São Paulo, terça-feira, 21 de abril de 2009

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NA REDE

Festa da arte

Sites registram em vídeo tudo o que rola em vernissages pelo mundo

SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL

Não era preciso estar lá para saber que a artista britânica Tracey Emin foi de decote abusado à abertura de sua retrospectiva no maior museu de Berna. Nem para conferir os looks que dominaram a festa, entre eles um cinto branco com tachinhas em forma de estrela.
Mesmo sem sentir o gosto do champanhe, virou moda acompanhar vernissages mundo afora pela internet. Sites como We Make Money Not Art, Vernissage.TV e o brasileiro Arteref.com entregam direto de Berlim, Londres, São Paulo e outros pontos tudo o que rolou nas festas dos artistas, além de entrevistas, em estilo MTV, com os nomes do momento.
Relegando obras de arte muitas vezes a um segundo plano, com o foco no colunismo social, os sites acabam dando uma espécie de resumo instantâneo das exposições, em oposição a textos acadêmicos e resenhas tradicionais da imprensa escrita. Tudo isso sem esconder a celebrização que varreu o meio.
"Arte contemporânea é igual moda e música pop", resume Régine Debatty, 37, belga que toca sozinha o we-make-money-not-art.com. "Na concorrência com a internet, as revistas de arte põem na capa gente como Damien Hirst e Takashi Murakami, que viraram estrelas pop, mas eu tento fazer uma cobertura diferente."
Mais perto do glamour, os meninos do www.vernissage.tv, que acaba de postar seu milésimo vídeo, ocupam uma casa do século 14 na Basileia, cidade suíça onde acontece a maior feira de arte do mundo uma vez por ano. Com uma equipe que viaja com frequência a Berlim, Nova York e outros pontos nevrálgicos do mundinho, acabam misturando bem uma cobertura underground com um apanhado de celebridades.
É um tipo de versão em vídeo, um tanto menos ácida, da coluna "Scene & Herd" (trocadilho entre "visto e ouvido" e "cena e rebanho") do site da cultuada revista "Artforum". Mais brando porque acrítico.

Arte não é sexo
"Ficamos atrás e deixamos o público formar a própria opinião", conta Heinrich Schmidt, criador do Vernissage.TV, numa entrevista. "A "Artforum" me faz vomitar", resume Debatty, um tanto mais enfática. "Não diria coisas más sobre um artista que vou acabar conhecendo. Se quisesse muitos acessos ao meu blog, falaria de sexo, não de arte."
Também descartando um possível "complexo de Poliana", Paulo Varella, homem por trás do brasileiro www.arteref.com, diz que dá igual atenção aos figurões e a artistas menos conhecidos, sem julgamento crítico. "Eu procuro não ser tendencioso, porque a gente não tem um padrão definido para arte contemporânea", afirma Varella, 40. "Quem sou eu para chicotear um artista?"
Menos ambicioso, o Arteref.com, que Varella trata como um hobby, tem uma equipe de três pessoas que não saem de São Paulo e acompanham há cinco meses aberturas em galerias da cidade. "Tem gente que joga golfe, gente que joga bola ou monta carros", diz ele. "Eu tenho um site de arte."


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