|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"SLOGANS"
Mesmo limitado, filme é hábil ao transmitir sensação de isolamento
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Em "Slogans", de Gjergj Xhuvani, a imagem é processada
como fóssil. Tratores rústicos,
fauna de traço bíblico e interiores
de uma escola sucateada indicam
passagem para um universo fortemente modelado pelo anacronismo. Explica-se: estamos na ditadura de Enver Honxha, década
de 70, Albânia, país no qual aldeões interagem com vestígios arcaicos de estranha Idade da Pedra
despótica.
Não à toa, os principais objetos
cênicos de "Slogans" são pedras.
Com elas, estudantes terão de escrever, artesanalmente, em montanhas, mensagens (slogans) inflamadas de devoção ao partido
comunista. Aqui, o contexto toma
forma em um território amedrontador. A pequena vila dessa gente
está cravada no meio de colinas
que parecem duplicatas umas das
outras.
"Slogans", feito em 2001, pertence à família cinematográfica
dos documentos humanistas programados para não permitir que
se arrefeçam memórias de distorções políticas desumanas. Como
o recente "Osama" (afegão), são
filmes de efeito ressoante na moral ocidental moderna. Obras vistas (e paparicadas) com ternura,
sobretudo quando ambientadas
nessas zonas "alienígenas", embrutecidas e desalentadas em esqueletos ideológicos e históricos.
De todo modo, "Slogans" é um
exemplar dietético da família. A
crueldade estatal totalitária e a desumanidade são questões presentes na narrativa, mas surgem adoçadas por um tom de contornos
patéticos. Não é exatamente um
problema. Grave é quando essas
questões estão domesticadas nas
caricaturas que são os homens do
poder, fantoches de enredo violentamente estereotipados.
Xhuvani é hábil ao relatar, via
ferramentas visuais, a dimensão
do isolamento. Por outro lado, o
texto cambaleia em metáforas, da
liberdade e da repressão, imaturas em expressividade. "Slogans"
é cinema limitado criativamente,
embora deixe escapar um rastro
formado por olhares de conteúdo
fossilizado relevante.
(CLAUDIO SZYNKIER)
Slogans
Idem
Direção: Gjergj Xhuvani
Produção: Albânia/França, 2001
Com: Artur Gorishti, Birce Hasko, Niko
Kanxheri
Quando: a partir de hoje no Espaço
Unibanco
Texto Anterior: "Viva Voz": Comédia burlesca de Paulo Morelli sofre com linguagem publicitária Próximo Texto: "Falando de Sexo": John McNaughton faz estréia chocha no mundo da comédia Índice
|