São Paulo, terça-feira, 21 de abril de 2009

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Roberto Carlos faz show preciso e com ótimo astral

Cantor emociona público de 12 mil em sua cidade natal, Cachoeiro de Itapemirim

Em "É Preciso Saber Viver", Rei resgata verso "se o bem e o mal existem'; apresentação teve bloco com faixas da jovem guarda


SYLVIA COLOMBO
ENVIADA ESPECIAL A CACHOEIRO DE ITAPEMIRIM (ES)

Tinha tudo para ser uma choradeira só. Aniversário, primeiro show na cidade natal em 14 anos, músicas dedicadas à infância e aos pais, um bolo de aniversário trazido pelos filhos, a presença, na plateia, de irmãos, da professora de piano, de uma das freiras que o educaram. E sobretudo um estádio, com capacidade para 12 mil pessoas, lotado de conterrâneos carentes de atenção e admiradoras de longa data.
Só que não foi bem assim neste primeiro show da turnê que celebra os 50 anos da carreira do artista. Se os fãs acompanharam Roberto gritando de modo dramático refrões de hits como "Te Amo, Te Amo, Te Amo" ou "Como É Grande o Meu Amor por Você", Roberto surgiu com um ótimo astral, bem-humorado, com sorriso e olhar matreiros, e determinado a fazer um show mais competente do que épico.
Não que ele não tenha ficado emocionado. De modo algum. Mas o que mais chamou a atenção foram os tantos sinais de que, agora sim, Roberto se recupera de uma longa depressão e está animado para quase dois anos de shows ininterruptos e o lançamento de novos discos.
Pela primeira vez num show grande, em muitos anos, desde que, por conta de superstição religiosa, havia suprimido palavras de tom negativo de seu repertório, Roberto reagiu. Em "É Preciso Saber Viver", onde vinha cantando a construção absurda "se o bem e o bem existem", ele resgatou o verso original: "se o bem e o mal existem".
Também pela primeira vez não dedicou abertamente um show à Maria Rita, sua mulher, morta em 1999. Ao final, preferiu dizer simplesmente que a apresentação era "para cada habitante desta cidade".
Há um mês, quando o projeto foi anunciado, o cantor já demonstrara estar num novo momento. Fez ironias e disse que estava a ponto de se dar alta do tratamento psiquiátrico. A expectativa de muitos é que volte a incluir no set list "Quero Que Vá Tudo Pro Inferno", possibilidade que deixou claro que poderá ser concretizada em breve.
A apresentação percorreu as várias fases da carreira, passando pela roqueira ("É Proibido Fumar"), a religiosa ("Nossa Senhora") e a "brega" ("Caminhoneiro"). Mesmo num estádio precário -o do time local Estrela do Norte-, acompanhado dos músicos com quem se apresenta nos últimos tempos e tendo de ser orientado por um teleprompter ou algo do gênero, ainda assim Roberto foi arrasador. Sua voz está potente como nunca.
O show começou com um vídeo que mostrou vários momentos da carreira do cantor até sua entrada com os versos de "O Portão": "Eu voltei, agora pra ficar". Na sequência, emendou "Emoções" e "Além do Horizonte", que empolgaram a plateia. Depois, pegou o violão e mandou a manjada "Detalhes" com um tratamento diferente e criativo, mas que confundiu quem tentou cantar junto.
Seguiu-se um bloco nostálgico, com "Meu Pequeno Cachoeiro", do poeta local Raul Sampaio, e canções dedicadas ao pai, "Meu Querido, Meu Velho, Meu Amigo", e à mãe, "Lady Laura".
Depois, um romântico-religioso, com destaque para a italianinha "Canzone per Te", e um focado na jovem guarda, em que brilhou "Quando" (...você se separou de mim), de 1967, que ele não cantava em shows há mais de dez anos.
Antes do bloco final, o maestro Eduardo Lages puxou um "Parabéns a Você". Os filhos Ana Paula, Luciana e Dudu trouxeram o bolo. Roberto ofereceu uma fatia para alguém no público e lambuzou-se ao comer um pedaço. "Eu queria que sempre tivesse bolo", brincou.


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