São Paulo, sexta-feira, 21 de maio de 2004

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"SLOGANS"

Mesmo limitado, filme é hábil ao transmitir sensação de isolamento

FREE-LANCE PARA A FOLHA

Em "Slogans", de Gjergj Xhuvani, a imagem é processada como fóssil. Tratores rústicos, fauna de traço bíblico e interiores de uma escola sucateada indicam passagem para um universo fortemente modelado pelo anacronismo. Explica-se: estamos na ditadura de Enver Honxha, década de 70, Albânia, país no qual aldeões interagem com vestígios arcaicos de estranha Idade da Pedra despótica.
Não à toa, os principais objetos cênicos de "Slogans" são pedras. Com elas, estudantes terão de escrever, artesanalmente, em montanhas, mensagens (slogans) inflamadas de devoção ao partido comunista. Aqui, o contexto toma forma em um território amedrontador. A pequena vila dessa gente está cravada no meio de colinas que parecem duplicatas umas das outras.
"Slogans", feito em 2001, pertence à família cinematográfica dos documentos humanistas programados para não permitir que se arrefeçam memórias de distorções políticas desumanas. Como o recente "Osama" (afegão), são filmes de efeito ressoante na moral ocidental moderna. Obras vistas (e paparicadas) com ternura, sobretudo quando ambientadas nessas zonas "alienígenas", embrutecidas e desalentadas em esqueletos ideológicos e históricos.
De todo modo, "Slogans" é um exemplar dietético da família. A crueldade estatal totalitária e a desumanidade são questões presentes na narrativa, mas surgem adoçadas por um tom de contornos patéticos. Não é exatamente um problema. Grave é quando essas questões estão domesticadas nas caricaturas que são os homens do poder, fantoches de enredo violentamente estereotipados.
Xhuvani é hábil ao relatar, via ferramentas visuais, a dimensão do isolamento. Por outro lado, o texto cambaleia em metáforas, da liberdade e da repressão, imaturas em expressividade. "Slogans" é cinema limitado criativamente, embora deixe escapar um rastro formado por olhares de conteúdo fossilizado relevante.
(CLAUDIO SZYNKIER)


Slogans
Idem
  
Direção: Gjergj Xhuvani
Produção: Albânia/França, 2001
Com: Artur Gorishti, Birce Hasko, Niko Kanxheri
Quando: a partir de hoje no Espaço Unibanco



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