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Roberto Carlos faz show preciso e com ótimo astral
Cantor emociona público de 12 mil em sua cidade natal, Cachoeiro de Itapemirim
Em "É Preciso Saber Viver", Rei resgata verso "se o bem
e o mal existem'; apresentação teve bloco com faixas da jovem guarda
SYLVIA COLOMBO
ENVIADA ESPECIAL A CACHOEIRO DE
ITAPEMIRIM (ES)
Tinha tudo para ser uma choradeira só. Aniversário, primeiro show na cidade natal em 14
anos, músicas dedicadas à infância e aos pais, um bolo de
aniversário trazido pelos filhos,
a presença, na plateia, de irmãos, da professora de piano,
de uma das freiras que o educaram. E sobretudo um estádio,
com capacidade para 12 mil
pessoas, lotado de conterrâneos carentes de atenção e admiradoras de longa data.
Só que não foi bem assim
neste primeiro show da turnê
que celebra os 50 anos da carreira do artista. Se os fãs acompanharam Roberto gritando de
modo dramático refrões de hits
como "Te Amo, Te Amo, Te
Amo" ou "Como É Grande o
Meu Amor por Você", Roberto
surgiu com um ótimo astral,
bem-humorado, com sorriso e
olhar matreiros, e determinado
a fazer um show mais competente do que épico.
Não que ele não tenha ficado
emocionado. De modo algum.
Mas o que mais chamou a atenção foram os tantos sinais de
que, agora sim, Roberto se recupera de uma longa depressão
e está animado para quase dois
anos de shows ininterruptos e o
lançamento de novos discos.
Pela primeira vez num show
grande, em muitos anos, desde
que, por conta de superstição
religiosa, havia suprimido palavras de tom negativo de seu repertório, Roberto reagiu. Em
"É Preciso Saber Viver", onde
vinha cantando a construção
absurda "se o bem e o bem existem", ele resgatou o verso original: "se o bem e o mal existem".
Também pela primeira vez
não dedicou abertamente um
show à Maria Rita, sua mulher,
morta em 1999. Ao final, preferiu dizer simplesmente que a
apresentação era "para cada
habitante desta cidade".
Há um mês, quando o projeto
foi anunciado, o cantor já demonstrara estar num novo momento. Fez ironias e disse que
estava a ponto de se dar alta do
tratamento psiquiátrico. A expectativa de muitos é que volte
a incluir no set list "Quero Que
Vá Tudo Pro Inferno", possibilidade que deixou claro que poderá ser concretizada em breve.
A apresentação percorreu as
várias fases da carreira, passando pela roqueira ("É Proibido
Fumar"), a religiosa ("Nossa
Senhora") e a "brega" ("Caminhoneiro"). Mesmo num estádio precário -o do time local
Estrela do Norte-, acompanhado dos músicos com quem
se apresenta nos últimos tempos e tendo de ser orientado
por um teleprompter ou algo
do gênero, ainda assim Roberto
foi arrasador. Sua voz está potente como nunca.
O show começou com um vídeo que mostrou vários momentos da carreira do cantor
até sua entrada com os versos
de "O Portão": "Eu voltei, agora
pra ficar". Na sequência, emendou "Emoções" e "Além do Horizonte", que empolgaram a
plateia. Depois, pegou o violão e
mandou a manjada "Detalhes"
com um tratamento diferente e
criativo, mas que confundiu
quem tentou cantar junto.
Seguiu-se um bloco nostálgico, com "Meu Pequeno Cachoeiro", do poeta local Raul
Sampaio, e canções dedicadas
ao pai, "Meu Querido, Meu Velho, Meu Amigo", e à mãe,
"Lady Laura".
Depois, um romântico-religioso, com destaque para a italianinha "Canzone per Te", e
um focado na jovem guarda, em
que brilhou "Quando" (...você
se separou de mim), de 1967,
que ele não cantava em shows
há mais de dez anos.
Antes do bloco final, o maestro Eduardo Lages puxou um
"Parabéns a Você". Os filhos
Ana Paula, Luciana e Dudu
trouxeram o bolo. Roberto ofereceu uma fatia para alguém no
público e lambuzou-se ao comer um pedaço. "Eu queria que
sempre tivesse bolo", brincou.
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