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LIVROS
ROMANCE
Clássico juvenil do escritor húngaro Ferenc Molnár ganha nova edição
"Meninos da Rua Paulo" não envelhece e dá aulas a adultos
Divulgação
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Ferenc Molnár (1878-1952), autor de "Os Meninos da Rua Paulo" |
MARCELO COELHO
COLUNISTA DA FOLHA
O ideal é ler este livro com 11
ou 12 anos -foi o que aconteceu comigo- e, se possível, esquecê-lo, para que o prazer de
uma releitura tardia seja tão intenso quanto o que tive nesta última semana.
Publicado pela primeira vez em
1907, "Os Meninos da Rua Paulo"
não envelhece nunca. Mas sinto
certa dificuldade em apontar as
razões de seu encanto permanente. Afinal, pode-se atribuir a este
clássico juvenil do húngaro Ferenc Molnár (1878-1952) a suspeita intenção de educar os adolescentes para as belezas da honra,
do cavalheirismo, do sacrifício e
do companheirismo militar
-virtudes que, como nota Nelson Ascher no posfácio desta edição, os horrores da Primeira
Guerra Mundial, e de tudo o que
veio depois, haveriam de rapidamente colocar em descrédito.
Acontece que o livro é e não é
uma história de guerra. Está em
jogo a disputa de um terreno baldio. De um lado, os garotos da rua
Paulo, que sempre usaram o tal
terreno para suas brincadeiras.
De outro, a turma do Jardim Botânico, sob a liderança de Chico
Áts, com os temíveis irmãos Pásztor ao seu lado. Tudo começa
quando o grupo de Chico Áts resolve humilhar os meninos da rua
Paulo e tomar conta do local de
suas brincadeiras habituais.
Uma briga de gangues juvenis,
então, em torno de uma reles
questão de território. Mas caracterizar assim o romance de Molnár equivale a uma traição. Por
outro lado, dizer que a briga dos
adolescentes assume dimensões
épicas e grandiosas não seria incorreto, seria também uma infidelidade ao tom da narrativa.
Desde a primeira cena do romance, tudo assume um espírito
ao mesmo tempo sério e irônico,
carinhoso e grave, para o qual há
poucos equivalentes na história
da literatura.
Estamos nos 15 minutos finais
da aula. A classe se agita. A vontade de todos é sair correndo: há um
sopro de liberdade no ar. Nada
mais diverso do que o início,
igualmente realista, de "Madame
Bovary", onde Flaubert mostra a
chegada de um aluno novo, o pobre Charles Bovary, na classe que
se encarrega de esmagá-lo à força
de gozações sem fim. O poder esmagador da coletividade, que fascinava Flaubert, se transforma
aqui em espaço de celebração e
amizade.
A passagem do horário de aula
para o recreio é também a passagem da vida infantil para a vida
adulta. Os meninos da rua Paulo
disputam seu lugar de brincadeiras como se fossem homens feitos. Personagens inesquecíveis
-o líder Boka, o falso Geréb, o
pequeno Nemecsék- vivem entre a imaginação infantil e a descoberta de novas responsabilidades éticas.
A habilidade da narrativa está
em mostrar ao mesmo tempo a
leveza, a espontaneidade inocente
das atitudes dos garotos, e a profundidade moral e política das situações em que estão envolvidos.
Qualquer adulto tem muito a
aprender com essas crianças; não
tem como não se divertir, e comover-se imensamente também.
Os Meninos da Rua Paulo
Autor: Ferenc Molnár
Tradução: Paulo Rónai
Revisão de tradução: Aurélio Buarque
de Hollanda
Quanto: R$ 25 (256 págs.)
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