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ENSAIO/"ÉPURAS DO SOCIAL"
Obra discute o papel dos intelectuais
GILBERTO FELISBERTO VASCONCELLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA
"É puras do Social" é um bazar crítico onde o leitor encontrará quase de tudo sobre cultura brasileira. Escrito com apuro
e requinte, repleto de centenas de
citações, este livro de maturidade
de Joel Rufino dos Santos (a maturidade, essa terrível prenda, como poetou alguém) lida basicamente com duas coisas entrelaçadas: os pobres e os intelectuais. O
principal objeto da reflexão da
obra é o povo, o oprimido, o explorado, o pobre, ou melhor: os
pobres que sustentam os ricos. E
pobreza (a falta do necessário) difere da miséria em que a privação
é absoluta.
Segundo Rufino, a arte ou a literatura apreende melhor o que é a
pobreza no Brasil do que a sociologia ou a história, embora ele seja
um excelente historiador dos ex-escravos e seus descendentes, nos
quais se encontra a gênese da
atual pobreza generalizada.
Rufino não é desses sociólogos
chatos que desconfiam da expressão como se algo que esteja bem
escrito carecerá de gnose, isto é,
de conhecimento. Convém deixar
claro: Rufino é um escritor da pesada. Afinal, quem são os pobres?
São os despossuídos, os desclassificados, obrigados a se virar, a
correr atrás, que não conseguem
se assalariar nem arrumar emprego fixo, são os destituídos de território. O agravante disso é que as
privatizações converteram todos
os brasileiros em pobres desterritorializados. A verdade é que somos todos palestinos.
Este livro de Rufino merece a
atenção das pessoas de bem por
ter sido mentalizado sob o signo
da inquietude: um livro que levanta inúmeros problemas e
questões do capitalismo videofinanceiro. A fim de acabar com a
existência do intelectual espúrio
que joga no time dos ricos e dos
poderosos, Rufino teoriza um intelectual para pobres, mas não
embarca na esparrela retórica sobre os "excluídos" e a "exclusão".
O intelectual para pobres quer
se olhar no espelho e não se sentir
envergonhado. É o desdobramento do intelectual iracundo de
que falava mestre Darcy Ribeiro.
Por causa dessa filiação ideológica
soa estranho e incompreensível
Rufino se valer da anfibologia do
"populismo", principalmente depois que o arsenal da maldade
acadêmica deitou e rolou com a
morte do caudilho Leonel Brizola.
Trata-se de um esforço notável
para tirar o intelectual da lama. A
figura do intelectual no Brasil está
mais suja do que pau de galinheiro. O intelectual se desmoralizou
como um burocrata indiferente à
miséria que o cerca num país ocupado pelo imperialismo. Intelectual de outra estirpe, o lance de
Rufino é pensar o povo e o país,
com o objetivo de eliminar a pobreza.
O que deveria ser motivo de reflexão para as esquerdas é a idéia
de Rufino sobre o trabalhador da
cultura como uma estratégia inteligente de oxigenar o Ministério
da Cultura, ou seja: "O objetivo
principal de uma política cultural
de um governo de esquerda seria
transferir renda, sob a forma de
bens culturais, para os pobres".
Aliás, esse livro traz um belo roteiro para um ministro da Cultura
que esteja antenado no brasileiro
como o melhor produto do Brasil.
Gilberto Felisberto Vasconcellos é
professor de ciências sociais na Universidade Federal de Juiz de Fora e autor de
"A Salvação da Lavoura" (Casa Amarela)
Épuras do Social
Autor: Joel Rufino dos Santos
Editora: Global
Quanto: R$ 35 (256 págs.)
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