|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
NA REDE
Festa da arte
Sites registram em vídeo tudo o que rola em vernissages pelo mundo
SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL
Não era preciso estar lá para
saber que a artista britânica
Tracey Emin foi de decote abusado à abertura de sua retrospectiva no maior museu de
Berna. Nem para conferir os
looks que dominaram a festa,
entre eles um cinto branco com
tachinhas em forma de estrela.
Mesmo sem sentir o gosto do
champanhe, virou moda acompanhar vernissages mundo afora pela internet. Sites como We
Make Money Not Art, Vernissage.TV e o brasileiro Arteref.com entregam direto de
Berlim, Londres, São Paulo e
outros pontos tudo o que rolou
nas festas dos artistas, além de
entrevistas, em estilo MTV,
com os nomes do momento.
Relegando obras de arte muitas vezes a um segundo plano,
com o foco no colunismo social,
os sites acabam dando uma espécie de resumo instantâneo
das exposições, em oposição a
textos acadêmicos e resenhas
tradicionais da imprensa escrita. Tudo isso sem esconder a
celebrização que varreu o meio.
"Arte contemporânea é igual
moda e música pop", resume
Régine Debatty, 37, belga que
toca sozinha o we-make-money-not-art.com. "Na concorrência com a internet, as revistas de arte põem na capa
gente como Damien Hirst e Takashi Murakami, que viraram
estrelas pop, mas eu tento fazer
uma cobertura diferente."
Mais perto do glamour, os
meninos do www.vernissage.tv, que acaba de postar seu milésimo vídeo, ocupam uma casa
do século 14 na Basileia, cidade
suíça onde acontece a maior
feira de arte do mundo uma vez
por ano. Com uma equipe que
viaja com frequência a Berlim,
Nova York e outros pontos nevrálgicos do mundinho, acabam misturando bem uma cobertura underground com um
apanhado de celebridades.
É um tipo de versão em vídeo, um tanto menos ácida, da
coluna "Scene & Herd" (trocadilho entre "visto e ouvido" e
"cena e rebanho") do site da
cultuada revista "Artforum".
Mais brando porque acrítico.
Arte não é sexo
"Ficamos atrás e deixamos o
público formar a própria opinião", conta Heinrich Schmidt,
criador do Vernissage.TV, numa entrevista. "A "Artforum"
me faz vomitar", resume Debatty, um tanto mais enfática.
"Não diria coisas más sobre um
artista que vou acabar conhecendo. Se quisesse muitos acessos ao meu blog, falaria de sexo,
não de arte."
Também descartando um
possível "complexo de Poliana", Paulo Varella, homem por
trás do brasileiro www.arteref.com, diz que dá igual atenção aos figurões e a artistas menos conhecidos, sem julgamento crítico. "Eu procuro não ser
tendencioso, porque a gente
não tem um padrão definido
para arte contemporânea",
afirma Varella, 40. "Quem sou
eu para chicotear um artista?"
Menos ambicioso, o Arteref.com, que Varella trata como
um hobby, tem uma equipe de
três pessoas que não saem de
São Paulo e acompanham há
cinco meses aberturas em galerias da cidade. "Tem gente que
joga golfe, gente que joga bola
ou monta carros", diz ele. "Eu
tenho um site de arte."
Texto Anterior: Yeah Yeah Yeahs e TV on the Radio brilham no Coachella Próximo Texto: Quadrinhos: Programa entrevista Mauricio de Sousa Índice
|