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CINEMA/ESTRÉIAS
Profissionais de companhias de dança de São Paulo comentam novo filme do diretor de "Short Cuts"
Para bailarinos, Altman capta verdades
DA REDAÇÃO
A convite da Folha, alguns diretores, assistentes e bailarinos das
principais companhias de dança
de São Paulo (Balé da Cidade, Stagium e Cisne Negro) assistiram a
"De Corpo e Alma", de Robert
Altman. A idéia era saber se poderiam se identificar com as cenas
do filme. Seria esse um bom retrato do cotidiano dos bailarinos?
Quase sem história, o filme
mostra algumas cenas vivenciadas por bailarinos, como as disputas, a solidão que surge após
um momento de glória no palco,
as flores levadas aos camarins, as
dores no corpo, a relação com o
diretor, aqui interpretado por
Malcolm McDowell (o rosto marcante de "Laranja Mecânica", de
Stanley Kubrick).
Para Hulda Bittencourt, diretora do Cisne Negro, o filme poderia
ter o rótulo de documentário.
"Trata-se do dia-a-dia do Joffrey
Ballet. Não se pode simplesmente
generalizar, a realidade deles é diferente da nossa. Mas, com certeza, é importante ser visto por
quem não é do ramo porque traz
momentos bastante reais", comenta Bittencourt.
Ana Teixeira, bailarina e assistente de direção do Balé da Cidade, acha que a linguagem do filme
será mais bem compreendida por
quem já passou ou passa por isso.
"O filme mostra uma realidade
um pouco arcaica em comparação com a atual, como a relação
com os diretores. Na minha opinião, essa hierarquia mudou muito", comenta.
"Algo que o filme consegue
mostrar muito bem é como os
bailarinos podem ser descartáveis, porque acontece muito isso.
Nós somos uma espécie de vedetes, dos outros e de nós mesmos.
Na hora de ir para um baile, vestimos fantasias. E a vida real é como
o palco, cheia de fantasias", acrescenta Teixeira.
Ricardo Ordoñez, professor do
Ballet Stagium, diz que é muito
grande o vocabulário de situações
dentro de uma companhia de
dança, mas se viu identificado em
muitos momentos. "São tantas as
situações que fica impossível retratar todas. Mas, em geral, muito
do que aparece acontece em grandes grupos", disse.
Muitos riram da cena em que o
elenco faz uma peça de fim de ano
e imitam o diretor e cenas de balés
que dançam. "Aquilo tudo é bastante real, acontece de verdade",
fala Fabiana Fornes, bailarina do
Cisne Negro.
O filme alterna momentos de
extrema beleza, como quando
ocorre uma apresentação ao ar livre, com outras bastante bizarras,
como o show-Broadway do final.
"Tive vontade de entrar debaixo
da cadeira", comenta Bittencourt.
Em apresentações desse tipo,
que ocorrem em praças, parques,
pátios de instituições, os bailarinos são desafiados a dançar em
pisos duros, debaixo de chuva, em
qualquer lugar. "Já aconteceu algo parecido conosco", disse Fornes. Ela completa dizendo que
achou o longa histórico. "É um filme que faz pensar."
Ordoñez fala que uma das cenas
de que mais gostou foi a do trapézio. "Achei muito bem filmada,
bem coreografada, é realmente
belíssima. Sem contar os pés da
bailarina, que são maravilhosos",
disse.
Outros profissionais presentes
não gostaram das cenas em que o
elenco aparece vestido de monstro. E ficaram tristes quando viram um jantar sendo servido em
cima do palco. "Ah, isso não dá",
ouviu-se na platéia durante a exibição do filme.
E o que você gostaria de perguntar a Altman? "Será que essa é visão dele mesmo? Será que se não
tivesse sido encabeçado por alguém o filme teria saído como
saiu? Se ele entrasse sozinho em
uma companhia de dança, como
teria filmado, era isso o que eu
gostaria de perguntar."
Para alguns dos presentes, uma
das falhas é retratar pouco a relação que os bailarinos têm com seu
próprio corpo, além das angústias
que passam devido às limitações
físicas.
No final do bate-papo, ficaram
curiosos para saber como os leigos em dança vão interpretar o filme. "Acho que será muito interessante ver a reação de pessoas que
não convivem com o dia-a-dia do
balé", disse Hulda Bittencourt.
(KATIA CALSAVARA)
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