São Paulo, segunda-feira, 21 de abril de 2008

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Moby lança "carta de amor" à dance de NY

Dizendo-se mais maduro e sem usar drogas ou beber, músico relembra "noite louca" no Brasil em que ficou maravilhado com Caetano

Para DJ, cidade "não tem nada a ver com os EUA" e "Bush é câncer da América"

DANIEL BERGAMASCO
DE NOVA YORK

Aos 42 anos, tendo acabado de lançar o álbum "Last Night", o DJ Moby (Richard Melville Hall no cartório, Moby por ser sobrinho-trineto de Herman Melville, autor do clássico "Moby Dick") continua gostando de falar. Especialmente de política: "A administração Bush é o câncer da América", diz à Folha, em Manhattan.
Moby diz que amadureceu e que aprendeu com os abusos da juventude. "De 1997 até um mês atrás, eu bebi demais e usei muitas drogas. Vou tentar ficar sóbrio em 2008."
"Last Night" é um disco literalmente caseiro, gravado em sua casa-estúdio em Manhattan, e tido pelo DJ como "uma carta de amor à dance music de Nova York". Tem participações do MC Grandmaster Caz, de Sylvia, vocalista da banda Kudu, do rapper Aynzli Jones e do grupo nigeriano de hip hop 419 Squad. Leia abaixo os principais trechos da entrevista.  

FOLHA - As duas faixas de hip hop no seu disco chamam a atenção por ser um estilo que vende muito hoje em dia. Embarcou na tendência?
MOBY
- É um estilo de música do qual sempre gostei. E, fazendo essas gravações, quis soar como música de Nova York. Você não pode fazer um álbum inspirado no dance de Nova York e não ter hip hop.

FOLHA - Você definiu o CD como uma "carta de amor" a NY. Por quê?
MOBY
- É uma carta de amor à dance music de Nova York. Ela é multicultural, não tem maiorias ou minorias. Branco, preto, asiático, latino, todos são bem-vindos. É uma cidade muito tolerante, as pessoas vêm para NY e podem fazer o que quiserem, podem ser hétero, gays, cristãs, judias, muçulmanas. É uma das poucas cidades internacionais. Pagamos impostos para os EUA, mas Nova York não tem nada a ver com os EUA. Os EUA não confiam em Nova York e vice-versa.

FOLHA - Por quê? Nova York é melhor que os EUA?
MOBY
- Ah, é sim. Uma coisa da qual me orgulho: Nova York é a única cidade nos EUA que não tem uma estação de rádio country ou uma estação especializada em música religiosa. É uma cidade européia na costa americana.

FOLHA - Está animado com a eleição presidencial?
MOBY
- Sim! Tem duas coisas boas sobre a administração do [presidente George W.] Bush. A primeira é que está quase no fim. E a segunda é que ele foi tão ruim que não pode piorar. A administração Bush é o câncer da América. A América está em quimioterapia para se curar de Bush. Quando ele for embora, as coisas vão melhorar muito.

FOLHA - Por que você pediu desculpa por ser americano ao presidente Hugo Chávez, na Venezuela?
MOBY
- Porque Bush é um presidente terrível. Não quis dizer que gosto de Chávez. Eu estava em Caracas e quase todo mundo me dizia que lá é uma das cidades mais violentas da América do Sul. Gosto de Chávez por razões cômicas, porque algumas coisas que ele diz são muito engraçadas, como quando ele afirmou que Bush tinha deixado um cheiro de enxofre no lugar. Mas ele é um déspota, estamos voltando aos tempos de centralização política na América Latina, e isso é perigoso.

FOLHA - Por que artistas devem opinar sobre política?
MOBY
- [Aparentemente irritado com a pergunta] Bom, todo mundo pode dar sua opinião. Sou bem informado e educado, todo mundo numa democracia pode expressar sua opinião. Para mim, política é parte importante da vida.

FOLHA - Que lembranças tem das visitas ao Brasil?
MOBY
- Fui ao Brasil várias vezes. Uma das lembranças mais engraçadas é a de um relógio que comprei no aeroporto, com mapa do sistema solar. Você apertava um botão e ele mostrava quando seria o próximo eclipse solar, quando o cometa Halley passaria. Aí perdi o relógio. Custou uns US$ 10 [cerca de R$ 16,70, mas fiquei triste. Mas lembro de várias coisas...

FOLHA - Por exemplo...
MOBY
- O Brasil é um país grande, e acho que a maioria das pessoas não tem essa noção. Conheço pouco da música. Mas conheço Sepultura, e outro dia estava discotecando com Iggor [Cavalera, ex-Sepultura, hoje Mixhell]. Claro que conheço Os Mutantes. E tive uma noite louca em Belo Horizonte. Fiquei maravilhado com Caetano Veloso. Fui a uma festa com ele e, mesmo conhecendo sua música e a Tropicália, não imaginava que ele era essa lenda. Ele andava pela sala e todo mundo "oh!". Parecia que era Bill Clinton ou o papa.


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