|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MÚSICA
Uruguaio tem canção na trilha sonora do filme "Diários de Motocicleta"
Jorge Drexler mostra sua identidade pop hoje em SP
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Jorge Drexler é uruguaio e, de
tanto visitar o Brasil, aprendeu a
falar um ótimo português. Apesar
da vizinhança e da afinidade, sua
música de levada pop e letras poéticas teve de passar por Espanha e
Estados Unidos antes de ter a
chance de chegar aqui.
Após se radicar em Madri, há
nove anos, ele começou a ter alguma entrada no mercado americano e a chegar a ouvidos de músicos brasileiros. A boa acolhida resulta agora no lançamento pela
Warner nacional de seu último
disco, "Eco", e em shows no Rio
(anteontem) e em São Paulo (hoje
no Sesc Vila Mariana).
"Estranho não é eu cantar pela
primeira vez no Brasil. Estranho é
eu ter essa oportunidade. São
poucos os músicos uruguaios ou
espanhóis que conseguem", diz
Drexler, 40.
Ele estréia aqui também impulsionado por "Al Otro Lado del
Río", a música que toca no final
de "Diários de Motocicleta", o filme de Walter Salles. Drexler fez a
canção sob encomenda do cineasta, que lhe telefonou dizendo ter
todos os seus discos (com "Eco",
totalizam sete).
O músico pretende ver o longa
no Brasil e brinca com o fato de
não ter incluído "Al Otro Lado del
Río" no seu último CD: "Esse meu
tino comercial vai acabar com a
minha carreira".
Mas a música estará no show de
hoje, assim como as duas gravadas por Moska no CD "Tudo Novo de Novo": "La Edad del Cielo"
e "Dos Colores: Blanco y Negro".
Convidados
O show deve ter a participação
de Moska, assim como de outros
músicos-fãs brasileiros: Celso
Fonseca, Ramiro Musotto e Marcos Suzano, que toca em quase todas as faixas de "Eco". Drexler tocará guitarra e comandará um
aparelho de sampler.
A ligação do Brasil com o disco
também está presente na epígrafe,
retirada de "Futuros Amantes",
de Chico Buarque: "... Futuros
amantes, quiçá/ se amarão sem
saber/ com o amor que eu um dia/
deixei pra você".
"Na década de 1970, eu ouvia
muito [os discos] "Construção",
que é um dos maiores discos da
história, e "Meus Caros Amigos".
Naquele mundo excessivamente
politizado, o Chico era um oásis
de musicalidade, porque suas
canções não eram meramente politicas", afirma o músico.
Caetano Veloso e Gilberto Gil
completam a trinca brasileira que
fez boa parte da cabeça musical
do artista vizinho. O primeiro é
lembrado em "Eco" na canção
"Don de Fluir", variação de "Dom
de Iludir", de Caetano.
O segundo é uma influência
mais conceitual. Tendo exercido a
medicina por três anos antes de se
profissionalizar como músico,
Drexler credita à sua formação
acadêmica o desejo de juntar
ciência e arte em seu trabalho, como fez Gil em "Quanta".
"Repare que [a canção] "Todo se
Transforma" está baseada na lei
de Lavoisier ["Nada se cria, tudo
se transforma'], mas, assim como
"Eco", tem essa crença na eternidade de um sentimento de que fala
"Futuros Amantes". E "Guitarra y
Vos" começa com "que viva la
ciencia, que viva la poesía!". Procuro integrar as coisas", explica
Drexler.
Integrar é fundamental para ele,
um neto de judeu polonês fugido
da Segunda Guerra Mundial, filho
de um judeu alemão com uma
"uruguaia da terra" e pai de um
espanhol de seis anos.
"Identidade é um tema fundamental para mim. Mas sem confundir identidade com exclusão,
como tem acontecido nos Estados
Unidos, na Espanha, em vários lugares. É incrível ver que, no atentado de Madri de 11 de março,
morreram pessoas de 17 nacionalidades. Não dá mais para esconder essa multiculturalidade", diz
o cantor.
JORGE DREXLER. Quando: hoje, às 20h.
Onde: Sesc Vila Mariana (r. Pelotas, 141,
Vila Mariana, São Paulo, tel. 0/xx/11/
5080-3000). Quanto: de R$ 2,50 a R$ 5.
Texto Anterior: Ruído: Djavan, 55, decreta independência total Próximo Texto: Crítica: Cantor e Bajofondo evocam lamúrias platinas Índice
|