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Obra experimental de Manuel ganha mostra
Artista radicado no Rio, que teve fase marcada pela política, é foco de exposição que comemora aniversário dos seis anos do CCBB-SP
MARIO GIOIA
DA REPORTAGEM LOCAL
O Centro Cultural Banco do
Brasil paulistano resume a trajetória de um "herdeiro do neoconcretismo". O artista Antonio Manuel, 59, ganha uma
mostra retrospectiva, em que
os 70 trabalhos presentes em
três andares do prédio atestariam o título dado a ele pelo curador da exposição, Paulo Venancio Filho.
Amigo de Hélio Oiticica
(1937-1980) -um dos expoentes do movimento neoconcreto-, Manuel costuma ser vinculado à fase marcadamente
política de sua obra, feita entre
o final dos anos 60 e o início dos
anos 70. Seus provocativos trabalhos eram censurados ou
causavam polêmica quando
exibidos.
O exemplo mais claro dessa
fase é a performance "O Corpo
É A Obra" (1970), na qual ele se
apresentou nu no MAM (Museu de Arte Moderna) do Rio,
em pleno regime militar. A ação
foi qualificada pelo crítico Mário Pedrosa como "o exercício
experimental da verdade".
Venancio Filho, também crítico e professor da Escola de
Belas Artes da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), quer que tal visão seja ampliada. "A obra de Manuel é
muito maior que a da sua fase
política. Em diversos suportes,
ela sempre guarda algo de experimental, que foge da simples
razão. Por isso o acho legatário
do neoconcretismo mais radical", avalia o curador. "Sua obra
é feita de arranques, é como se
ele atacasse variados problemas e situações, mas com uma
violência lírica."
Montagem
Depois de recente mostra no
Gabinete de Arte Raquel Arnaud, terminada em novembro
passado, onde mostrou uma
instalação e uma série de pinturas -algumas delas estão presentes no CCBB-, a exposição
"Fatos" apresenta obras há
muito não exibidas em conjunto ou mesmo inéditas.
No terceiro andar do prédio,
uma das salas reúne o conjunto
"Frutos do Espaço", exibido
originalmente no morro da Catacumba, no Rio, em 1980.
As estruturas vazadas em
metal se assemelham a páginas
de jornais sem notícia alguma.
No chão, pedras espalhadas de
forma irregular, com pequenas
elevações e declives, ajudam a
formar uma sala-instalação.
"A hora da montagem é a que
eu mais gosto, pois estabeleço
diálogos entre essas estruturas.
O público pode interagir com a
obra e projetar nesses vazios o
que imaginar", diz Manuel.
Os jornais são parte importante de outra famosa série do
artista, "Flans" (1968-75), cujos
50 exemplares são reunidos pela primeira vez, segundo o curador. Utilizando matrizes que
serviriam para a impressão de
páginas, Manuel cria objetos
com pequenas "histórias" que
cruzam a narrativa cinematográfica e o storyboard de quadrinhos. Na maior parte das
obras, as manifestações contra
o regime militar são o foco.
No mesmo andar, a instalação "Muros" tem quatro deles,
nos quais o espectador tem de
passar por buracos feitos nos tijolos. No térreo, a instalação
inédita "O Bode", projetada para mostra no MAM do Rio e
censurada em 1973, isola o animal em um cercado, ao menos
no dia de abertura. Nos dias
restantes, um vídeo o substitui.
FATOS - ANTONIO MANUEL
Quando: abertura hoje, às 15h; de ter.
a dom., das 9h às 21h; até 8/7
Onde: CCBB-SP (r. Álvares Penteado,
112, SP, tel. 0/xx/11/3113-3651)
Quanto: entrada franca
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