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Moby lança "carta de amor" à dance de NY
Dizendo-se mais maduro e
sem usar drogas ou beber,
músico relembra "noite
louca" no Brasil em que ficou
maravilhado com Caetano
Para DJ, cidade "não tem nada a ver com os EUA" e "Bush é câncer da América"
DANIEL BERGAMASCO
DE NOVA YORK
Aos 42 anos, tendo acabado
de lançar o álbum "Last Night",
o DJ Moby (Richard Melville
Hall no cartório, Moby por ser
sobrinho-trineto de Herman
Melville, autor do clássico
"Moby Dick") continua gostando de falar. Especialmente de
política: "A administração
Bush é o câncer da América",
diz à Folha, em Manhattan.
Moby diz que amadureceu e
que aprendeu com os abusos da
juventude. "De 1997 até um
mês atrás, eu bebi demais e
usei muitas drogas. Vou tentar
ficar sóbrio em 2008."
"Last Night" é um disco literalmente caseiro, gravado em
sua casa-estúdio em Manhattan, e tido pelo DJ como "uma
carta de amor à dance music de
Nova York". Tem participações
do MC Grandmaster Caz, de
Sylvia, vocalista da banda Kudu, do rapper Aynzli Jones e do
grupo nigeriano de hip hop 419
Squad. Leia abaixo os principais trechos da entrevista.
FOLHA - As duas faixas de hip hop
no seu disco chamam a atenção por
ser um estilo que vende muito hoje
em dia. Embarcou na tendência?
MOBY - É um estilo de música
do qual sempre gostei. E, fazendo essas gravações, quis
soar como música de Nova
York. Você não pode fazer um
álbum inspirado no dance de
Nova York e não ter hip hop.
FOLHA - Você definiu o CD como
uma "carta de amor" a NY. Por quê?
MOBY - É uma carta de amor à
dance music de Nova York. Ela
é multicultural, não tem maiorias ou minorias. Branco, preto,
asiático, latino, todos são bem-vindos. É uma cidade muito tolerante, as pessoas vêm para
NY e podem fazer o que quiserem, podem ser hétero, gays,
cristãs, judias, muçulmanas. É
uma das poucas cidades internacionais. Pagamos impostos
para os EUA, mas Nova York
não tem nada a ver com os
EUA. Os EUA não confiam em
Nova York e vice-versa.
FOLHA - Por quê? Nova York é melhor que os EUA?
MOBY - Ah, é sim. Uma coisa da
qual me orgulho: Nova York é a
única cidade nos EUA que não
tem uma estação de rádio
country ou uma estação especializada em música religiosa. É
uma cidade européia na costa
americana.
FOLHA - Está animado com a eleição presidencial?
MOBY - Sim! Tem duas coisas
boas sobre a administração do
[presidente George W.] Bush. A
primeira é que está quase no
fim. E a segunda é que ele foi
tão ruim que não pode piorar. A
administração Bush é o câncer
da América. A América está em
quimioterapia para se curar de
Bush. Quando ele for embora,
as coisas vão melhorar muito.
FOLHA - Por que você pediu desculpa por ser americano ao presidente
Hugo Chávez, na Venezuela?
MOBY - Porque Bush é um presidente terrível. Não quis dizer
que gosto de Chávez. Eu estava
em Caracas e quase todo mundo me dizia que lá é uma das cidades mais violentas da América do Sul. Gosto de Chávez por razões cômicas, porque algumas coisas que ele diz são muito engraçadas, como quando
ele afirmou que Bush tinha deixado um cheiro de enxofre no
lugar. Mas ele é um déspota, estamos voltando aos tempos de
centralização política na América Latina, e isso é perigoso.
FOLHA - Por que artistas devem
opinar sobre política?
MOBY - [Aparentemente irritado com a pergunta] Bom, todo mundo pode dar sua opinião. Sou bem informado e
educado, todo mundo numa
democracia pode expressar sua
opinião. Para mim, política é
parte importante da vida.
FOLHA - Que lembranças tem das
visitas ao Brasil?
MOBY - Fui ao Brasil várias vezes. Uma das lembranças mais
engraçadas é a de um relógio
que comprei no aeroporto, com
mapa do sistema solar. Você
apertava um botão e ele mostrava quando seria o próximo
eclipse solar, quando o cometa
Halley passaria. Aí perdi o relógio. Custou uns US$ 10 [cerca
de R$ 16,70, mas fiquei triste.
Mas lembro de várias coisas...
FOLHA - Por exemplo...
MOBY - O Brasil é um país
grande, e acho que a maioria
das pessoas não tem essa noção. Conheço pouco da música.
Mas conheço Sepultura, e outro dia estava discotecando
com Iggor [Cavalera, ex-Sepultura, hoje Mixhell]. Claro que
conheço Os Mutantes. E tive
uma noite louca em Belo Horizonte. Fiquei maravilhado com
Caetano Veloso. Fui a uma festa com ele e, mesmo conhecendo sua música e a Tropicália,
não imaginava que ele era essa
lenda. Ele andava pela sala e todo mundo "oh!". Parecia que
era Bill Clinton ou o papa.
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