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CANNES 2004
"Diários de Motocicleta" ganha prêmio latino, enquanto festival aguarda nova produção de Wong Kar-wai
Em dia morno, Salles confirma favoritismo
SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A CANNES
No "day after" da exibição de
"Diários de Motocicleta" para os
jurados, a imprensa e os convidados, o longa-metragem de Walter
Salles ainda foi o principal assunto do Festival de Cannes.
Em parte porque o diretor brasileiro foi escolhido pelo cineasta
italiano Gillo Pontecorvo para receber o Prêmio Cidade de Roma
- Arco-Íris Latino, criado em 2002
no Festival de Veneza pelo diretor
de "Queimada" (1969).
Todos os anos desde então, o
troféu é entregue pelo Instituto
Internacional para Cinema e Audiovisuais de Países Latinos, presidido por Pontecorvo, para o que
é considerado por eles o melhor
filme de qualquer mostra -seja
oficial ou paralela- dos principais festivais de cinema europeus
(Cannes, Veneza e Berlim). ""Diários" não cai na sedução fácil das
ideologias, antes nos faz lembrar
do espírito pioneiro que se perdeu", disse Pontecorvo. "Adelante, Walter!"
O prêmio veio engrossar a safra
de frutos que o brasileiro Walter
Salles e sua equipe colhiam a partir da boa recepção que "Diários"
teve anteontem e enquanto
"2046", do favorito Wong Kar-wai, não era exibido na mostra cinematográfica.
A primeira sessão em Cannes
dessa produção de temática futurista foi finalmente confirmada
para ontem, às 19h30 locais
(14h30 de Brasília), depois de ter
suas sessões diurnas canceladas,
devido a um atraso nas filmagens,
que levaram três anos para serem
concluídas.
Houve ainda uma série de boas
críticas, encabeçadas pela imprensa britânica ("Diários" recebeu quatro de cinco estrelas possíveis do "Times" de Londres e foi
definido como a "dica quente"
para a Palma de Ouro deste ano
pelo "Guardian"), seguidas pela
italiana e pelo "New York Times",
que chamou a obra de Salles de
"uma lírica e apaixonada narrativa de viagem".
Recepção francesa
Os franceses foram mais mornos, especialmente o "Libération", que considerou o filme "superficial", embora conceda que
pode estar perto da premiação
máxima "ou ao menos de um prêmio de interpretação masculina
para Gael García Bernal". Já o "Le
Monde" de hoje, que saiu ontem à
noite, elogia o filme já em sua primeira página.
O mesmo ocorre nas revistas especializadas, que soltam edições
diárias consumidas avidamente
pelos jogadores que importam
em Cannes.
O painel de críticos internacionais da "Screen" de ontem trazia
"Diários" em segundo lugar, atrás
apenas de "Olhe para Mim", da
francesa Agnès Jaoui, e à frente
dos outros 13 avaliados. Em reportagem na primeira página, a
revista de cinema afirma: ""Motocicleta" aumenta a velocidade de
um Cannes combalido. Filme de
Salles é dos poucos a realmente se
manter de pé".
Decepção na disputa
Enquanto isso, a competição
oficial pela Palma de Ouro mostrou mais dois filmes entre a noite
de anteontem e a manhã de ontem (agora, permanecem inéditos
apenas o longa de Wong Kar-wai
e o telefilme "The Life and Death
of Peter Sellers", de Stephen Hopkins, mais conhecido por dirigir
episódios da telessérie "24 Horas", que tem exibição agendada
para hoje). Pois o resultado foi decepcionante.
"Ghost in the Shell 2 - Innocence", do cineasta japonês Oshii
Mamoru, não surpreendeu como
prometia. Pelo contrário, deu
uma sensação de déjà-vu ao misturar um enredo que lembra muito o de "Blade Runner" (1982), de
Ridley Scott. Aqui, ele fala sobre
Batou, um ciborgue em crise existencial, com uma estética que
avança muito pouco em relação
ao original de 1995.
Já "Clean" é o mais normal -e
sem graça- da carreira do diretor francês Olivier Assayas ("Destinos Sentimentais", "Demonlover" e "Alice e Martin").
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