São Paulo, sábado, 21 de abril de 2007

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Obra experimental de Manuel ganha mostra

Artista radicado no Rio, que teve fase marcada pela política, é foco de exposição que comemora aniversário dos seis anos do CCBB-SP

MARIO GIOIA
DA REPORTAGEM LOCAL

O Centro Cultural Banco do Brasil paulistano resume a trajetória de um "herdeiro do neoconcretismo". O artista Antonio Manuel, 59, ganha uma mostra retrospectiva, em que os 70 trabalhos presentes em três andares do prédio atestariam o título dado a ele pelo curador da exposição, Paulo Venancio Filho.
Amigo de Hélio Oiticica (1937-1980) -um dos expoentes do movimento neoconcreto-, Manuel costuma ser vinculado à fase marcadamente política de sua obra, feita entre o final dos anos 60 e o início dos anos 70. Seus provocativos trabalhos eram censurados ou causavam polêmica quando exibidos.
O exemplo mais claro dessa fase é a performance "O Corpo É A Obra" (1970), na qual ele se apresentou nu no MAM (Museu de Arte Moderna) do Rio, em pleno regime militar. A ação foi qualificada pelo crítico Mário Pedrosa como "o exercício experimental da verdade".
Venancio Filho, também crítico e professor da Escola de Belas Artes da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), quer que tal visão seja ampliada. "A obra de Manuel é muito maior que a da sua fase política. Em diversos suportes, ela sempre guarda algo de experimental, que foge da simples razão. Por isso o acho legatário do neoconcretismo mais radical", avalia o curador. "Sua obra é feita de arranques, é como se ele atacasse variados problemas e situações, mas com uma violência lírica."

Montagem
Depois de recente mostra no Gabinete de Arte Raquel Arnaud, terminada em novembro passado, onde mostrou uma instalação e uma série de pinturas -algumas delas estão presentes no CCBB-, a exposição "Fatos" apresenta obras há muito não exibidas em conjunto ou mesmo inéditas.
No terceiro andar do prédio, uma das salas reúne o conjunto "Frutos do Espaço", exibido originalmente no morro da Catacumba, no Rio, em 1980.
As estruturas vazadas em metal se assemelham a páginas de jornais sem notícia alguma.
No chão, pedras espalhadas de forma irregular, com pequenas elevações e declives, ajudam a formar uma sala-instalação.
"A hora da montagem é a que eu mais gosto, pois estabeleço diálogos entre essas estruturas. O público pode interagir com a obra e projetar nesses vazios o que imaginar", diz Manuel.
Os jornais são parte importante de outra famosa série do artista, "Flans" (1968-75), cujos 50 exemplares são reunidos pela primeira vez, segundo o curador. Utilizando matrizes que serviriam para a impressão de páginas, Manuel cria objetos com pequenas "histórias" que cruzam a narrativa cinematográfica e o storyboard de quadrinhos. Na maior parte das obras, as manifestações contra o regime militar são o foco.
No mesmo andar, a instalação "Muros" tem quatro deles, nos quais o espectador tem de passar por buracos feitos nos tijolos. No térreo, a instalação inédita "O Bode", projetada para mostra no MAM do Rio e censurada em 1973, isola o animal em um cercado, ao menos no dia de abertura. Nos dias restantes, um vídeo o substitui.


FATOS - ANTONIO MANUEL
Quando:
abertura hoje, às 15h; de ter. a dom., das 9h às 21h; até 8/7
Onde: CCBB-SP (r. Álvares Penteado, 112, SP, tel. 0/xx/11/3113-3651)
Quanto: entrada franca


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