São Paulo, sexta-feira, 21 de maio de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MÚSICA

Uruguaio tem canção na trilha sonora do filme "Diários de Motocicleta"

Jorge Drexler mostra sua identidade pop hoje em SP

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Jorge Drexler é uruguaio e, de tanto visitar o Brasil, aprendeu a falar um ótimo português. Apesar da vizinhança e da afinidade, sua música de levada pop e letras poéticas teve de passar por Espanha e Estados Unidos antes de ter a chance de chegar aqui.
Após se radicar em Madri, há nove anos, ele começou a ter alguma entrada no mercado americano e a chegar a ouvidos de músicos brasileiros. A boa acolhida resulta agora no lançamento pela Warner nacional de seu último disco, "Eco", e em shows no Rio (anteontem) e em São Paulo (hoje no Sesc Vila Mariana).
"Estranho não é eu cantar pela primeira vez no Brasil. Estranho é eu ter essa oportunidade. São poucos os músicos uruguaios ou espanhóis que conseguem", diz Drexler, 40.
Ele estréia aqui também impulsionado por "Al Otro Lado del Río", a música que toca no final de "Diários de Motocicleta", o filme de Walter Salles. Drexler fez a canção sob encomenda do cineasta, que lhe telefonou dizendo ter todos os seus discos (com "Eco", totalizam sete).
O músico pretende ver o longa no Brasil e brinca com o fato de não ter incluído "Al Otro Lado del Río" no seu último CD: "Esse meu tino comercial vai acabar com a minha carreira".
Mas a música estará no show de hoje, assim como as duas gravadas por Moska no CD "Tudo Novo de Novo": "La Edad del Cielo" e "Dos Colores: Blanco y Negro".

Convidados
O show deve ter a participação de Moska, assim como de outros músicos-fãs brasileiros: Celso Fonseca, Ramiro Musotto e Marcos Suzano, que toca em quase todas as faixas de "Eco". Drexler tocará guitarra e comandará um aparelho de sampler.
A ligação do Brasil com o disco também está presente na epígrafe, retirada de "Futuros Amantes", de Chico Buarque: "... Futuros amantes, quiçá/ se amarão sem saber/ com o amor que eu um dia/ deixei pra você".
"Na década de 1970, eu ouvia muito [os discos] "Construção", que é um dos maiores discos da história, e "Meus Caros Amigos". Naquele mundo excessivamente politizado, o Chico era um oásis de musicalidade, porque suas canções não eram meramente politicas", afirma o músico.
Caetano Veloso e Gilberto Gil completam a trinca brasileira que fez boa parte da cabeça musical do artista vizinho. O primeiro é lembrado em "Eco" na canção "Don de Fluir", variação de "Dom de Iludir", de Caetano.
O segundo é uma influência mais conceitual. Tendo exercido a medicina por três anos antes de se profissionalizar como músico, Drexler credita à sua formação acadêmica o desejo de juntar ciência e arte em seu trabalho, como fez Gil em "Quanta".
"Repare que [a canção] "Todo se Transforma" está baseada na lei de Lavoisier ["Nada se cria, tudo se transforma'], mas, assim como "Eco", tem essa crença na eternidade de um sentimento de que fala "Futuros Amantes". E "Guitarra y Vos" começa com "que viva la ciencia, que viva la poesía!". Procuro integrar as coisas", explica Drexler.
Integrar é fundamental para ele, um neto de judeu polonês fugido da Segunda Guerra Mundial, filho de um judeu alemão com uma "uruguaia da terra" e pai de um espanhol de seis anos.
"Identidade é um tema fundamental para mim. Mas sem confundir identidade com exclusão, como tem acontecido nos Estados Unidos, na Espanha, em vários lugares. É incrível ver que, no atentado de Madri de 11 de março, morreram pessoas de 17 nacionalidades. Não dá mais para esconder essa multiculturalidade", diz o cantor.


JORGE DREXLER. Quando: hoje, às 20h. Onde: Sesc Vila Mariana (r. Pelotas, 141, Vila Mariana, São Paulo, tel. 0/xx/11/ 5080-3000). Quanto: de R$ 2,50 a R$ 5.


Texto Anterior: Ruído: Djavan, 55, decreta independência total
Próximo Texto: Crítica: Cantor e Bajofondo evocam lamúrias platinas
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.