fotografia ficou de fora da Semana de Arte Moderna de 1922-, Cannabrava diz que especificamente em São Paulo essas experimentações traduziram de forma precisa o abrupto desenvolvimento urbano e industrial da cidade. "O experimentalismo tinha como matriz a mudança comportamental da sociedade", avalia o curador.


FRAGMENTOS: MODERNISMO NA FOTOGRAFIA BRASILEIRA
Quando:
abertura hoje, às 11h de seg. a sex., das 11h às 19h; sáb., das 11h às 15h; até 26/05
Onde: galeria Bergamin (r. Rio Preto, 63, SP, tel. 0/xx/11/3062-2333)
Quanto: entrada franca


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